Projeto social ressignifica cicatrizes de mulheres através das tatuagens
150 mulheres já foram atendidas gratuitamente; o público-alvo são mulheres com cicatrizes de vítimas de violência doméstica e de cirurgias mal feitas
Foto: Divulgação/Projeto We Are Diamonds
Algumas mulheres que foram vítimas de violência doméstica, de doenças ou de cirurgias mal feitas estão tendo uma oportunidade de ressignificar suas cicatrizes através da tatuagem. O projeto social 'We Are Diamonds' já fez mais de 150 tatuagens em mulheres que queriam camuflar suas marcas.
O projeto fechou parcerias com o Projeto Bastê, que apoia vítimas de violência doméstica, com o Projeto Driblando o Câncer, do Instituto Brasil + Social, e com a ONG GAMA (Grupo de Amparo Momento de Amar). Assim, as mulheres assistidas por essas instituições também podem fazer tatuagens gratuitamente.
Uma dessas mulheres foi a funcionária pública Talita Lins, de 35 anos. Em 2017, ela foi vítima de ferimentos causados pelo seu então companheiro. A mulher e sua filha foram empurradas ao chão, e uma porta de vidro se espatifou contra ela. "Esta foi a última das inúmeras agressões que passei", lembra. O resultado, além do trauma psicológico, foram as cicatrizes em seu braço.
"Costumo sempre dizer que minhas feridas e cicatrizes não vão me impedir de sonhar. Sempre quis ter uma tatuagem, então vou usá-la para ressignificar tudo o que passei", diz Talita. E na última segunda-feira (7), Talita deu um passo à retomada de sua vida. Momentos antes de ser tatuada, ela disse que não temia sofrer com a agulha. "A tatuagem é que vai dar um novo significado à minha dor", disse.
Projeto We Are Diamonds
O Projeto We Are Diamonds foi criado em 2017 pela tatuadora Karlla Mendes e tem o objetivo de cobrir as cicatrizes de mulheres que sofreram marcas provenientes de violência doméstica, queimaduras e cirurgias mal feitas, entre outros casos. A tatuadora é também a responsável por escolher quem irá receber as tatuagens, realizando a triagem das histórias que recebe pelo site do projeto e pelas instituições parceiras.
Karlla é especialista na JewerlyTattoo - suas tatuagens sempre possuem desenhos com joias e pedras preciosas. O que era apenas um estilo, virou a marca do projeto. "O diamante mostra nossa resiliência e a necessidade de sempre estarmos nos lapidando", diz a profissional, com mais de 20 anos de carreira.
A tatuadora conta que a procura por tatuagens para cobrir cicatrizes tem crescido tanto que ela não está dando conta da demanda, e está desenvolvendo um workshop dirigido a tatuadores, onde ensina a sua técnica. Ela ressalta que o processo exige técnica, tempo e experiência, e que a tatuagem só é feita após autorização do médico das pacientes. "Também tenho um médico em minha equipe para avaliar as cicatrizes", explica.
Para Karlla, poder ajudar as pessoas a superar seus traumas é a sua motivação. "Estou doando parte de minha arte e talento para amenizar a dor das mulheres, devolvendo-lhes a autoestima e a vontade de viver", diz.