PT vê ano eleitoral como risco a acordo com Motta e tenta antecipar votação para vaga no TCU
Em 2024, o então presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o atual, Hugo Motta (Republicanos-PB), acertaram que ajudariam o PT a eleger um representante para o tribunal

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
VICTORIA AZEVEDO E RAPHAEL DI CUNTO
O PT atua na Câmara para antecipar a escolha para a próxima vaga no TCU (Tribunal de Contas da União) e tentar garantir o cumprimento de um acordo firmado na eleição para a presidência da Casa. A estratégia é realizar a votação ainda este ano, para evitar que o tema seja contaminado pelo debate eleitoral de 2026, quando a maioria dos deputados tende a concorrer contra o governo Lula (PT).
Em 2024, o então presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e o atual, Hugo Motta (Republicanos-PB), acertaram que ajudariam o PT a eleger um representante para o tribunal em troca do apoio para a candidatura do atual chefe da Casa. O alagoano confirmou o acerto em entrevista à Folha de S.Paulo.
Outros partidos grandes, como União Brasil e PSD, no entanto, não participaram desse acordo e afirmam que terão candidaturas próprias. Pelo menos cinco deputados já se movimentam nos bastidores.
A vaga será aberta em fevereiro de 2026 com a aposentadoria do ministro Aroldo Cedraz, e há divergências sobre o momento da escolha do sucessor. O PT defende realizar a votação antes, enquanto outros candidatos rebatem que isso só é possível quando o TCU notificar a Câmara da vacância.
Petistas e líderes do centrão dizem que, por ora, o acerto está mantido. Parlamentares ouvidos pela reportagem, no entanto, afirmam que a grande insatisfação dos deputados com o PT e com o Palácio do Planalto pode prejudicar ou até mesmo inviabilizar o acordo. Por isso, há um pedido de petistas para que o assunto seja tratado ainda neste ano. O recesso parlamentar começa em 23 de dezembro.
Como revelou a Folha de S.Paulo, Motta rompeu com o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ). Aliados próximos do presidente da Câmara falam em um clima muito ruim com o Executivo. Eles acusam o governo do não cumprimento de acordos, sobretudo no pagamento de emendas, e falam que houve atuação do Palácio do Planalto para desgastar a imagem da Casa junto à opinião pública.
Hoje, o candidato do PT é o deputado Odair Cunha (MG), que foi líder do partido no ano passado e um dos articuladores do apoio da sigla à candidatura de Motta. Odair é próximo de lideranças do centrão, como o próprio Motta e o líder do PP, Doutor Luizinho (RJ). É considerado de perfil moderado, aberto ao diálogo e com trânsito entre os diferentes partidos, o que diminuiria as resistências da oposição.
Segundo um deputado que acompanha as conversas, um grupo de petistas e integrantes do centrão se reúne periodicamente para tratar de temas políticos, entre eles a indicação ao TCU. De acordo com ele, os parlamentares monitoram e contabilizam os votos que Odair tem na Casa.
Há hoje, disse esse mesmo parlamentar, apoio suficiente para eleger o petista, com cerca de 270 votos. Ele ressalta, porém, que é preciso acompanhar o tema de perto. Para ser aprovado, o nome indicado precisa ter a maioria dos votos (257) em turno único e votação secreta. O escolhido precisa também do aval do Senado.
Um líder do centrão diz que, por ele, o acordo está mantido. Afirma, no entanto, que há o risco de Odair virar "um novo Jorge Messias", em referência às dificuldades que o chefe da AGU (Advocacia-Geral da União) enfrenta no Senado para ter seu nome aprovado a uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
Ele comenta que, assim como Messias corre risco de ser rejeitado por um fator político, o mesmo poderá ocorrer com Odair se não houver um distensionamento da relação da Casa com o Planalto.
Outro cardeal do centrão diz que não vê clima favorável para aprovar um nome do PT. Ele afirma que Motta tem afirmado que quer cumprir o acordo, mas enxerga dificuldades em convencer os parlamentares.
Aliados de Odair dizem que ele tem apostado no discurso de que a vaga ao TCU é um tema da Câmara e não uma disputa entre governo e oposição.
Além disso, eles lembram que o deputado tem procurado se afastar de polêmicas entre o governo e o Congresso e feito gestos à cúpula da Câmara. Odair, por exemplo, foi um dos 12 deputados do PT que votaram a favor da PEC da Blindagem, o que causou desgaste na opinião pública e para o próprio governo.
Eles também afirmam acreditar que o acerto será mantido, já que diz respeito à eleição de Motta para a Câmara e não às circunstâncias políticas atuais. A vaga é vitalícia, com aposentadoria compulsória aos 75 anos, salário de R$ 41,8 mil mensais e poder para decidir sobre contratos e licitações do governo.
O acordo foi fechado com os partidos que apoiaram Motta desde o primeiro momento na disputa: PP, Republicanos, MDB, PL, Podemos, PSDB-Cidadania, PDT e PSB, entre outros.
No PSD e União Brasil, que mantiveram candidaturas à sucessão de Lira e não participaram do acerto, os que se movimentam pela vaga são Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Danilo Forte (União Brasil-CE) e Hugo Leal (PSD-RJ).
Danilo Forte diz que a conta de que Odair possuiria 270 votos é "faraônica" e que o debate não começou de verdade. "Ninguém vê a perspectiva de votar no candidato do governo. O PT sempre foi contra o calendário de pagamento das emendas [parlamentares] e contra a autonomia do Parlamento."
Deputados da oposição dizem que o grupo também poderá lançar um candidato. Nos bastidores, é citado o nome de Hélio Lopes (PL-RJ), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Aliados de Odair também defendem atuar no convencimento do ministro Augusto Nardes, do TCU, para que ele antecipe sua aposentadoria, prevista para 2027. Isso porque, com duas vagas abertas, seria mais fácil emplacar o nome do PT em uma delas. A outra poderia ficar para o centrão.


