Relativismo moral e indignação seletiva: as marcas do feminismo na TV
A lei moral que não é igual para todos e a hipocrisia
Foto: Agencia Brasil
Uma sequência de dois programas, exibidos na segunda e terça-feira dessa semana dão o tom – no primeiro dia, o assunto foi o goleiro Bruno, o mandante do assassinato da ex-namorada e mãe do seu filho, Eliza Samudio; na sequência, uma extensa matéria gravada num presídio feminino. Vamos lá...
A reportagem transmitida no Bahia Meio Dia de 06/01 tratou da polêmica notícia de que o clube de futebol Fluminense de Feira estaria interessado na contratação de Bruno, ex-presidiário e, dando seguimento, mostrava opiniões divididas do público a respeito. Não obstante, a apresentadora do programa fez uma efusiva e apaixonada – até certo ponto legítima – manifestação contrária à aquisição do jogador. Segundo a mesma, a contratação “colabora com a ideia de que matar mulheres é permitido, desde que você cumpra a sua pena ou parte da pena, como é o caso de Bruno, pode viver sua vida normalmente” e, prossegue, “não, gente, não pode... assim, quando a gente condena judicialmente, mas tolera socialmente a convivência, o recado dado é que aquela atitude não é tão grave”. Bom, até então não me parece que divirja da opinião de mais de 90% da sociedade. Então, qual o problema?
No dia seguinte, curiosamente (apenas para os que acreditam em coincidência), a reportagem principal se deu num presídio feminino, onde diversas presas, muitas delas autoras de crimes bárbaros, comparáveis ao de Bruno, foram entrevistadas e, além de mostrarem arrependimento, exibiam ainda seus dotes para ofícios aprendidos na cadeia, num misto de romantização do crime com a docilidade da mulher que o comete por falta de opção!? Uma delas foi entrevistada dentro de uma biblioteca, onde se exibiam milhares de livros detrás. Outra entrevistada dizia, em tom choroso, que não era justo passar 20 anos encarcerada. Ora, qualquer neófito bacharel em Direito sabe que, muito dificilmente, algum detento hoje ultrapassa os 6 anos em regime fechado. Em suma, a reportagem enaltecia a importância da ressocialização da mulher presidiária, apelando para o lugar-comum: o sentimentalismo.
Sim, você não leu nada errado. Eu, por estar de férias e na academia durante o horário desse péssimo jornal, tive o desprazer de vê-lo duas vezes consecutivas, numa interminável sessão de tortura, regada ao contorcionismo moral da apresentadora para endeusar numa o que demonizara noutro apenas um dia antes. O relativismo, tão próprio do feminismo, faz-se presente de longa data nesses jornalecos vomitadores da hegemonia pseudocientífica cristalizada em nossas universidades por obra dos seus intelectuais orgânicos. A rudeza e dureza da condutora do programa com o criminoso, inequívocas na edição anterior, cederam espaço à condescendência e à generosidade com as criminosas, refletindo outro traço do feminismo: sua inexorável indignação seletiva, expressa nesse episódio pela desfaçatez da defesa da ressocialização dos escolhidos.
Bernardo Guimarães Ribeiro, autor de Nadando Contra a Corrente e membro fundador do Instituto Antonio Lacerda.