Resgatados de situações análogas à escravidão em vinícolas do RS são realocados para fazendas na Bahia
Projeto "Vida Pós Resgate" busca reintegrar trabalhadores em atividades no campo, porém execução enfrenta desafios
Foto: MTE
O projeto "Vida Pós Resgate", criado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem como objetivo reintegrar trabalhadores resgatados de situações análogas à escravidão em vinícolas do Rio Grande do Sul no trabalho do campo, em culturas orgânicas sem uso de agrotóxicos e organizados em forma de associações. A renda virá da produção de leite e da venda de carnes. O projeto é financiado com recursos de indenizações por danos morais coletivos das ações judiciais movidas contra as empresas flagradas com o trabalho análogo ao escravo.
Dos 194 trabalhadores baianos que retornaram ao estado após o episódio no Sul, está previsto que pouco menos da metade seja assentada nas fazendas. O projeto já está em fase inicial de assentamento em quatro cidades da região Sisaleira da Bahia: Serrinha, Conceição do Coité, Monte Santo e São Domingos.
Embora o projeto seja visto com entusiasmo, sua execução está em andamento, o que tem gerado ansiedade nos trabalhadores, que precisam pagar suas contas. A assistência social é responsável pela emissão de documentos dos trabalhadores resgatados e alguns estavam sem identidade. Além disso, uma pesquisa do projeto mostrou que as pessoas continuam em empregos precários após serem resgatadas do trabalho análogo à escravidão.
A Bahia registrou 248 resgates de trabalhadores em situação análoga à escravidão neste ano, dentro e fora do estado, sendo o maior número dos últimos três anos. No total, 207 trabalhadores foram encontrados em situação degradante em um alojamento da empresa Fênix, em Bento Gonçalves, na serra gaúcha. A empresa prestava serviço às vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton.
Apesar das vinícolas afirmarem que estão tomando medidas para evitar novos episódios como o de fevereiro, uma pesquisa realizada pelo projeto mostra que as pessoas continuam em empregos precários após serem resgatadas do trabalho análogo à escravidão. Entre os baianos que foram encontrados nas vinícolas, apenas sete conseguiram voltar ao mercado de trabalho com carteira assinada até o momento.