RS ainda tem moradores em barracas e sem luz um mês após enchentes
Na última semana, governo começou a construir 'cidades provisórias' para atender desabrigdos
Foto: Agência Brasil
Após perder a casa no início de maio com a enchente do rio Taquari, no município gaúcho de Cruzeiro do Sul (a 120 km de Porto Alegre), o reciclador Caetano Giovanella, 67, passou o último mês inicialmente em um Fiat Uno e, depois, em uma barraca de acampamento, que recebeu como doação.
Ele não foi para um abrigo porque não desejava abandonar seus animais -seis cachorros e duas cabras. Dormir dentro de carros ou barracas foi o que restou para parte da população afetada pelas enchentes.
"Apareceu bicho abandonado demais aqui. Graças a Deus o pessoal tem trazido ração. Eu trato, gosto dos bichinhos", afirmou o reciclador em entrevista à Folha de S.Paulo na quinta-feira (6), antes de ele encontrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Giovanella estava entre os ex-moradores que receberam o petista no bairro Passo de Estrela, dizimado pela fúria do Taquari em Cruzeiro do Sul. Além de ficar sem a casa, o reciclador também perdeu seu galpão de reciclagem na catástrofe.
"Foi tudo", diz. "O bairro era ótimo, me criei aqui. A gente sente ao ter que sair. Vamos tomar outro rumo, mas é penoso."
O caso do reciclador é um dos exemplos das incertezas que afetam gaúchos cerca de um mês após o início das enchentes. Eles não sabem quando terão novas casas ou quando poderão retornar para as antigas moradias.
O eletricista aposentado Vergílio Dirceu de Castro, 75, teve a residência afetada pela cheia do rio Jacuí na região do balneário Porto Ferreira, no município de Rio Pardo (a 90 km de Cruzeiro do Sul e a 150 km de Porto Alegre).
Segundo ele, o telhado foi danificado, e apenas duas geladeiras foram salvas no endereço.
Além das perdas materiais, outro obstáculo que dificulta o processo de volta para casa é a ausência de serviços básicos, como o fornecimento de luz em parte da região após a enchente, diz o morador.
Na manhã desta sexta-feira (7), técnicos trabalhavam no conserto de postes e fios da rede elétrica do balneário. Conforme balanço divulgado pelo governo gaúcho na quarta (5), o estado tinha "apenas casos pontuais" de falta de luz.
"Não sei se em 90 dias consigo voltar para casa. Tomara que consiga antes", afirma Castro.
O eletricista estima que, antes da enchente, em torno de 40 famílias viviam no balneário Porto Ferreira. A região era ponto de lazer e descanso às margens do rio Jacuí antes da cheia.
Com a casa atingida pela enchente, Castro procurou alojamento na residência de um amigo que vive perto dali. Ele diz que os moradores vêm se ajudando após a tragédia ambiental.
"O gaúcho precisa se abraçar em uma desgraça assim."