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Saudade de João

Por Pacheco Maia

Por Da Redação
Ás

Saudade de João

Foto: Reprodução

Por Pacheco Maia

João se foi... Justamente quando se celebra os 60 anos de seu primeiro álbum: “Chega de Saudade”. Ainda bem que a obra desse baiano de Juazeiro está eternizada nas gravações que fez ao longo de seus 88 anos de vida.
Curiosamente, o tempo de sua vida, 88, representa também o infinito. Realmente é infinita a admiração que tenho por esse artista.
A primeira vez que ouvi falar o nome dele foi na infância. Certamente o ouvira cantar em alguma radiola, mas o nome sendo destacado como alguém importante foi no rádio, engraçado, numa partida de futebol. 
Era o meu Bahia enfrentando o Palmeiras, de Luiz Pereira.
O narrador bairrista elogiava a atuação do becão, lembrando que ele (Luiz Pereira) era de Juazeiro, terra também de João Gilberto. 
Que Ivete Sangalo... Não devia ter nascido ainda. 
João Gilberto era o maior orgulho de Juazeiro da Bahia. 
Clássico e craque zagueiro, que vestiu a camisa canarinho, Luiz Pereira também era lembrado.
Mas João Gilberto era o mito. Em meados dos anos 1970, quando associei o nome à arte, ele ainda estava vivendo fora do Brasil. Depois dos Estados Unidos, viveria no México e voltaria ao Brasil em 1979. 
O retorno de João coincidia com a abertura, a anistia, a volta dos exilados. Ele saíra e voltava por vontade própria. 
Nada de ideologia. Arte, pura arte. E das mais refinadas.
 Naquele ano de 1979, a Rede Tupi de Televisão, dos Diários e Emissoras Associados, agonizava. 
Mas foi ela que transmitiu o show da volta de João Gilberto. Eu vi pela TV Itapoan, com aquela imagem muito longe da perfeição da performance do artista genial.
João e sua música entravam definitivamente na vida daquele adolescente magrelo e cabeludo. 
Eu sempre o ouvia nos momentos de paixão pelas garotas que não me davam bola mas me inspiravam a escrever minhas percepções românticas da vida. 
A batidinha do violão e: “Vou te contar/Os olhos já não podem ver/Coisas que só/ O coração pode entender/Fundamental é mesmo o amor/É impossível ser feliz sozinho˜.
“Wave”. Tom Jobim pode até ser o autor dessa canção. Para mim, ela sempre foi e será de João Gilberto. Ela integra o álbum “Amoroso”. Que disco!!!
Não sei quantas inúmeras vezes ouvi este LP todo excelente. Deixava o braço que apoiava o disco de forma que ficasse a repetir o mesmo lado direto. Só me levantava para virar o lado e também ouvi-lo muitas vezes. 
 
“‘S Wonderful”, “Estate”, “Tin Tin Por Tin Tin”, “Zingaro”, “Besame Mucho”, Wave, Caminhos Cruzados e Triste. São oito pérolas do cancioneiro mundial, lapidadas pelo gênio da Bossa Nova.
“Amoroso” é o meu preferido. Mas todos, se não me engano, 20 álbuns gravados por João Gilberto são obras primas. Amo todos. 
 Mas a glória, a epifania, foi em 2008, vê-lo ao vivo, no Teatro Castro Alves. Naquele ano, ele havia se apresentado em São Paulo e uns babacas o vaiaram, porque não estavam preparados para estar com um deus. 
Aqui ele foi superdoce e carinhoso com a plateia. E olha que rolou ventinho na cabeça dele...
Salve, João!!! Caymmi, Ary, Noel, Chet Baker, Charlie Parker e todos os deuses da música estão a lhe aguardar no céu para um samba session...

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