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Sexta-Feira Santa: Por que muitas pessoas não comem carne vermelha nesta data?

Ao Farol da Bahia, padre Ricardo Henrique explica de onde vem a tradição

Por Emilly Lima
Ás

Sexta-Feira Santa: Por que muitas pessoas não comem carne vermelha nesta data?

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Qualquer pessoa, seja cristão ou ateu, já ouviu falar da tradição de não comer carne durante esse período. Além da Quarta-Feira de Cinzas, outra data muito pertinente, onde se exclui o consumo de carnes vermelhas é a Sexta-Feira Santa, data que relembra da crucificação de Jesus Cristo e marca sua morte no Calvário. Ao Farol da Bahia, o padre Ricardo Henrique, da Paróquia São Paulo Apóstolo, explica que esse tipo de gesto é uma preparação para vivenciar a dor de Cristo. 

"Nós cristãos não comemos a carne vermelha por ser o dia da Paixão. A gente se prepara porque é um dia de meditar a morte, a dor de Jesus e também a gente come o peixe por ser um alimento mais acessível e que substitui a carne com facilidade. Mas, na tradição cristã, o símbolo do peixe é o símbolo da vida porque o peixe vive na água e a água é símbolo da vida renovada. No cristianismo primitivo, o peixe também é identificado pelos cristãos porque nós somos renovados na água do batismo”, pontua o sacerdote. 

“O comer o peixe no sentido mais comum do que nós vivemos hoje tem essa tradição do comer peixe, mas esse é um alimento que substitui mais fácil a carne. Aqui no Brasil se tornou uma grande tradição”, acrescenta.

Na Semana Santa, uma prática muito comum entre os fiéis é o jejum, mas o padre explica que o jejum não significa deixar de comer e ficar com fome, mas sim eliminar vícios ou coisas que não te fazem mais bem. “Com relação ao jejum, não há proibição direta sobre não comer animal. Tem muita gente que decide cumprir o jejum e ficar sem comer ou só comer pão e água, mas na Bíblia, o jejum simboliza um momento de purificação. O jejum é uma forma de oração que você prepara, que é chamada de “exercício quaresmal”, que lhe prepara com dignidade para que a pessoa possa entender que nós somos frágeis.  Nós encontramos no jejum, casos mais exigente e mais breves porque tem muita gente que tem restrição médica sobre alimentação. Mas também há outro jejum que não é de comida. É o jejum moral, jejum de falar mal do outro, jejum de eliminar coisas que não te fazem mais bem. No fundo, o jejum é para afastar um vício e não para fortalecê-lo. Esse é um exercício muito difícil", explica o sacerdote.

A geógrafa Daiane Lima, de 24 anos, é uma das fiéis que realiza o jejum nesse período da Semana Santa. Segundo explica, ela não deixa de se alimentar, mas abre mão de comer fartura e alimentos considerados mais caros. Além disso, também cumpre fielmente a recomendação de não comer carne vermelha nas sextas-feiras, entre o período da quaresma e a Páscoa. "Nesse período eu como somente o básico, sem fazer luxos ou comer algo que desejo muito, como pizza, por exemplo. É um sacrifício mínimo diante do que Jesus Cristo fez, mas cumpro com a minha parte. Nesse tempo de quaresma também comemos peixe todas as sextas-feiras, ao invés da carne. Na minha casa, essa proteína só volta a ser consumida após a Pascoa", disse à reportagem.

Além de excluir as carnes vermelhas do cardápio, na Sexta-Feira Santa os fiéis e simpatizantes da tradição são orientados pela Igreja a seguir algumas recomendações. “A Sexta-Feira da Paixão especificamente é o dia em que a Igreja em todo o mundo não se celebra a Missa. Só há a celebração da Paixão e não temos sacramentos nesse dia porque nós estamos contemplando a morte de Jesus. A Igreja orienta aos fiéis que eles também possam se resguardar no sentido mais profundo do silencio, na meditação, intensificar as orações neste dia pela Paixão e também se atentar a alimentação. A alimentação também está ligada à questão religiosa, então manter a sobriedade neste dia e não comer carne vermelha são algumas dessas recomendações para seguir o preceito de que estamos em comunhão com a morte do Senhor”. 

O padre explica, ainda, que toda e qualquer penitência deve ser realizada com base na realidade de cada cristão, considerando questões como saúde, idade e contexto de vida. “A recomendação da Igreja é a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-Feira da Paixão. São esses momentos litúrgicos que nos orientam a evitar comer carne vermelha e, ao mesmo tempo, observar o jejum. Porém, o que o livro Canônico orienta é ver as possibilidades de quem pode fazer isso porque na cultura da Igreja toda sexta-feira era o dia em que os cristãos não comem carne vermelha, mas claro, há exceções porque, às vezes, o peixe pode ficar mais caro e fazer outro tipo de comida. Mas, de modo geral, a recomendação é que as pessoas, pelo menos nesses dois dias, possam evitar carne vermelha”. 

Padre Ricardo Henrique também deixou uma mensagem sobre o que os fiéis devem refletir nesta data e aprender com o que Cristo deixa como lição. “Damos início à Semana Santa no Domingo de Ramos e depois temos o Tríduo Pascal, onde se intensifica todas as práticas que Jesus fez, estando presente na vida das pessoas, dando pão e alimento aos pobres, o seu sofrimento e depois a ressurreição. A lição que tiramos desse período é que com Jesus podemos ser melhores, homens e mulheres diferentes, positivas. Pessoas que buscam ter uma inteligência através da sabedoria de Deus para tirar o ódio, o rancor, rivalidade e maldade dos corações”. 
 

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