Silvio Almeida nega assédio, fala em intriga e diz que Anielle 'se perdeu num personagem'
Silvio Almeida foi demitido do governo Lula (PT) em setembro do ano passado após ser alvo de denúncias de importunação

Foto: Rovena Rosa/Tomaz Silva | Agência Brasil
Ex-ministro dos Direitos Humanos do governo Lula (PT), Silvio Almeida disse ter sido alvo de intriga política para desgastá-lo e que Anielle Franco, chefe da pasta da Igualdade Racial, "se perdeu num personagem" quando o acusou de importunação sexual.
Silvio Almeida foi demitido do governo Lula (PT) em setembro do ano passado após ser alvo de denúncias de importunação e assédio sexual recebidas pela organização Me Too Brasil. Anielle disse ter sido uma das vítimas.
"Acho que ela [Anielle] caiu numa armadilha, a falta de compreensão de como funciona a política a armadilha em que eu caí também", afirmou o ex-ministro em entrevista ao UOL publicada nesta segunda-feira (24).
"Não prestei atenção em coisas em que deveria ter prestado mais atenção. Ela, da mesma forma. Ela se perdeu num personagem. Para tentar me desgastar, ela participou desse espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim."
De acordo com o ex-ministro, "tem gente especialista, dentro e fora do governo, em criar intriga e vazar para a imprensa". "Tanto eu quanto Anielle Franco fomos enredados nessa imundice", disse.
Dois inquéritos foram abertos para investigar o caso, um pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) e outro no STF (Supremo Tribunal Federal), a pedido da PF. A investigação, que tem o ministro André Mendonça como relator, está sob segredo de Justiça.
Silvio Almeida vai prestar depoimento nesta terça-feira (25), na sede da Polícia Federal em Brasília.
Há uma semana, o ex-ministro publicou um manifesto nas redes sociais no qual afirmou que retomaria suas atividades públicas. "Eu estou vivo, continuo indignado e não quero compaixão nem 'segunda chance'. Eu quero justiça."
Ao UOL ele disse que precisou de um tempo em silêncio para entender o que estava acontecendo. Também citou um clima de hostilidade após as acusações e como sua defesa era lida como uma forma de desrespeito às supostas vítimas.
"Foi uma experiência de muito sofrimento. Primeiro vem a tristeza, depois a indignação. Estou indignado. Todas as pessoas que estão se referindo a mim desse jeito vão ser responsabilizadas."
O ex-ministro negou ter feito comentários indevidos a Anielle e passado a mão nas pernas dela em reunião ministerial, do que é acusado. Disse que naquela ocasião houve encontro tenso e que surgiram divergências entre o que os dois propunham.
Relatou uma conversa com assessores sobre como era difícil trabalhar com o Ministério da Igualdade Racial e com Anielle, que ela foi desrespeitosa com ele e que fingia uma intimidade que nunca teve.
"Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: 'Em todo lugar você quer dar aula. Aqui não é lugar de dar aula'."
Também negou outros supostos casos de assédio na universidade que vieram à tona.
"Dou aula há 20 anos. Tive, aproximadamente, 40 mil alunos. Metade disso são mulheres. Em todas as universidades que passei, isso está dito de maneira oficial, nunca tive nenhum tipo de acusação."
"Não sei [por que essas mulheres mentiriam]. Não tenho como estar na cabeça delas. O que posso dizer é que não fiz isso. Não sei por que as pessoas mentem. E quem mente tem responsabilidade."
Em depoimento à PF, Anielle disse que as "abordagens inadequadas" de Silvio Almeida foram escalando até a importunação física.
A ministra afirmou ainda à revista Veja que houve "atitudes inconvenientes" por parte dele, como toques inapropriados e convites impertinentes, mas que ela não reportou os episódios por "medo do descrédito e dos julgamentos", além da sensação de que a culpa era da vítima, não do agressor.
"É importante deixar claro que o que houve foi um crime de importunação sexual. Fui vítima de importunação sexual. Precisamos reforçar isso para evitar que mulheres continuem sendo vítimas desse tipo de agressão", disse Anielle à revista Veja.
Em outubro de 2024, o governo Lula confirmou ter recebido também novas acusações de assédio sexual contra Silvio Almeida, encaminhadas à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, mas afirmou que não divulgaria mais detalhes porque os procedimentos estão sob sigilo.