Sílvio Santos deixa marca de 60 anos de trajetória na TV

Sílvio Santos morreu aos 93 anos neste sábado (17), no Hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, onde estava internado desde o início após receber o diagnóstico de H1N1. 

Criador de um império empresarial que vai além do SBT, o empresário se tornou uma das figuras mais populares do Brasil. 

Filho do imigrante grego Alberto Abravanel e da turca Rebeca Abravanel, Senor Abravanel, nacionalmente conhecido como Silvio Santos, nasceu em 12 de dezembro de 1930, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Sempre apaixonado por histórias, quando pequeno, Silvio entrava nos cinemas de graça com o seu irmão Leon, o irmão mais novo entre cinco. Seus cinemas preferidos eram o Capitólio, o Rex, o Odeon e o Vitória, todos situados no bairro da Cinelândia. 

De camelô a locutor 

O início da vida profissional de Silvio Santos foi aos 14 anos, quando aprendeu a negociar e comunicar enquanto vendia capinhas de plástico para guardar títulos de eleitor e canetas nas ruas do Rio de Janeiro. Para fugir dos guardas de rua, trabalhava somente quando eles estavam em seu horário de almoço.

O potencial da sua voz foi o motivo para o jovem carioca se destacar. O diretor de fiscalização da Prefeitura do Rio chegou a abordar Silvio para impedir que ele continuasse a vender na rua. Quando percebeu que ele estudava e tinha talento para se comunicar, sugeriu que Silvio participasse de um concurso para locutores na Rádio Guanabara, onde estavam personalidades como Chico Anysio, José Vasconcelos e Celso Teixeira. Eram cerca de 300 candidatos, e Silvio ficou em primeiro lugar na seleção. 

Além da Rádio Mauá, Silvio passou pelas rádios Tupi e Continental, enquanto construía sua trajetória na comunicação. No entanto, não deixou de trabalhar como ambulante. 

Silvio não deixou os estudos de lado e se formou em Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado. Aos 18 anos, Silvio serviu ao Exército, na Escola de Paraquedistas em Deodoro. Como não podia mais ser camelô nas ruas, passou a frequentar a Rádio Mauá, onde o locutor principal era Celso Teixeira.

Como empreendedor, teve a ideia de vender relógios, joias, colares e sapatos sob medida em escritórios e repartições públicas. Nesse período, conciliava as atividades como vendedor e na rádio. Silvio ainda ocupou o cargo de corretor de anúncios, abriu um bar e um bingo. 

Barreira 

Além do trabalho em rádio, para complementar sua renda, Silvio criou uma revista, a Brincadeiras pra você, que continha palavras cruzadas, charadas e atividades de passatempo, e também fez shows em circos como animador.

Em 1950, Silvio conseguiu um cargo de locutor em rádio, em São Paulo. A assinatura de contrato como locutor na Rádio Nacional, também situada na capital paulista, aconteceu em 1954. A partir daí, Manoel de Nóbrega, seu amigo e radialista, o chamou para quadro Cadeira de Barbeiro, popular na época por ser crítico a costumes políticos, e posteriormente, para o Baú da Felicidade. 

O Baú da Felicidade era um sistema de carnês em que o cliente pagava as prestações de uma caixa de brinquedos ao longo do ano e recebia os produtos na época do Natal. Preocupado com um possível fechamento da empresa, Nóbrega, que havia vendido muitos carnês, mas estava com dificuldade para entregar as mercadorias, pediu a ajuda de Silvio para resolver a situação.

Assim, Silvio entendeu o ocorrido como uma oportunidade de empreender e assumiu o controle da empresa. O apresentador manteve o sistema de crediário, mas expandiu o negócio, criando lojas em que as pessoas poderiam trocar os carnês quitados tanto por brinquedos quanto eletrodomésticos.

Em 1961, Silvio começou a sua carreira na televisão. Logo, o programa “Vamos Brincar de Forca” – que mais tarde se tornaria o “Programa Silvio Santos” – foi onde o apresentador passou a fazer propaganda do Baú da Felicidade.

Como contador atento aos fenômenos, Silvio contornou cenário de alta inflação do fim dos anos 60 criando a Baú Financeira que, 21 anos depois, se transformaria no Banco PanAmericano. Em 1975, a divisão financeira do Grupo Silvio Santos ganharia ainda o reforço da Liderança Capitalização, que em 1991 passou a comercializar a TeleSena.

Os casamentos

Silvio Santos casou com Maria Aparecida Vieira Abravanel, a Cidinha, em 15 de março de 1962. Eles se conheceram na Rádio Nacional. Da relação nasceram as duas filhas mais velhas, Cintia e Silvia. Com um câncer no aparelho digestivo, ela faleceu aos 38 anos, em 1977. 

O segundo casamento de Silvio foi com Íris Abravanel, em 1981, com quem tem quatro filhas: Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata.

O SBT 

Com a fama como apresentador e o sucesso como empresário, Silvio despertou o sonho de ter a sua própria emissora de TV. 

O sonho foi concretizado em 1975, quando venceu a concorrência pelo Canal 11. Em 14 de maio de 1976, entrou ao ar o canal Studio Silvio Santos Cinema e Televisão, conhecido por TVS.

Em 1981, Silvio ganhou a concessão de mais quatro canais, que juntos passariam a formar o Sistema Brasileiro de Televisão, ou SBT. 

Em 1987, o programa de humor A Praça é Nossa estreou no SBT. Na ocasião, Silvio Santos participou ao lado de Carlos Alberto de Nóbrega e relembrou a história que teve junto ao pai de Carlos, o Manoel.

O Programa Silvio Santos recebeu em 1993 o título de programa mais duradouro do mundo pelo Guinness Book (o livro dos recordes). Na época, o programa completava 31 anos.

Ao longo das décadas de 1980 e 1990, Silvio se dedicou especialmente à consolidação e expansão do SBT, mas nos anos 2000 voltou a se aventurar em novas áreas. Em 2006 fundou a Jequiti cosméticos e, em 2007, inaugurou o hotel Sofitel Jequitimar Guarujá.

Influência na política 

Apesar de não ter ocupado nenhum cargo político, Silvio Santos recebeu convites para se candidatar em algumas eleições.

Em diversas pesquisas de intenção de voto, o comunicador ficava à frente dos possíveis concorrentes. 

Em 1989, foi pré-candidato à presidência da república pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB). O partido não cumpriu exigências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e, por isso, a candidatura não foi validada. 

Em 1990, o empresário recebeu convite para se candidatar ao governo do estado de São Paulo.

 

Silvio Santos está afastado das gravações do SBT desde setembro de 2022, e suas filhas vêm tocando a emissora: Patrícia Abravanel assumiu o lugar do pai no comando do “Programa Silvio Santos”