Sintomas do glaucoma podem levar de 5 a 10 anos para surgir, afirma especialista
No Brasil, cerca de 1 milhão de pessoas sofrem com a doença, que pode levar à cegueira total
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Nesta quinta-feira (26) é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, que tem o objetivo de conscientizar a população sobre as consequências da doença, que pode chegar a cegueira permanente. No Brasil, cerca de um milhão de pessoas sofrem com o glaucoma, segundo a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).
Ao Farol da Bahia, o oftalmologista especialista na doença, Dr. Matheus Borges, explicou que o glaucoma é uma enfermidade silenciosa e o indivíduo que tem pode chegar a passar cinco ou 10 anos com a doença sem sentir nenhum sintoma.
"Ele vai seguir com a vida normal, não vai sentir dor, não vai sentir coceira, não vai sentir qualquer sintoma que possa ser relacionado com a doença. E se essa pessoa não buscar um oftalmologista para obter uma prevenção, a doença irá progredir lentamente e, em determinado momento, o campo de visão ficará restrito e essa pessoa começará perder a visão", explicou.
De acordo com o Dr. Borges, não é apenas uma característica que provoca a doença, mas sim múltiplos fatores de risco. "Esses fatores vão fazer com que o nervo óptico seja lesionado, sofra uma degeneração, e com isso o paciente perca a visão gradativamente. Sabe-se que a grande maioria dos casos de glaucoma tem relação direta com a elevação da pressão ocular, sendo o principal fator de risco para desenvolvimento da doença. Além disso, é o único que pode ser modificado através do tratamento.", disse.
Entre os fatores de risco da doença estão: a idade, pessoas acima dos 40 anos tem grandes possibilidades de desenvolverem o glaucoma; o histórico familiar (1º grau); pessoas de cor negra têm mais chances de terem o glaucoma primário de ângulo aberto; pessoas de etnia asiática têm maiores chances de desenvolverem o glaucoma primário de ângulo fechado; pacientes míopes.
Tipos de glaucoma
Ainda segundo o Dr. Matheus Borges, há diversos tipos de glaucoma. Mas o principal é o primário de ângulo aberto, que representa quase 80% dos casos. Outro tipo é o primário de ângulo fechado. "No glaucoma primário de ângulo aberto, há um defeito no filtro do olho. Já no glaucoma primário de ângulo fechado, há uma dificuldade de fazer com que esse filtro funcione porque existe algo bloqueando a passagem do líquido", pontuou.
Existem também os glaucomas secundários, que surgem por situações específicas. "O glaucoma induzido por trauma é uma pessoa que leva uma pancada no olho e esse trauma altera as características anatômicas do olho. Existe o glaucoma uveítico, secundário, congênito e juvenil", conforme o Dr., os dois últimos podem ser considerados como os mais raros, mas não são menos importantes.
Quase 3 milhões de atendimentos foram feitos em um ano
Em todo o Brasil, 2.961.057 atendimentos ambulatoriais e 6.560 atendimentos hospitalares foram realizados em decorrência do glaucoma entre o período de janeiro de 2021 e março de 2022, de acordo com dados levantados pelo Ministério da Saúde após pedido do Farol da Bahia. Na Bahia, os números são 555.544 atendimentos em ambulatórios e 694 em hospitais, no mesmo período.
Vivendo com glaucoma
Doriane Vasconcelos de Oliveira, de 38 anos, possui glaucoma congênito, um dos tipos raros que o Dr. Matheus Borges pontuou. Esse tipo de glaucoma acomete bebês recém-nascidos e pode levar à cegueira se não for diagnosticado imediatamente. No caso de Doriane, os pais receberam a confirmação da doença após um mês de nascida e ela tem cegueira total desde então.
"Minha família recebeu o diagnóstico após um mês de nascida. Ocorrida a constatação, para meus pais foi sem dúvida um desafio ainda maior. Afinal, era o segundo filho com o mesmo diagnóstico. A partir de então, faço acompanhamento anualmente com vistas a controlar a pressão ocular. O controle se dá por meio do uso de colírios, algo tranquilo para mim", explicou à reportagem.
De acordo com ela, a falta de visão nunca foi um fator impeditivo para alcançar metas e realizar conquistas. "Uma pessoa cega passa por diversas adversidades, desafios e dificuldades que certamente uma pessoa que enxerga não passaria. Mas nada impede que uma pessoa com deficiência visual viva com plenitude, autonomia, segurança e independência. O glaucoma não impede que constitua família, tenha e exerça uma profissão ou saia com os amigos", contou.
Prevenção e controle
Por ser uma doença que não tem uma prevenção que evite o desenvolvimento do glaucoma, o recomendado pelo Dr. Borges é que o cidadão busque comparecer anualmente em um oftalmologista e realize exames regulares para que o diagnóstico seja feito ainda na fase inicial da doença. "Ele irá fazer o tratamento e com isso a doença tende a não evoluir. Ou seja, o objetivo final é que o paciente tenha uma boa visão a longo prazo. Então, consultando um oftalmologista regularmente, esse objetivo será alcançado", destacou.
O glaucoma é a doença que mais causa cegueira e não tem cura, porém, na maioria dos casos, pode ser controlado com uso de colírios e cirurgia. "Temos como formas de controle da pressão óptica os colírios e quando os colírios não são suficientes, os pacientes podem ser submetidos a terapias cirúrgicas. Com a pressão ocular controlada, essa doença pode ser estabilizada de modo que a lesão não avance. Então você atinge um nível estável para promover um bem estar e uma boa visão para aquele paciente até o fim da vida", conclui o médico.