Sob comando de Rui Costa, compra de respiradores pelo Consórcio Nordeste foi cercada de fraudes, diz revista
Grupo pagou 48 milhões de reais por 300 respiradores que nunca foram entregues
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Uma auditoria inédita do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que o processo de compra de respiradores durante a pandemia pelo Consórcio Nordeste foi cercado por fraudes do início ao fim. A informação foi divulgada pela revista Veja nesta sexta-feira (09).
Na semana passada, a Polícia Federal fez uma operação de buscas e apreensão para tentar recuperar os recursos desviados no processo de compra pelo grupo, formada pelos governadores nordestinos e que era presidido pelo então governador da Bahia, e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa.
O consórcio pagou 48 milhões de reais por 300 respiradores que nunca foram entregues. Apesar de já ter identificado os principais envolvidos no caso, as investigações ainda não apontaram a exata responsabilidade de cada um.
Segundo o relatório do TCU, que complementa as investigações da PF, a formatação do negócio foi feita para “dar ares risíveis de legalidade ao procedimento”. Além disso, eles ressaltam que “não é possível afirmar que houve boa-fé” e que o principal auxiliar de Rui Costa no Consórcio, o então secretário-executivo do órgão, Carlos Gabas, “contribuiu efetivamente para a concretização da irregularidade”.
Um documento assinado por Gabas que atestou que os equipamentos, que nunca foram entregues, haviam sido recebidos e estavam em “perfeitas condições”. A auditoria concluiu ainda que a compra de respiradores “além de evidenciar o dano ao erário, escancara a balbúrdia do processo de planejamento, de orçamento e de mitigação de riscos” do órgão comandado à época pelo chefe da Casa Civil.
O tribunal indicou ainda que era “razoável” ao responsável pelo processo de compra “ter consciência da ilicitude do ato que praticara”. “Ademais, não foi possível constatar excludentes de ilicitude, de culpabilidade e de punibilidade”, descreveu a auditoria, em referência aos procedimentos administrativos adotados por Gabas.
Operação da PF
A operação realizada pela no último dia 1° de agosto cumpriu 34 mandados de busca e apreensão, com intuito de recuperar os valores desviados na aquisição de respiradores em meio à pandemia da Covid-19 pelo Consórcio Nordeste.
Batizada de Cianose, a ação cumpriu os mandados em um escritório de advocacia no Edifício Millenium, localizado na Avenida Magalhães Neto, em Salvador.
Segundo a Veja, a ação mirou o empresário baiano Cleber Isaac Ferraz Soares. De acordo com as investigações, Ferraz Soares se apresentava como “amigo” de Rui Costa e de sua esposa, a conselheira do Tribunal de Contas estadual, Aline Peixoto.
Ao lado do lobista Fernando Galante, o empresário atuou como intermediário do contrato assinado entre o Consórcio Nordeste e a empresa Hempcare para o fornecimento dos respiradores. Para isso, eles receberam 12 milhões de reais a título de “comissão”. O valor corresponde a 25% de todo o dinheiro.