Suspensão dos trens fará com que usuários gastem 8 vezes mais para pegar ônibus
Sistema ferroviário será suspenso a partir da segunda (15)
Foto: Farol da Bahia | Gilberto Jr.
A suspensão do funcionamento dos trens do Subúrbio Ferroviário, válido a partir da segunda (15), para as construções do sistema de Veículo Leve de Transporte (VLT) vai impactar no dia-a-dia dos passageiros e, principalmente, no bolso do trabalhador.
Atualmente, o sistema de trens opera com dez estações e com viagens entre os terminais de Paripe e Calçada. Estima-se que seis mil pessoas utilizam os trens todos os dias na capital baiana. Toda essa população, que antes pagava R$ 0,50 para se deslocar na região da Cidade Baixa de Salvador, agora terá que arcar R$ 4,20 para pegar o transporte público, o que indica um aumento de quase 8 vezes a mais do que a tarifa do sistema ferroviário.
Estima-se que seis mil pessoas utilizam os trens todos os dias na capital baiana. | Foto: Farol da Bahia/Gilberto Jr.
Uma dessas pessoas que serão impactadas pela suspensão dos trens é Dona Suely Paulo, de 59 anos, que mora no bairro de Paripe e utiliza o sistema de forma frequente.
Trabalhadora autônoma por causa do desemprego, ela contou ao FAROL DA BAHIA que a suspensão do funcionamento dos trens vai "doer" na economia dela, que, segundo ela, já é escassa. Suely também acredita que a transferência dos usuários dos trens para os ônibus vai provocar muito "estresse" por causa dos engarrafamentos frequentes na região da Cidade Baixa.
"Vai doer muito no bolso. Se vai doer em quem trabalha, tem o seu salário todo mês, imagine em quem não trabalha. Vai pesar muito. Eu pago 1 real e agora vou ter que pagar R$ 8,40 [valor de dois transportes]. Vai ser difícil. O trem tem uma grande vantagem porque a gente não pega engarrafamento na Suburbana, ele vem direto. Vai doer no bolso e no estresse do trânsito", afirmou.
A autônoma também acredita que o Governo da Bahia, responsável pelas obras, e a Prefeitura, responsável pelos ônibus, deveriam criar condições alternativas para suprir a demanda da população de baixa renda.
"Eles teriam que dar essa alternativa para nós que pagamos 50 centavos. Pelo menos colocar uma condução com o mesmo valor para a gente poder se deslocar", disse Dona Suely.
Até quem não utiliza o sistema ferroviário todos os dias está preocupado com a situação. A também autônoma Dilza Vieira defendeu que a obra seja feita para melhoria, porém, que o novo sistema seja entregue com celeridade por causa do prejuízo para a população da região.
"Impacta com muito prejuízo. Estou desempregada. Mas se tem que parar para melhorar, que pare, mas que não demore muito de voltar. As pessoas vão sentir muito, principalmente o pessoal do Subúrbio", declarou.
Apesar do descontentamento da população, os imbróglios envolvendo o sistema de trens de Salvador parecem envolver outros fatores. Um funcionário do sistema ferroviário, que não quis se identificar, disse ao FAROL DA BAHIA que os alguns trens com ar-condicionado, entregues em 2013 durante a gestão do ex-prefeito ACM Neto, estão em perfeito estado em um vagão, que, segundo a fonte, quase ninguém tem acesso. De acordo com a fonte, atualmente, os trens estão em desuso e, sem identificar quem, jogaram óleo queimado neles para parecerem velhos.
Governo da Bahia x Prefeitura de Salvador
A construção do VLT é feita pelo Governo da Bahia em parceria com a empresa Metrogreen Skyrail e tem investimento de cerca de R$ 2 bilhões. A obra está prevista para ser entregue no prazo de dois anos e os primeiros vagões devem chegar ao estado em abril deste ano.
Por causa da suspensão dos trens, o prefeito Bruno Reis (DEM) chegou a cogitar um aumento no número de linhas de ônibus para atender a população que utiliza o sistema ferroviário. No entanto, ele disse que só poderia realizar o feito com auxílio do Governo da Bahia por falta de recursos, que foram afetados pela pandemia da covid-19. Já nesta sexta (12), a Prefeitura informou que não há, de início, necessidade de implantar novas linhas, o que contraria o que diz o povo nas ruas.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado (Sedur), argumenta que tanto a suspensão quanto a transferência dos usuários dos trens para os ônibus foi feita com base em estudos voltados para diminuir o impacto da mudança para a população local.
O secretário da Sedur, Nelson Pelegrino, disse que "Foi feita uma avaliação e pesquisa de origem e destino dos usuários de transporte público naquela região e sabemos como eles se deslocam. Os passageiros serão orientados sobre as linhas de ônibus que estão servindo aquela região do subúrbio e que podem ser utilizadas em substituição ao trem". A Sedur também divulgou uma lista de linhas de ônibus alternativas ao trem. [Confira aqui]
O Farol entrou em contato com a Sedur sobre as possibilidades de tratativas com a Prefeitura de Salvador, mas até o fechamento desta matéria, não houve resposta.