Técnica do plasma convalescente contra Covid-19 é restrito a poucos
Hospitais de São Paulo e Rio de Janeiro estão realizando a técnica
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A Técnica do plasma convalescente, que transmite anticorpos de pacientes recuperados da Covid-19 a pacientes em tratamento tem trazido resultados animadores. Entretanto, resultados preliminares de trabalhos no Brasil mostram que a medida se mostra cada vez mais restrita, em especial em países menos ricos e com menos recursos para viabilizar a aplicação do procedimento.
Segundo os estudos, as dificuldades começam na seleção de doadores: de 271 inicialmente aptos a participar de pesquisa em curso nos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein, em São Paulo, por exemplo, apenas 110, ou 40%, de fato puderam transfundir plasma — a parte líquida do sangue — para alguém internado.
Existem fatores como exames sorológicos insatisfatórios, baixo índice de anticorpos e até mesmo teste positivo para presença do vírus no corpo — apesar de 14 dias sem sintomas —que restringem a doação e, por consequência, o alcance da terapia, que busca fornecer imunidade às pessoas com a doença.
“Plasma convalescente não pode ser usado em larguíssima escala. Para chegarmos a isso no Brasil, levaríamos um bom tempo. Por isso, é preciso selecionar pacientes graves, não pode ser usado para qualquer paciente. Infelizmente, é uma terapia com recursos limitados”, diz o hematologista Silvano Wendel Neto, do Sírio-Libanês, que participa da pesquisa em São Paulo.
O efeito do plasma em pacientes dos dois hospitais ainda está em estudo — cerca de 50 pacientes receberam transfusão nas últimas semanas, nos dois hospitais.
De acordo com profissionais que vêm participando do atendimento nas duas pesquisas, os resultados têm sido mais animadores entre aqueles que ainda estão na fase inicial da doença, e não no período agudo, pós-intubação.
No Rio, índices semelhantes de doadores aptos, em torno de 40%, têm sido observados, onde o Hemorio conduz pesquisa semelhante com transfusão para pacientes que estão em três hospitais.
“Muita gente não tem anticorpo em nível suficiente. A gente já sabia que este não seria um tratamento em massa, é mesmo com disponibilidade limitada. Mesmo que você tenha muitas pessoas com a doença (e potenciais doadores), há procedimentos, maquinário especial, não é algo simples”, diz o diretor do Hemorio, Luiz Amorim.
O uso do sangue de pacientes recuperados de doenças vem sendo usado como terapia desde o início do século passado, durante a gripe espanhola — relatórios da época sugerem que a técnica ajudou. Pesquisas apontam o sucesso do procedimento no tratamento de doenças como sarampo e febre hemorrágica, mas insucesso para doenças como o ebola. Há preocupação também em relação ao risco de transmissão de outros patógenos pelo sangue.