Trabalho forçado e exploração sexual são os principais focos do tráfico de pessoas no Brasil
O tráfico de pessoas é considerado umas das formas mais graves de violação dos direitos humanos

Foto: UN/MINUSTAH
O Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas do Ministério da Justiça e Segurança Pública aponta que os principais fins do tráfico no Brasil são para fins de trabalho análogo à escravidão e a exploração sexual.
Os dados integram o Painel de Dados e o Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas, lançado nesta sexta-feira (4) pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Os números revelam que as estratégias de captação e controle das vítimas variam de acordo com o tipo de exploração.
No caso do trabalho em condições análogas à escravidão, o recrutamento por meio de pessoas conhecidas ou de amigos de amigos foi o método mais comum, superando até mesmo o uso de redes sociais. Grupos criminosos organizados aparecem em terceiro lugar entre as formas de aliciamento.
Em relação a exploração sexual, as mídias sociais foram apontadas como o principal meio de aliciamento, seguidas por conhecidos ou amigos e por familiares, amigos próximos ou vizinhos.
O tráfico de pessoas é considerado umas das formas mais graves de violação dos direitos humanos.
Pela primeira vez, o painel reúne informações consolidadas de diferentes órgãos sobre o tráfico de pessoas entre os anos de 2017 a 2024.
As estatísticas foram fornecidas por instituições como o Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Saúde, Defensoria Pública da União, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho. Também foram consideradas bases públicas oficiais, como o Disque 100, o Censo Suas e o DataJud.
"Sempre que vou a eventos sobre segurança pública, o crime de tráfico de pessoas é colocado como tão lucrativo quanto o tráfico de drogas e o tráfico de armas. E, ao mesmo tempo, temos mais conhecimento sobre esses crimes do que sobre o tráfico de pessoas. É preciso que avancemos com esse BI, que nos dê essa dimensão", disse Jean Uema, secretário nacional de Justiça.
Os dados mostram ainda que a exploração de pessoas no contexto do tráfico está diretamente relacionada a situações de vulnerabilidade.
De acordo com as informações coletadas, 22% indicaram condições socioeconômicas precárias como a principal vulnerabilidade observada nas vítimas de tráfico.
Outros fatores frequentemente mencionados foram a baixa escolaridade dos respondentes, a condição de migrante ou refugiado e o fato de ser mulher.
A análise dos dados de diferentes instituições demonstra que o perfil de gênero das vítimas de tráfico de pessoas no Brasil não é homogêneo, sendo fortemente influenciado pelo tipo de exploração e pela natureza das instituições envolvidas no atendimento e registro.
Enquanto na Polícia Federal, Defensoria Pública da União e Assistência Social a maioria das vítimas é do sexo masculino, no Ministério da Saúde a maioria é do sexo feminino.
Somente o Ministério da Saúde tem dados sobre raça. Ele mostra que a maioria é parda, seguida de pessoas brancas, pretas, indígenas e amarelas.
Os dados do painel mostram ainda que a Polícia Federal instaurou 662 inquéritos sobre tráfico de pessoas no Brasil entre 2017 e 2024, sendo o maior número registrado em 2024, com 149 investigações abertas. São Paulo lidera as estatísticas, com 217 inquéritos no período.
No total, 286 pessoas foram indiciadas e 192 vítimas identificadas. A PF também deflagrou 60 operações relacionadas ao crime.