Tradição, promessa e agradecimento marcam celebração de São Cosme e Damião

Tradição, agradecimento, promessa, pedido ou até a coincidência de nascer no mesmo dia ou próximo ao dos santos. Os motivos para a celebração no dia de São Cosme e Damião são diversos, mas, acontece assiduamente todos os anos, no dia 27 de setembro. 

Inicialmente, a realização do caruru ofertado pela costureira Ana Patrícia Fernandes, em Pernambués, era uma forma de comemorar o aniversário do marido Anderson Fernandes, há 12 anos. Mas, em 2012, o quadro mudou. 

“Eu resolvi agradecer aos meninos Cosme e Damião por uma conquista a partir daí, todos os anos eu consigo alcançar vitórias e acredito que tem muito dessa questão do agradecimento. O caruru daqui de casa é de agradecimento, uma maneira de devolver”, contou. 

Depois disso, o caruru foi desvinculado ao aniversário e se tornou o momento de agradecimento aos ‘meninos’, como carinhosamente Ana Patrícia chama. E a tradição da família recebeu um novo significado durante a pandemia da Covid-19.  

“Na pandemia a gente não queria parar de fazer o caruru, mas também não podia fazer. E pela primeira vez a gente fez para distribuir às pessoas em situação de rua, o que foi um choque de realidade. Com um pouquinho, você consegue fazer alguém feliz”. Com a experiência, a celebração ganhou um novo formato e significado, agora todos os anos, além da comemoração em casa, há a distribuição na rua. 

Já a fé e devoção da professora Tábita Rocha veio de herança da família umbandista que realiza o caruru todos os anos. Mas, a promessa pessoal aconteceu por conta da realização profissional. “Eu tenho uma relação com São Cosme e Damião, no caso dos Ibejis, que eles representam as crianças. Então, a promessa foi justamente para que desse tudo certo no meu trabalho”.

E mais uma vez, a gratidão é o principal pilar da devoção aos irmãos. “Para mim tudo foi muito difícil, porque me separei do pai da minha filha muito jovem, e tive que criar e sustentar sozinha. E foram a força dos Ibejis, São Cosme e Damião, que me ajudaram nessa luta e hoje já está um bom caminho andado", afirmou. 

Sincretismo 

Assim como São Cosme e Damião, os Ibejis são dois gêmeos referenciados nas religiões de matriz africanas, ambos são celebrados na mesma data. Fruto do sincretismo que traz semelhanças nas histórias e mistura as tradições. 

Enquanto São Cosme e Damião são retratados como dois irmãos médicos que em caridade atendiam as comunidades pobres. Os Ibejis são crianças, entidades infantis, que gostam de brincar, de doce e da festa. Ambos têm o mesmo objetivo: levar alegria. 

Por conta disso, a celebração da data é marcada pela distribuição de doces e do famoso caruru que também tem a tradição de ser amplamente aberto a comunidade, com a participação dos vizinhos, amigos e parentes. 

O caruru 

Há quem crie a expectativa do convite para participar do caruru na Bahia, e a comida típica trazida da África também passou por transformações nas terras brasileiras. Além do ato da distribuição, o caruru representa a oferenda às entidades africanas como forma de agradecimento. Daí vem a tradição de realizar o caruru como forma de pagar por uma promessa. 

O prato típico, em geral, vem com caruru, vatapá, arroz, farofa de azeite, feijão preto, milho branco, cana de açúcar, banana frita e xinxim de galinha, e permanece como uma tradição que passa de geração para geração.