Trump assina decreto e anuncia mudança no nome da Defesa para Departamento da Guerra
A decisão faz parte do esforço de Trump para reconfigurar a imagem das Forças Armadas

Foto: Isac Nóbrega/PR
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto nesta sexta-feira (5) que oficializa a mudança do nome do Departamento de Defesa para Departamento da Guerra.
Segundo o republicano, a mudança envia ao mundo uma mensagem de vitória e de força. "Nós somos fortes, bem mais fortes do que as pessoas entendem", disse. Na semana passada, quando anunciou que faria a mudança, ele afirmou que a pasta tem de atuar "não só com defesa, mas também com ataque".
A ordem autoriza integrantes do governo a usarem títulos como "secretário de Guerra" e "vice-secretário de Guerra" em documentos oficiais e comunicações públicas. Também orienta o secretário Pete Hegseth, à frente da pasta, a recomendar ações legislativas e executivas para tornar a mudança permanente.
A decisão faz parte do esforço de Trump para reconfigurar a imagem das Forças Armadas. Entre outras iniciativas, o republicano já promoveu um desfile militar em Washington e reverteu a mudança de nomes de bases que homenageavam líderes confederados. Além disso, ele tem defendido o uso doméstico das tropas, tanto na fronteira com o México quanto em cidades como Los Angeles e a capital americana, controladas por democratas.
O decreto também evidencia a tentativa de Trump de imprimir a sua marca na maior estrutura governamental do país: o orçamento do departamento é o maior do mundo e, em 2024, respondeu sozinho por 39,4% de todo o gasto militar do planeta -foram US$ 968 bilhões (R$ 5,2 trilhões) alocados no setor.
A pasta recebeu o nome de Departamento de Defesa em 1949, quando o Congresso centralizou a gestão do Exército, da Marinha e da Força Aérea após a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), como forma de transmitir que, na era nuclear, os EUA estavam focados em evitar novos conflitos.
Em teoria, a mudança desta sexta deveria ser oficializada pelo Congresso, mas Trump não foi claro se confirmaria a alteração com os parlamentares. De forma assertiva, ele disse apenas que o "nome será mudado". Em paralelo, três parlamentares republicanos -os senadores Mike Lee e Rick Scott e o deputado Greg Steube- apresentaram projetos de lei para consolidar a mudança.
O presidente afirmou ainda que seus antecessores optaram pelo nome de Departamento de Defesa para serem "politicamente corretos" ou "woke", um termo pejorativo usado por conservadores para se referir à agenda que engloba pautas identitárias e diversidade.
De acordo com Trump, a mudança "é sobre vencer". Ele enfatizou que os EUA saíram vitoriosos dos dois conflitos mundiais.
O secretário Pete Hegseth foi ainda mais enfático. "Essa mudança não é só sobre renomear, mas restaurar. Nomes importam. Restaurar o 'ethos' dos guerreiros, restaurar a intencionalidade ao uso da força. Nós vamos lutar para ganhar, não vamos atuar só na defesa, mas também no ataque", disse.
O departamento emprega 2,9 milhões de servidores, sendo 1,3 milhão integrantes de forças da ativa. Há na composição geral também civis, além de 780 mil integrantes da Guarda Nacional.
Desde que voltou à Casa Branca, em janeiro, o republicano tem se empenhado pela renomeação de várias instituições e locais. Uma das mudanças mais controversas foi a que alterou o nome da região do Golfo do México para Golfo da América, em ato não reconhecido pela comunidade internacional e que motivou debates sobre soberania.
O custo da mudança preocupa os críticos. Além de placas e papelarias oficiais no Pentágono, instalações militares em todo o mundo precisariam ser atualizadas. Para efeito de comparação, a iniciativa do ex-presidente Joe Biden de renomear nove bases que homenageavam líderes confederados estava orçada em US$ 39 milhões (R$ 212,8 milhões). A decisão do democrata foi revertida por Hegseth neste ano.
Trump, ao mesmo tempo, está sob pressão devido à sua tentativa de promover um cessar-fogo na Guerra da Ucrânia, que o levou a receber tanto Vladimir Putin quanto Volodimir Zelenski e aliados nos EUA, sem avanços perceptíveis.
O mais surpreendente é a assinatura do decreto no momento em que o presidente americano busca se vender como um pacificador e faz campanha aberta pelo Prêmio Nobel da Paz o republicano diz ter solucionado vários conflitos pelo mundo.
Democratas questionam as prioridades do governo. "Por que não usar esse dinheiro para apoiar famílias de militares ou para contratar diplomatas que ajudam a prevenir conflitos?", perguntou a senadora Tammy Duckworth, democrata veterana das Forças Armadas e integrante do Comitê de Serviços Armados. "Trump prefere usar os militares para marcar pontos políticos em vez de fortalecer a segurança nacional", completou.
A ideia, no entanto, não é nova dentro do trumpismo. Durante o primeiro mandato do republicano, Kash Patel, hoje diretor do FBI e que atuou brevemente no Pentágono, usava em seus emails a assinatura: "Chefe de Gabinete do Secretário de Defesa & do Departamento de Guerra". "Vejo como uma homenagem à história e à herança da instituição", disse Patel, em 2021.