Trump chega a tribunal de NY e diz que julgamento é ataque aos EUA
O empresário é acusado de falsificar registros financeiros durante sua vitoriosa campanha eleitoral de 2016 para encobrir um suposto encontro sexual
Foto: Alan Santos/PR
O republicano Donald Trump já está no Tribunal Penal de Manhattan, em Nova York, para enfrentar o primeiro julgamento penal de um ex-presidente dos Estados Unidos.
Vestido com gravata vermelha e terno azul, o empresário de 77 anos saudou as pessoas que o aguardavam na saída da Trump Tower na manhã desta segunda-feira (15) e se dirigiu à corte, onde afirmou ser vítima de "perseguição política".
"Isso é um ataque aos Estados Unidos. E é por isso que estou muito orgulhoso de estar aqui", afirmou o empresário, sem responder perguntas dos jornalistas no local. "Isso é um ataque contra nosso país. E é um país que está falhando."
O empresário é acusado de falsificar registros financeiros durante sua vitoriosa campanha eleitoral de 2016 para encobrir um suposto encontro sexual com uma atriz de filmes pornográficos. O caso pode levá-lo à cadeia, mas as chances de prisão são baixas.
Segundo a Promotoria, Michael Cohen, assessor de Trump, teria pagado US$ 130 mil à atriz Stormy Daniels em acordo para que ela não falasse sobre suposto caso com o empresário.
Depois, já durante seu mandato na Casa Branca, o republicano teria reembolsado Cohen com depósitos feitos pela empresa de Trump, dinheiro disfarçado de despesas legais da companhia, o que violaria, de acordo com os promotores, leis de Nova York.
Nesta segunda, o júri será escolhido, algo que por si só tem levantado críticas de apoiadores de Trump e do próprio ex-presidente, que acusa o promotor Alvin Bragg de caça às bruxas e diz que qualquer seleção do júri durante uma campanha eleitoral não será totalmente imparcial.
Trump também tem apelado a bravatas e críticas ao juiz do caso, Juan Merchan, e acusado possíveis testemunhas, como Cohen e Daniels, de mentir. Merchan impôs uma ordem de silêncio ao republicano, proibindo que ele se manifestasse publicamente sobre o caso --o que não pareceu coibir o ex-presidente.
Além disso, claro, há o próprio impacto eleitoral. Pesquisa Ipsos/Politico conduzida no começo de março mostra que mais de um terço dos eleitores independentes --nem democratas, nem republicanos-- disseram que uma condenação no caso diminui sua chance de apoiar Trump.
Dada a previsão de disputa acirrada contra Joe Biden, isso pode custar caro. Por isso, a defesa do republicano tentou até o último instante adiar o julgamento, recebendo três negativas da corte de apelação.
Falsificar registros financeiros no estado de Nova York, a acusação de que Trump é alvo, é uma contravenção que se torna crime quando o delito é cometido com a intenção de realizar ou esconder outro crime.
É nesse ponto em que se situam as estratégias da Promotoria do estado de Nova York, que acusa Trump, e da defesa --é esperado que o caso dure cerca de seis semanas após a escolha do júri.
O promotor Alvin Bragg e sua equipe tentam provar e convencer o júri de que o acordo de silêncio com Daniels tem relação com a intenção de cometer ou esconder outro crime --Trump não precisa ser formalmente acusado por esse eventual outro crime. Não é a legalidade em si do pagamento que é alvo da acusação, portanto.
A Promotoria trabalha com a tese de que esse não é o único caso de compra de silêncio ocorrido durante a campanha de 2016, o que poderia se relacionar a um esforço maior para impulsionar as chances eleitorais de Trump na ocasião e, assim, a um delito eleitoral do estado e a uma violação relativa ao financiamento de campanha.
A forma como Cohen foi reembolsado também é alvo da acusação e pode se relacionar a um delito de fraude fiscal. Pesa contra o republicano no julgamento o fato de que seu ex-assessor rompeu com ele e provavelmente será testemunha de acusação.
A defesa deve começar por explorar justamente esse rompimento entre os dois, argumentando que Cohen tenta incriminar Trump por desavenças pessoais, dado que o ex-assessor do republicano é possivelmente a única testemunha que poderia ligar o republicano à falsificação dos registros financeiros.
Há também a tentativa de pintar o pagamento a Daniels como uma questão privada que teve apenas violações técnicas de registro financeiro, reduzindo assim seu escopo e eventual conexão com outro crime.