• Home/
  • Notícias/
  • Brasil/
  • 'Tudo aponta para boas perspectivas de redução do desemprego', diz IBGE sobre cenário na Bahia
Brasil

'Tudo aponta para boas perspectivas de redução do desemprego', diz IBGE sobre cenário na Bahia

Em entrevista ao Farol da Bahia, Mariana Viveiros ainda fala sobre o recuo do desemprego no âmbito nacional

Por Emilly Lima
Ás

'Tudo aponta para boas perspectivas de redução do desemprego', diz IBGE sobre cenário na Bahia

Foto: Arquivo Pessoal

A taxa de desemprego no Brasil recuou e atingiu 9,8% no trimestre encerrado em maio, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última semana. Essa foi a primeira vez, após seis anos, que o desemprego deixa de ser analisado na casa dos dois dígitos. Para trimestres encerrados em maio, é a menor desde 2015, quando foi de 8,3%. 

Com o resultado positivo, o Brasil recuperou as perdas que ocorreram durante a pandemia da Covid-19, segundo afirmou ao Farol da Bahia, a supervisora de informação do IBGE da Bahia, Mariana Viveiros. Por outro lado, há um indicador que ainda segue longe de voltar ao patamar pré-pandemia: o rendimento médio real. 

Na entrevista, Mariana também comenta sobre os setores que foram fundamentais para o resultado positivo e quais as expectativas para o segundo semestre. 

Confira:

Farol da Bahia: Desde o mês de outubro de 2015 que a taxa do desemprego não encerrava abaixo de 10%. Os níveis atuais chegam ser até menor que os registrados no período da pré-pandemia. Há uma explicação para essa recuperação?

Mariana Viveiros: De fato, no Brasil tivemos no trimestre móvel encerrado em maio o maior número de trabalhadores em dez anos, desde o início da serie história da pesquisa do IBGE, em 2012. A população que estava trabalhando chegou a 97,5 milhões de pessoas, e houve um crescimento expressivo bem espalhado pelas diversas atividades econômicas, com destaque para a administração pública, impulsionada pelo segmento de educação. Com a melhoria e certa estabilização no quadro da pandemia, o avanço da vacinação e o relaxamento das medidas de distanciamento social, os serviços presenciais começam a mostrar um processo de recuperação mais vigoroso, e isso foi decisivo para a melhoria no mercado de trabalho.

FB. Pode-se afirmar que os dados recentes recuperam as perdas que ocorreram durante a pandemia?

MV: Houve, sim, uma recuperação em relação às perdas que ocorreram em 2020 e 2021. Para alguns indicadores chaves, como a taxa de desocupação e o nível da ocupação, que é o percentual de pessoas de 14 anos ou mais que trabalham, estamos batendo em 2015. Mas há um indicador importante que ainda está longe de voltar ao patamar pré-pandemia: o rendimento médio real mensal de trabalho, o “salário” médio. No Brasil, no trimestre encerrado em maio, o valor do rendimento de trabalho ficou em R$ 2.613, o mais baixo para esse período em dez anos.

FB. Qual o setor que mais tem se destacado na puxada de retomada no Brasil? No âmbito da Bahia, o ritmo é o mesmo?

MV: No Brasil como um todo, em relação ao último trimestre de 2021, os setores que mais geraram trabalho foram a administração pública, com mais 466 mil pessoas ocupadas; a indústria em geral, com mais 312 mil trabalhadores; e, bem perto, o setor de informação e comunicação, atividades financeiras, imobiliárias e profissionais, com mais 311 mil pessoas ocupadas. Se a comparação for com o mesmo trimestre móvel de 2021 (terminado em maio), ou seja, com um período ainda bastante deprimido por conta da pandemia, o comércio lidera, com mais 2,5 milhões de pessoas trabalhando; depois vem a indústria, com mais 1,2 milhão de ocupados; e o segmento de alojamento e alimentação, com um saldo positivo de 1,1 milhão de trabalhadores. 

Para a Bahia, os resultados mais recentes são os do primeiro trimestre de 2022, de janeiro a março,, mas já havia sido registrado um avanço importante, com os principais índices mostrando recuperação e melhores até do que no pré-pandemia. No estado, frente ao primeiro trimestre de 2021, as atividades que mais tinham aumentado o número de trabalhadores haviam sido a agropecuária, com mais 136 mil pessoas ocupadas; e o comércio, com mais 107 mil. O perfil é um pouco diferente no estado, por conta desse protagonismo da agropecuária, que conseguiu inclusive segurar seus postos de trabalho ao longo dos dois primeiros anos da pandemia.

FB. Como o cidadão pode aproveitar esse cenário para se recolocar no mercado de trabalho?

MV: Em qualquer momento, e sobretudo quando ainda são sentidos efeitos de crise econômica, alguns fatores ajudam bastante na hora de conseguir um trabalho. Ter qualificação e conhecimentos atualizados nas áreas em que se buscam as vagas; ter um olhar amplo para as oportunidades, sem deixar de lado quais são as áreas de atuação preferenciais; buscar o máximo possível de canais e meios para acessar as vagas existentes (serviços de intermediação, sites, as próprias empresas/ instituições em que há interesse em trabalhar); e acionar as redes de contatos pessoais e profissionais, para buscar saber sobre eventuais oportunidades. É importante também ter alguma resiliência e insistência, pois sabemos que a recuperação após uma crise tão aguda nunca se dá no mesmo ritmo da crise em si. É mais lenta. Ou seja, as vagas ainda não estão surgindo na mesma proporção em que cresce a demanda por trabalho.

FB. Diante da redução na taxa do desemprego em maio deste ano, qual a expectativa para o segundo semestre? Há possibilidade de ter um aumento ou o recuo deve permanecer?

MV: O mercado de trabalho tem uma sazonalidade ao longo do ano, mostrando historicamente uma tendência de queda da desocupação no terceiro e quarto trimestres, sobretudo neste último. Isso está relacionado ao aumento de contratações, mesmo que temporárias, para incrementar a produção da indústria e o atendimento nos serviços e comércio, tendo em vista o aquecimento das diversas demandas de consumo no final do ano. E também tem a ver com uma redução na procura, típica sobretudo do quarto trimestre, quando muitas pessoas param de buscar trabalho, pensando em retomar esse movimento no início do ano seguinte. Isso por si só já traz uma perspectiva postiva para o segundo semestre.

FB. Mesmo com o recuo na taxa do desemprego, a informalidade ainda é alta e representa mais de 40% de todas as vagas. Há uma explicação para isso?

MV: O aumento do trabalho informal é um fenômento esperado após períodos de crise econômica. A retomada da ocupação costuma ser puxada pelas vagas informais, que são uma forma mais “fácil” de entrar ou retornar ao mercado de trabalho, quando a estrutura produtiva também está se recuperando e não tem ainda um dinamismo suficiente para gerar vagas formais que atendam à demanda. Mas o que se percebeu também, no Brasil como um todo, foi um aumento recente do número de empregados com carteira assinada, em menor proporção que os informais, mas ainda assim significativa.

FB. A região Nordeste também registrou queda no primeiro trimestre encerrado neste ano (14,9%), na comparação com o mesmo período de 2021 (18,9%), de acordo com a PNAD Contínua. Quais os três estados que lideram a taxa de desemprego? A Bahia ainda segue no ranking?

MV: No primeiro trimestre de 2022, os três estados com as maiores taxas de desocupação eram do Nordeste: Bahia (17,6%), Pernambuco (17,0%) e Sergipe (14,9%). A Bahia, portanto, liderou o ranking nacional do desemprego, o que não ocorria desde o primeiro trimestre de 2021. Ainda assim, a taxa de desocupação baiana foi a menor para um primeiro trimestre em seis anos, desde 2016.

FB. Os baianos também podem esperar por uma queda na taxa do desemprego ou para o estado essa realidade ainda está longe?

MV: Embora o IBGE não faça previsões, tendo em vista a sazonalidade típica do mercado de trabalho e a retomada crescente e aparentemente sustentada das atividades econômicas, tudo aponta para boas perspectivas de redução do desemprego. O que teremos de esperar para ver é em que ritmo isso vai ocorrer no estado e qual será a qualidade do trabalho oferecido e conseguido pelas pessoas, ou seja, quanto dele será informal ou temporário.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:[email protected]

Faça seu comentário