Uma homenagem ao santo da cura: último domingo de janeiro marca Festa de São Lázaro em Salvador
Em 2023, celebrações são realizadas no dia 29
Foto: Reprodução/TV Bahia
O último domingo de janeiro marca uma tradição religiosa em Salvador: a Festa de São Lázaro. Em 2023, a celebração será no dia 27 e marca o retorno completo dos festejos.
"Em 2021 não houve festa e em 2022 fizemos uma missa com número restrito de pessoas e apenas uma carreata, evitando aglomeração, por causa da pandemia da Covid-19. Agora, voltaremos com todos os ritos de costume", explicou o Padre Cristóvão Przychocki, pároco da Igreja de São Lázaro, no bairro homônimo, onde acontecem as festividades.
As celebrações começam com missas especiais em homenagem ao santo nas duas segundas que antecedem o Dia de São Lázaro, nos dias 16 e 23, em que padres de outras paróquias são chamados. Já no domingo da festa, uma alvorada inicia os eventos, com fogos, e depois são realizadas as missas, às 7h, às 9h e às 11h.
O terço é rezado às 14h e, por fim, às 15h, a missa festiva encaminha os devotos para a procissão, levando a imagem de São Lázaro. Os fiéis seguem pela rua da igreja, vão até o Cemitério Campo Santo, na Federação, e retornam ao templo religioso para receber a bênção, com o Santíssimo Sacramento. Depois disso, a festa continua do lado de fora da igreja, no largo, até anoitecer.
História
De acordo com o padre Cristóvão, a tradição da festa é secular e começou com a história da própria igreja, que ficou marcada pelo período de escravidão no Brasil.
"A festa de São Lázaro surge a partir da igreja, que tem uma história muito densa. Foi construída pelos escravos que vieram durante a colonização da África. E aqui foram colocadas as pessoas que contraíram lepra nos navios negreiros, por isso fica afastada do centro. Depois da abolição, esse local se tornou referência para quem busca conforto, cura física ou espiritual. Essa igreja e São Lázaro acabaram tomando grande importância em Salvador e, para homenageá-los, foi iniciada a tradição da festa".
Hoje em dia, os fiéis lotam a igreja e a procissão. Para muitos, a celebração já é um compromisso marcado no primeiro mês do ano. Esse é o caso da bióloga Thayana Andrade, que é devota de São Lázaro, por influência da mãe, a enfermeira Marildes Andrade.
As duas vão juntas todos os anos, desde quando Thayana era pequena, e agora vão matar a saudade da festa no formato original.
“É uma sensação incrível estar todos os anos na procissão, com todos juntos cantando e rezando em homenagem a São Lázaro, de quem eu sou devota, por causa da minha mãe, que também é devota dele desde que chegou em Salvador. Ela morava em Feira de Santana [centro-norte da Bahia] e, quando veio morar na capital baiana, há 33 anos, se mudou para a região da Federação, bem perto da igreja. Como era a missa mais próxima da casa dela, minha mãe ia sempre lá, conheceu mais sobre a história do santo, criou um afeto pelo local e acabou virando devota e passando isso para mim quando eu nasci”, contou ela.
São Lázaro
E justamente a história de São Lázaro, pela qual Marildes se encantou, é um ponto destacado pelo padre Cristóvão.
O religioso chama a atenção que este não é o Lázaro que foi ressuscitado por Jesus, em uma das histórias mais conhecidas da Bíblia, mas sim da história O Rico e o Pobre Lázaro, do Evangelho de Lucas.
Nesta passagem do livro sagrado, é contado que Lázaro era um homem muito pobre, com feridas pelo corpo, que vivia em frente à casa de um rico. O abastado nunca estendeu a mão a Lázaro e passou a vida desfrutando de tudo de melhor. Quando os dois morreram, o pobre foi acolhido aos céus e o rico, mesmo suplicando, foi enviado ao inferno.
"São Lázaro é a representação da humildade e da fé em Deus. Mesmo com uma vida de tormentos, ele tinha o coração tranquilo de que seria recompensado no Reino dos Céus, e assim aconteceu. Este santo é a imagem daquele que crê que nunca será abandonado. E por ter convivido com enfermidades durante tanto tempo, ao ser santificado, ele recebe o dom da cura", detalhou o padre Cristóvão.
Sincretismo religioso
No sincretismo, São Lázaro representa Omolu para as religiões de matrizes africanas. Para homenagear o Orixá da Cura, velas são acesas na escadaria da igreja e é realizado ainda um banho de pipoca.