Unicef exige apuração da Polícia Federal sobre yanomamis desaparecidos em Roraima
Denúncias são relacionadas ao sumiço de adolescente e criança da comunidade Aracaçá

Foto: Lucas Lima/ISA
O Fundo das Nações Unidas (Unicef) solicitou, nesta quinta-feira (5), que a Polícia Federal continue as investigações relacionadas a denúncia de que uma adolescente yanomami de 12 anos e uma criança de quatro anos desapareceram da comunidade de Aracaçá, localizada na região de Waikás, na terra indígena Yanomami, em Roraima. As informações são da Folha de S. Paulo.
O presidente do Condisi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana), Júnior Hekurari Yanomami, foi o responsável pela denúncia, realizada há dez dias. De acordo com a PF, as investigações não encontraram indícios de estupro e morte da adolescente, como diz a denúncia, após inspecionar o local da aldeia.
O espaço foi encontrado queimado, sem os yanomamis. Lideranças indígenas afirmaram que esses povos têm a tradição de queimar e evacuar o lugar onde moram se algum parente morre.
Através de nota, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), afirma lamentar a violência sofrida pelas crianças e pelo povo yanomami, além de fazer um apelo para às autoridades brasileiras para que investiguem a denúncia afim de identificar com urgência os responsáveis.
"O Unicef lamenta cada vida interrompida e expressa a sua solidariedade com o povo yanomami. O presente relato soma-se a uma série de outros atos de violência contra crianças e adolescentes indígenas, incluindo a violência sexual, cometidos por garimpeiros que atuam de forma ilegal em Terra Yanomami", diz o comunicado.
Como alternativa de segurança, o órgão afirma que é necessário assegurar a proteção e a prevenção de todos os tipos de violência contra as crianças e os adolescentes indígenas. Uma campanha está sendo realizadas nas redes sociais, realizada pela Articulação de Povos Indígenas no Brasil (Apib), questionando "Cadê os yanomami".
Durante sessão do STF (Supremo Tribunal Federal), no dia 29 de abril, os ministros Cármen Lúcia e Luiz Fux falaram do caso. Fux classificou a denúncia como "gravíssima" e Cármen Lúcia afirmou que mulheres indígenas são massacradas sem que a sociedade e o Estado tomem providências eficientes e pediu investigação rigorosa.
O presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami, afirmou que após algum tempo no local teve contato com indígenas que relataram ter recebido ouro em troca de silêncio sobre o que ocorreu na aldeia.
Dario Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), afirmou que também está buscando formas de investigar a denúncia, mas encontra dificuldades de acesso na região. A Hutukara publicou em abril o relatório "Yanomami Sob Ataque: Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami e Propostas para Combatê-lo"
Maurício Iximaweteri Yanomami, que está na Europa participando de ciclos de palestras para falar sobre a condição do território, afirmou que é costume deste povo indígena receber a informação do óbito e fazer a cremação para proceder com os rituais e tradição dos yanomami.
Já o representante da Secoya (Associação Serviço e Cooperação com o povo Yanomami do Amazonas) afirma que a tentativa de coibir crimes contra os indígenas não terá efeito com ações pontuais. "Tem um quadro posto que revela falta de vontade política do governo para resolver. Precisa de novos pontos de vigilância e fortalecimento de vigilância nos que já existem na terra indígena."
Para finalizar, o professor doutor em Sociologia da UEA (Universidade do Estado do Amazonas) e Coordenador do Nesam (Núcleo de Estudos Socioambientais da Amazônia), Pedro Rapozo, avalia que o não avanço sobre o caso, neste momento, esbarra em três pontos. Entre eles estão uma São eles: uma denúncia sem provas materiais, a desestruturação dos órgãos de fiscalização e proteção de indígenas e a condição de violência e invasão do território yanomami.
Com base neste contexto, nada pode ser confirmado e nem descartado. Uma das deficiências é a ausência de profissional especializado na cultura do povo yanomami como parte da investigação.
O Ministério Público Federal de Roraima informou que acompanha as investigações da PF e aguarda a conclusão do inquérito. O órgão avalia que a investigação não seja concluída em poucos dias.