Vídeo: Abra seu coração para acordo com o Mercosul, diz Lula a Macron
Lula disse que, se necessário, voltará à França para convencer os agricultores franceses

Foto: Fabio Charles Pozzebom / Agência Brasil
Lula colocou Emmanuel Macron em uma saia justa, em dois momentos da entrevista coletiva dos dois presidentes no Palácio do Eliseu, nesta quinta-feira (5), ao garantir que o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul será assinado durante a presidência rotativa brasileira do bloco sul-americano, que vai de julho a dezembro.
"Meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul", disse Lula no início da entrevista, arrancando um sorriso enigmático do presidente francês.
"Quero aqui, Macron, afirmar na frente da imprensa brasileira e francesa que eu assumirei a presidência do Mercosul no próximo dia 6 [de julho] e ao assumir a presidência em um mandato de 6 meses, eu quero lhe comunicar que não deixarei a presidência do Mercosul sem concluir o acordo com a União Europeia", afirmou Lula em um primeiro momento.
No final da entrevista, ele voltou ao assunto sem que fosse perguntado.
"Estou dizendo aqui para a imprensa francesa. Eu tenho seis meses de mandato no Mercosul. E quero dizer aqui que eu deixarei a presidência do Mercosul com o acordo com a União Europeia e o Mercosul firmado."
Macron foi claro em sua resposta. Elogiou o "entusiasmo" de Lula, mas reiterou a oposição francesa, alegando que os produtores do Mercosul não estão sujeitos às mesmas normas sanitárias que os da União Europeia.
"Este acordo, no momento estratégico que nós vivemos, é bom para muitos setores, mas faz levar um risco para a agricultura dos países europeus. Por quê? Porque nós pedimos aos agricultores europeus que mudassem as suas práticas. Mas os países do Mercosul não estão no mesmo nível regulamentar. Eu não saberia explicar aos agricultores como, no momento em que eu lhes peço que respeitem mais normas, eu abro maciçamente o meu mercado a quem não respeita nada. Então é por isso que, como disse antes, nós devemos melhorar este acordo".
Lula disse que, se necessário, voltará à França para convencer os agricultores franceses. Grupo politicamente influente, eles são os maiores opositores ao acordo, argumentando que prejudicará a agropecuária local.
"Se precisar, eu venho conversar com os agricultores para mostrar para eles que eles vão ganhar com o acordo. Estou convencido, Macron, que eles vão ganhar. Se você quiser, eu levo um grupo de agricultores para o Brasil, ou eu trago um grupo aqui, vamos sentar em uma mesa qualquer aí e conversar. Eu tenho certeza que a gente faz o acordo. Como eu sou muito otimista, eu vou regressar para o Brasil certo de que ainda vamos fechar o acordo com esse sorriso de Macron", completou Lula, olhando para o presidente francês, que sorriu novamente.
O tratado aumenta as cotas de importação sem tarifas de uma série de produtos dos dois blocos. No caso do Mercosul, o principal contencioso diz respeito à exportação de carne para a União Europeia, embora a cota prevista no acordo represente menos de 2% do consumo europeu.
A rejeição ao acordo é praticamente unânime entre os políticos franceses, dos extremos ao centro, devido ao temor de perder votos. Os agricultores bloquearam estradas no ano passado, com o apoio da população, em protesto contra as regras da União Europeia e o possível acordo com o Mercosul.
No ano passado, União Europeia e Mercosul anunciaram a assinatura do tratado em um encontro em Montevidéu, no Uruguai. Mas ele ainda precisa passar por instâncias europeias para entrar em vigor. A França busca o apoio de pelo menos três outros países do bloco para barrá-lo.
Veja vídeo:
Eu assumirei a presidência do Mercosul no próximo dia 6, para um mandato de seis meses. Hoje comuniquei ao presidente @EmmanuelMacron e à imprensa brasileira e francesa que eu não deixarei a presidência do Mercosul sem concluir o acordo com a União Europeia. Portanto, meu caro… pic.twitter.com/h18QmbdEzk
— Lula (@LulaOficial) June 5, 2025