Vídeo: banhistas e ambulantes opinam sobre redução de barracas no Porto da Barra após medidas da prefeitura
Trabalhadores precisam cumprir regras impostas pela Semop, de usar os kits por demanda
Foto: Farol da Bahia
Quem frequenta a praia do Porto da Barra, em Salvador, percebeu nesta semana uma redução drástica no número de cadeiras e sombreiros na faixa de areia. A medida foi determinada pela prefeitura, através da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), após denúncias de banhistas sobre a falta de espaço no local. Como forma de equilibrar o acesso, a pasta ordenou que os barraqueiros utilizassem os kits por demanda, cada um composto de uma mesa, um sombreiro e três cadeiras.
A ordem, no entanto, não foi bem recepcionada pelos trabalhadores, que discordam da limitação de kits e alegam que a quantidade não supre as demandas e pagamentos dos funcionários.
O Farol da Bahia foi ao Porto da Barra, em Salvador, nesta quarta-feira (29) entrevistar banhistas e ambulantes após a Prefeitura de Salvador determinar através da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), que os kits dos barraqueiros seriam disponibilizados por demanda. A decisão da pasta ocorreu após um vídeo mostrando a faixa de areia do Porto da Barra lotada de cadeiras e sombreiros, ocupando todo o espaço, viralizar.
Filha e neta de barraqueiros, Graziela afirmou ao Farol da Bahia que a Semop e a população deveriam rever sobre a limitação de kits por barraca, principalmente porque são os banhistas que procuram as cadeiras e os sombreiros.
"Eu acho que a população deveria rever que a gente está aqui trabalhando, buscando o nosso pão de cada dia e a única renda de muitos é aqui. A gente não pode simplesmente dizer que não vai ter mais cadeira e sombreiro sem rever que as pessoas precisam. É importante ter uma organização melhor e a gente concordou em deixar o material encostado na parede e só colocar na faixa de areia quando os nossos clientes solicitarem. E querendo ou não, a população está sendo hipócrita porque eles são os primeiros a chegarem aqui e pedir pelo nosso serviço", destacou a barraqueira.
Graziela também apontou que a redução da quantidade de material prejudica o financeiro da barraca. No local em que ela trabalha, a média de cadeiras alugadas variava entre 60 e 80, mas com a determinação da Semop, passa a ser de apenas 30 cadeiras. "Antes de tudo isso, estávamos colocando entre 60 e 80 cadeiras. Agora depois dessa determinação, a Semop limitou para 10 kits. A gente está tentando cumprir, mas quando chega o cliente querendo, vamos deixar de atender? Sendo que temos mais material guardado no depósito?", questionou.
"Tive uma cliente que queria alugar cadeira e sombreiro esses dias, mas os meus [10] kits já estavam todos alugados. Tinha espaço para botar mais, mas não pudemos usar porque a prefeitura e a Semop colocaram esse limite", acrescentou.
A mesma situação preocupa a barraqueira Amanda Barateira, como é conhecida na localidade. À reportagem, ela explicou que tem cumprido a determinação de deixar o material fora da faixa de areia e colocar apenas quando for solicitado pelo cliente, no entanto, vê dificuldade em cumprir a ordem de atuar com apenas 10 kits.
"Eles pediram para a gente colocar o material no canto e só colocar na areia quando o cliente pedir e estamos obedecendo essa ordem, mas isso de limitar a quantidade não tem como. Se for assim, eles precisam limitar a quantidade das pessoas descerem porque eles liberam 40 cadeiras, mas se vierem 50 clientes pedindo? Vamos deixar eles em pé?", questiona a trabalhadora.
"Com essa quantidade de cadeiras apenas, não vai ter como pagar os salários [dos funcionários]. Aqui na barraca são três diaristas mais cinco pessoas que ficam abordando os clientes na parte de cima. A gente já demitiu três e assim, sem o emprego, o menino pode se tornar um ladrão, fazendo coisa errada. É isso que eles querem ver, uma mãe chorando por ter perdido o filho para a criminalidade", disse.
Amanda acredita que uma solução que favoreça os trabalhadores e os banhistas é retirar a limitação da quantidade de material. "Na minha opinião, a gente deveria deixar a nossa mercadoria no canto e quando o cliente fosse chegando, a gente ia colocando. A gente pagou essa mercadoria, cada cadeira dessa é 180 reais. Vai ficar parado agora no verão? Isso prejudicou muito a vida da gente", afirmou.
O que dizem os banhistas
O Farol da Bahia também ouviu a opinião dos banhistas sobre a redução das barracas no local. Para a baiana Raír, é necessário pensar que há frequentadores que gostam de ficar sem cadeira e sombreiro, apenas com a canga. Mas também entende que os barraqueiros precisam trabalhar e ter o ganha pão. "Eu penso que é importante que se tenha uma faixa de areia para as pessoas que querem ficar como eu estou [sem barraca], mas eu também percebo que as pessoas gostam muito de alugar cadeira porque gera um conforto. Acho interessante essa mesclagem porque também não tira a renda das pessoas que estão aqui pelo ganha pão. Eu acho que um acordo é sempre mais interessante do que a radicalidade", disse.
A turista paulista Marilúcia explicou à reportagem que da primeira vez que veio a Salvador não teve onde ficar por causa da quantidade de pessoas e barracas na faixa de areia, mas reforçou a importância da consciência para os trabalhadores e banhistas. "Sou de São Paulo e estou aqui de férias, mas da primeira vez que vim realmente não tinha onde ficar porque estava bem lotado. Eu acho que a pessoa tem que ter consciência porque tem que ser para todo mundo. Hoje aluguei apenas a cadeira, está um preço razoável para pagar, então não tenho o que falar", disse.
Moradora de Salvador, Railda afirmou que visitou a praia do Porto da Barra depois de cinco anos, após ficar sabendo das novas medidas da prefeitura. Segundo ela, a abordagem excessiva foi um dos principais motivos que a fez deixar de aproveitar o espaço.
"Tem mais ou menos cinco anos que eu não frequento essa praia porque era realmente complicado chegar. De lá de cima a gente já começava a ser abordado por diversas pessoas perguntando onde iríamos sentar. Depois de todos esses anos, quando vi na televisão que não ia ter toda essa quantidade de barracas, eu vim logo cedo. Eu vejo a possibilidade das pessoas usufruírem de uma área de lazer de uma forma gratuita, de levarem sua canga, seu sombreiro e ter onde sentar, de uma forma tranquila, sem ser abordado", destacou a baiana.
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