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Vídeo: "Não concordo com candidatos religiosos porque a Igreja não é o Estado", diz padre sobre Kelmon

Em entrevista ao Farol da Bahia, a fé e a política foram abordadas

Por Da Redação
Ás

Atualizado
Vídeo: "Não concordo com candidatos religiosos porque a Igreja não é o Estado", diz padre sobre Kelmon

Foto: FB Comunicação

A pesquisa sobre a Igreja Católica Ortodoxa no Brasil cresceu 100% no último ano, segundo o Google Trends. Em entrevista exclusiva ao Farol da Bahia, o Padre Miguel Phellype, da Igreja Ortodoxa Nossa Senhora dos Aflitos em Fazenda Rio Grande (PR), falou sobre as principais diferenças entre as denominações e o crescimento da religião no Brasil.

Durante o bate-papo, o sacerdote declarou que não concorda “com candidatos religiosos porque a Igreja não é o Estado", ao ser questionado sobre a participação do Padre Kelmon no pleito para Presidência da República em 2018.

No Brasil, há aproximadamente 131.571 cristãos ortodoxos, de acordo com o último censo divulgado pelo IBGE em 2010, embora esses números possam estar defasados, especialmente considerando o crescimento global dessa denominação.

Casado e pai de dois filhos, Padre Miguel destacou os motivos de sua escolha pela Igreja Ortodoxa, além de abordar o preconceito religioso e a participação de cristãos na políti

Farol da Bahia (FB): Como foi o início de sua vocação?

Padre Miguel: “A minha vocação se deu através da experiência na igreja com a minha avó. Nós participávamos muito do apostolado da oração e de muitos movimentos da própria igreja. Um dia, ela foi a um encontro, e eu senti que havia um chamado. Senti aquele desejo no meu coração de que eu tinha que servir ao Senhor mais de perto. [...] Então fui sentindo aquela chama cada vez mais forte e comecei a participar do que chamamos de encontro vocacional. Antes de entrar no seminário, a pessoa participa de vários encontros para discernir se é isso mesmo que ela quer, se quer ter essa experiência no seminário, iniciar os estudos ou se talvez seja algo da cabeça dela. Foi aí que ingressei no seminário aos 15 anos para iniciar os estudos.”

FB: Por que optou pela Igreja Ortodoxa?

Padre Miguel: “Inicialmente ingressei no seminário da Igreja Católica Romana, onde permaneci por aproximadamente quatro anos. Tivemos uma aula com um padre que foi cerimonialista do Papa João Paulo II na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Ele disse as seguintes palavras: 'A Igreja Ortodoxa é tão Igreja de Cristo quanto a Igreja Católica Romana, porque ambas procedem dos Santos Apóstolos'. Essa frase me marcou muito. Na minha região, não existia a Igreja Ortodoxa, mas essa experiência despertou minha curiosidade. Comecei a pesquisar e fui compreendendo a tradição e os costumes, e me apaixonei pela tradição ortodoxa.”

FB: Qual é a relação entre as duas igrejas?

Padre Miguel: “Ambas as igrejas eram uma só até o ano 451. Depois, no Concílio de Calcedônia, houve uma grande cisma, mas as igrejas caminham muito próximas. Ambas reconhecem os sacramentos uma da outra. Temos um acordo com a Igreja Católica Romana, no qual, onde não houver uma igreja de sua denominação, o fiel pode frequentar a outra para receber o batismo, a eucaristia e a crisma.”

FB: Diferente da Igreja Católica Romana, o senhor é casado e tem filhos. Como funciona essa questão na Igreja Ortodoxa?

Padre Miguel: “O celibato não é obrigatório. Antes da ordenação, a pessoa pode decidir se será um sacerdote casado ou monge. Isso precisa ser decidido antes da ordenação, pois, a partir do momento que uma pessoa faz os votos de monge de pobreza, castidade e obediência, não pode voltar atrás. [...] Há pessoas que têm a vocação sacerdotal, como eu, mas que também querem se casar. Essa questão é muito importante porque, com a obrigatoriedade da castidade, temos experiências ruins. Algumas pessoas vivem a santidade, mas outras acabam deprimidas ou oprimidas.”

FB: Como é a relação entre paternidade e o sacerdócio?

Padre Miguel: “O primeiro ministério de um sacerdote é a sua casa, sua família. Essa é a nossa primeira obrigação, porque a igreja começa dentro do nosso próprio lar. Minha igreja começou com o exemplo da minha avó, sua devoção, oração e participação na igreja. Ela transformou nossa casa em um templo, e isso me marcou muito. Nós, padres casados, temos dois desafios: a igreja e a família. Mas temos um desafio ainda maior, que é ser um exemplo de pai. Para sermos pais da comunidade, a palavra 'padre' significa pai. Então, temos esse desafio de catequizar nossa casa, ser exemplo de família para catequizar também a nossa igreja.”

FB: Como manter a tradição num país tão diverso como o Brasil?

Padre Miguel: “A primeira coisa que precisamos lembrar é que 'ortodoxo' significa fé correta, a fé que não se alterou, não se diminuiu, mas que permanece desde os apóstolos até hoje, sem mudar ou ser alterada.”

FB: Como o senhor lida com o preconceito religioso?

Padre Miguel: “À medida que as pessoas conhecem a igreja, veem que ortodoxo não é muçulmano. Muitos confundem, mas nós somos cristãos, os primeiros cristãos. Há quem tenha preconceito com padres casados e com a Igreja Ortodoxa, mas combatemos a intolerância e a desinformação com amor, como Cristo nos ensinou. O que constrange um inimigo? O que constrange alguém agindo de má-fé ou praticando desinformação é o amor de Deus. Quando amamos, mesmo que discordemos, podemos ter um mundo, uma família e um país melhores.”

FB: Em 2018, o Padre Kelmo se candidatou à Presidência da República e ganhou visibilidade, o que trouxe repercussão da relação dele com a Igreja. Qual sua opinião sobre a relação entre religião e política?

Padre Miguel: “A relação entre religião e política exige muita prudência. Um padre ser necessariamente um candidato não é bom para a visão da igreja. Nossa igreja não tem comunhão com essa Igreja Ortodoxa do Peru, e por isso não reconhecemos seus sacramentos. Eu não sou favorável a um padre se candidatar. Um padre pode apoiar alguém, mas com muita discrição e cautela. No entanto, não concordo com a candidatura de padres, porque igreja é igreja, e estado é estado.”

Veja o vídeo da entrevista na íntegra: 
 

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