A roda de Candomblé: uma aproximação com a Ancestralidade

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A roda de Candomblé: uma aproximação com a Ancestralidade

Comida, música e dança são elementos fundamentais na religião do Candomblé. Do nascimento ao fim das atividades biológicas de todos os seres humanos candomblecistas, tudo gira em torno destes três elementos. As festas, também chamadas de xirê (ṣire), momentos de regozijar todos os nossos pedidos e agradecimentos aos pés dos Orixás, onde nas danças – coletivas ou individuais – uma roda se forma, fazendo deste movimento símbolo de elo representativo da união com o sagrado: afirmando que este círculo não tem fim. 

A roda do Candomblé é formada no sentido anti-horário, tendo a intenção de retrocesso transcendental, deixando-nos mais próximos da nossa Ancestralidade. No primeiro momento do xirê, canta-se para todos os Orixás: onde gestos coreográficos demonstram situações vividas por cada Orixá. O segundo momento das danças traz a chegada dos Orixás em terra que, manifestados em seus filhos, dançam livremente por todo o barracão de festas, abraçando e saudando os presentes. Por fim, o terceiro momento: quando os Orixás reaparecem vestidos com suas roupas de gala, mostrando, então, a beleza que pode ser vista pelos não iniciados. É neste momento que os Orixás esbanjam todo o seu Axé. Eles dançam soberanos, onde todos os gestos dialogam com os cânticos e os sons dos Atabaques. Ali a pessoa manifestada ultrapassa as barreiras humanas: quem responde é o Orixá ali apresentado, e quanto a nós que não nos manifestamos, basta ter a sensibilidade em receber o Axé que emana no ar. Já na dança individual que normalmente acontece em Axexê ou em Bori, o círculo tem a mesma proposta. No entanto, esta reverência se torna particular, pois a pessoa que dança compartilha todo o seu Axé, além de homenagear o ovacionado.

Esta herança Ancestral também pode ser vista em outros tipos de manifestações não litúrgicas: as rodas de capoeira, por exemplo. Neste esporte/dança, o capoeirista cumprimenta o outro em sinal de respeito, antes de iniciar o jogo. Este círculo composto pelos capoeiristas também conta com os instrumentistas que, harmonicamente, tocam: berimbau; atabaque; pandeiro; agogô e reco-reco, junto às canções específicas de cada momento. A capoeira é mais uma manifestação deixada pelos povos oriundos de África que carrega sua simbologia sagrada. Por este motivo, a roda de capoeira é tida como um local de conhecimento, onde o ato de observar os mais velhos é o ponto de partida do aprendizado, assim como se dá na convivência dentro do Terreiro de Candomblé. 

Outra roda bastante conhecida é a roda de samba. O Semba, música popular angolana, ritmo predominante da época escravista e que, até os dias atuais, é difundida na diáspora como Samba, significa: umbigada. Esta é uma ação realizada no ato da dança quando a pessoa que está dançando tira outra pra dançar com a umbigada. Na roda de Samba acontecem as mais variadas vertentes do Samba: Samba Chula; Samba Junino; Samba de Partido Alto; Samba Enredo; Coco de Roda, dentre outros. É exatamente nestes círculos de boas energias que o Samba acontece, fazendo jus ao seu real significado. A palavra Samba é oriunda do etmo bantu, “Kusamba”, que significa: o ato de orar ou rezar (PESSOA DE CASTRO, Yeda, 2007, p.32-33).

E como disse o poeta Vinícius de Moraes:

“(..) Fazer Samba não é contar piada.
E quem faz Samba assim não é de nada.
O bom Samba é uma forma de oração...”       

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