Causou grande movimentação nas redes sociais a capa da revista Veja São Paulo, quando publicou, nesta última sexta-feira, em homenagem ao aniversário da cidade paulista, colocando São Paulo como a capital do Nordeste, o que não agradou nem um pouco à grande maioria de nós, nordestinos. Os perfis oficiais no Twitter das prefeituras das capitais Salvador, Fortaleza, Aracaju, Natal e Recife resolveram, inclusive, fazer brincadeira com a matéria - "A Capital do Nordeste: os novos migrantes que reinventam o design, a gastronomia, as startups e outras atividades da metrópole, que completa 467 anos", é a frase que acompanha a foto de seis "nordestinos imigrantes". Ora, ora, claro que nós brasileiros temos grande orgulho da metrópole que se tornou São Paulo, todavia ela cresceu porque concorreu para este status brasileiros de todos os rincões, com sua criatividade, ação, trabalho...
Infelizmente, mais uma vez, se descura da riqueza do Nordeste e o estereotipa. A revista Veja guarda, talvez no tal inconsciente coletivo, tão bem explicado e concebido pelo pai da psicologia analítica, Jung, uma espécie de lógica colonialista, ou mesmo eugenista misturada com uma concepção higienista, que se revelou na virada do século XIX para o XX no Brasil do Sudeste. Ocorreu nas grandes construções, avenidas e bairros, que visam à importação de hábitos estrangeiros, como projetos de cidade, como os Campos Elíseos, Higienópolis e Bela Vista, que serão foco de atenção das elites e autoridades. Busca-se a estética, a comida, a forma de vestir, as festas...tudo baseado nos costumes parisienses, difundidos pelas camadas privilegiadas como sinal de elegância, cultura, refinamento, e, claro, bom gosto. E aí, naturalmente, não cabia o pobre, o favelado, o preto, o nordestino. Renegava-se o modo nacional para se voltar à vida europeia, inclusive facilitando aos imigrantes (que claro engrandeceram esta Nação) terras, recursos de adaptação que os brasileiros nordestinos e os recém libertos da escravidão não tiveram.
Era também conhecida com Tese do branqueamento, que teve grande repercussão no Brasil, no início do século XX, entre intelectuais, como João Baptista de Lacerda, que inclusive participou, em 1911, do Congresso Universal das Raças, em Londres. O nordestino ou como alguns querem desqualificar nos chamando de paraíbas, ou mesmo baianos, queremos apenas ser respeitados pelo que fizemos e fazemos por este País, guardando o orgulho de sermos o maior contingente de negros do Brasil, o que não foi representado na tal capa da revista Veja. Não se trata, assim, de bobagens que, certamente, muitos colocaram, mas de reconhecimento de um todo de um país, sem distinções e ou exclusões, apenas brasileiros nascidos aqui, ali e acolá, mas brasileiros.