Crepúsculo dos ídolos

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Crepúsculo dos ídolos

A filosofia de Nietzsche, marcada pela rejeição ao iluminismo e ao racionalismo, tão em voga na revolução francesa, saiu com essa máxima indiscutível: “sem música a vida seria um erro”. Realmente, só para ficarmos na música popular  brasileira, o que seria de nós se não tivéssemos as  canções de  Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Gilberto, Chico Buarque, Paulinho da  Viola, Tomzé, Djavan, Roberto Carlos, Milton Nascimento, Zeca Pagodinho e tantos outros  luminares, que enriqueceram nosso cancioneiro popular?

Não só as suas músicas magistrais, mas seus poemas preencheram o vazio, dando sentido e cores vivas à nossa história social, que bem poderia ser reconhecida na variedade extraordinária de seus dramas contemporâneos e no romance amoroso do povo. O tempo passará, nós passaremos e suas criações permanecerão gravadas em nossa História.

São, todos eles e mais um conjunto interminável de  criadores geniais, testemunhas de um tempo e de uma imensa massa crítica, carregada de  emoções e de criatividade de um povo, os quais não permitiram que se  extinguisse a predição de Castro Alves, quando afirmou que sentia em si “o borbulhar” do gênio.

Nunca imaginamos antes dos tempos  atuais, que  boa parte, quase  a  totalidade dos nosso ídolos  do passado, jogassem a carga ao mar, renegassem o passado de glórias e  conquistas e fossem capturados numa  armadilha política, através  da  qual idolatrassem falsos líderes, a ponto de  assumir como virtudes, o crime, a corrupção e a destruição dos  valores democráticos, que tanta luta e tanto sangue exigiu do nosso povo. Assemelham-se ao povo de Deus, em desespero, ao invés de aguardar a volta de Moisés de sua peregrinação ao Monte Sinai, escolheu para  adorar o bezerro de  ouro. 

Reluto em aceitar a profecia de um dos autores mais representativos do pensamento cristão, G.K. Chesterton, certamente em um momento de grande desolação, viu-se obrigado a  constatar que “a decadência da  sociedade é louvada pelos  artistas assim como a  decadência de um defunto é louvada pelos vermes”. A premonição do grande escritor inglês, todavia, vem se confirmando a cada passo que assistimos, igualmente desolados, esses gênios criadores de mãos dadas com os poderosos, os mesmos que no passado ofereceram ao mundo o maior e mais nojento espetáculo de corrupção e reproduzem hoje a demolição da Democracia e do estado democrático de direito, eliminando um por um os instrumentos garantidores das liberdades individuais. 

A Nação brasileira, depois de tudo que já lhe sucedeu, não abre mão do império das leis e da Constituição. Os que se opõem a desordem e ao vexame moral que estiola os princípios fundamentais de uma sociedade livre, não significa tenham aderido a nenhuma das correntes políticas em disputa no cenário atual, mas a serena convicção de que a defesa da Democracia é o único caminho da prosperidade e da felicidade de um povo.

Desse compromisso, o compromisso democrático não nos  afastaremos, porque fora dele é a Ditadura, sem meias palavras. Ao ser preguntado se estava vivendo sob uma  Ditadura, pelos  corifeus do Estado Novo, Otávio Mangabeira, simplesmente, respondeu: “Que chapéu era chapéu e Ditadura era Ditadura!”

Comentários

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lidia Santana
Esses "luminares" estão mortos há muito tempo, e ainda posam de vanguarda do atraso.
Lucialdo Luvio
Sempre enriquecedor , muita intelectualidade, Marcelo pode plagiar Castro Alves e dizer que sente borbulhar um gênio nele.

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