A expectativa de todos era ouvir os discursos de Lula e Trump, analisa-los, ver o que cada um tinha a dizer, e avaliar o quanto subiu a temperatura neste momento em que os dois pa&iacute;ses duelam por raz&otilde;es bem conhecidas e que dividem as opini&otilde;es de muitos brasileiros. 
Lula dedicou quase a metade do seu discurso para tecer duras cr&iacute;ticas aos Estados Unidos da Am&eacute;rica, esgrimir, com sua espada caustica, palavras desafiadoras relacionadas &agrave;s san&ccedil;&otilde;es econ&ocirc;micas e pol&iacute;ticas aplicadas pelo governo norte-americano a ministros e personalidades brasileiras.&nbsp; 
Trump, por seu turno, sem o recurso do tele pronto, preferiu, at&eacute; o fim de seu longo discurso, desconhecer Lula, que parecia o seu oponente, para s&oacute; faz&ecirc;-lo no final, ap&oacute;s um encontro fortuito de m&iacute;seros vinte e nove segundos, para dizer que convidou, desta vez pessoalmente, o presidente brasileiro para um encontro, a fim de &ldquo;conversar&rdquo; sobre as diferen&ccedil;as que separam os dois pa&iacute;ses atualmente. 
Pensei em tecer oportunas considera&ccedil;&otilde;es sobre o discurso antiglobalista do presidente americano, rico em teses de alta especula&ccedil;&atilde;o nos tempos de hoje, mas deixarei para outra ocasi&atilde;o, considerando o precioso conte&uacute;do de suas ideias, &agrave;s quais expressam a pol&iacute;tica norte-americana em variados setores.&nbsp; 
No mais longo dos vinte e nove segundos da hist&oacute;ria, Trump teve tempo para convidar o relutante Lula a vir &agrave; Casa Branca e mais que isso a cair de amores, fascinado, pelos encantos despertados pelo nosso presidente, tamb&eacute;m conhecido em tempos passados, como o &ldquo;cara&rdquo;, apelido que lhe deu o antecessor de Trump, Barack Obama. 
Suponho que o mandat&aacute;rio norte-americano j&aacute; perdoou no fundo de sua alma astuciosa, as ofensas e improp&eacute;rios, com os quais Lula agraciou no passado remoto o l&iacute;der da maior na&ccedil;&atilde;o democr&aacute;tica do mundo. Se assim n&atilde;o fosse, n&atilde;o teria convidado o l&iacute;der brasileiro para abrilhantar com sua presen&ccedil;a e sua prosa refinada o seleto ambiente oval existente na famosa Casa Branca.&nbsp; 
Finalmente, numa manobra t&aacute;tica de alta relev&acirc;ncia diplom&aacute;tica, Lu&iacute;s In&aacute;cio vinha sistematicamente esquivando-se desta reuni&atilde;o, dizendo-se impedido por raz&otilde;es encobertas, de ir ao encontro do homem de maior poder pol&iacute;tico e b&eacute;lico do mundo, sugerindo que tal miss&atilde;o fosse atribu&iacute;da ora a seu vice-presidente, ora a um grupo de senadores e at&eacute; a diligentes empres&aacute;rios.&nbsp; 
Nada disso deu certo. Trump queria era conversar com quem podia, quem sabe, dobr&aacute;-lo numa negocia&ccedil;&atilde;o, merc&ecirc; da &nbsp;comprovada experi&ecirc;ncia negocial do interlocutor brasileiro, demonstrada em suas perip&eacute;cias nas demandas &nbsp;sindicais, nas pingas do bar da esquina ou no jogo de &nbsp;truco! 
Essas esdruxulas e superadas aleivosias ideol&oacute;gicas a que Trump, em raz&atilde;o da tradi&ccedil;&atilde;o imperialista norte-americana, deseja impor ao Brasil, como liberdade de express&atilde;o, garantias constitucionais, aboli&ccedil;&atilde;o de toda forma de censura, e enfim vig&ecirc;ncia plena do estado democr&aacute;tico de direito e &nbsp;sobretudo o apre&ccedil;o aos valores da &nbsp;cultura ocidental, na qual se sobressai a &nbsp;f&eacute; &nbsp;crist&atilde;. 
Lula n&atilde;o deixar&aacute; passar em v&atilde;o essa oportunidade de ouro, em que ele poder&aacute; convencer, numa conversa leal e franca, se poss&iacute;vel regada a uma boa cerveja americana, as vantagens oferecidas pelos governos estruturados sob leis autorit&aacute;rias -como na China e na R&uacute;ssia, entre outros &ndash; assinalar os &ecirc;xitos obtidos por seus amigos do presente e do passado na a&ccedil;&atilde;o militar r&aacute;pida e clandestina dos grupos terroristas, que operam com grande &ecirc;xito no mundo inteiro, inclusive dos Estados Unidos. 
&Eacute; por essas e outras, olhando com os &nbsp;olhos postos no futuro da Humanidade, que tenho presente as s&aacute;bias palavras do nosso poeta Manoel de Barros, que nos convida a uma &nbsp;reflex&atilde;o que s&oacute; a Hist&oacute;ria e a Verdade nos ensina. Ele diz: &ldquo;agora sinto que estou me despedindo de alguma coisa. De alguma coisa que morava dentro de mim&rdquo;.

Fantasmas, voc&ecirc; j&aacute; viu algum? Pra falar a verdade, eles vageiam pelo mundo das sombras e s&oacute; aparecem para nos assombrar. Os fantasmas n&atilde;o s&atilde;o reais, de carne e osso, aparecem com mais frequ&ecirc;ncia nas telas de cinema ou na televis&atilde;o.&nbsp;

Nesta semana, na fantasmag&oacute;rica televis&atilde;o brasileira, sentados estavam lado a lado, tr&ecirc;s fantasmas de verdade. Eles vieram do outro mundo para nos informar que a anistia ampla, geral e irrestrita, como conv&eacute;m ao nosso espeda&ccedil;ado pa&iacute;s, &eacute; uma quimera, que o tribunal supremo que manda no Brasil, n&atilde;o permitir&aacute;, mesmo que o Congresso Nacional, no exerc&iacute;cio pleno de suas prerrogativas constitucionais venha a aprovar algum projeto que se lhe apresente.&nbsp;

Os fantasmas, mais fantasmas do que nunca, foram escalados para informar que, o m&aacute;ximo que que os supremos ju&iacute;zes permitiriam, seria reduzir as penas exorbitantes, com a finalidade de eliminar a conjuntura radicalizada do pa&iacute;s e promover a pacifica&ccedil;&atilde;o nacional. O discurso monoc&aacute;rdico do ent&atilde;o fantasma relator, era recitado de cor, palavra por palavra, certo que os ouvintes, o receberia como um rebanho de vacas amestradas.

Os outros dois fantasmas, empertigados e atentos, tomaram a palavra para falar em nome do Congresso, representantes que se qualificam na qualidade de art&iacute;fices dos acordos firmados com o tribunal voluntarioso e donos da futura decis&atilde;o congressual. &Eacute; uma cena pat&eacute;tica. Os fantasmas, h&aacute; tanto tempo sumidos nas brumas do esquecimento, falavam em nome dos congressistas e se diziam os salvadores da p&aacute;tria.

Essas criaturas, todas elas devedores dos favores do STF e, mais especificamente, do ministro violador dos direitos humanos, os salvados do inc&ecirc;ndio, pareciam convictos do &ecirc;xito das incumb&ecirc;ncias a eles atribu&iacute;das pelo nefasto presidente da C&acirc;mara dos Deputados. Ainda que n&atilde;o disponha de informa&ccedil;&otilde;es mais minudentes &ndash;ou de cocheira, como se diz &ndash; desconfio que os detentores dos mandatos populares que integram o mais alto poder da rep&uacute;blica, os que representam o cidad&atilde;o eleitor, n&atilde;o se curvar&atilde;o a esta cena bufa, protagonizada por meros fantasmas do passado, oriundos do mundo do esquecimento e do breu da representa&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, princ&iacute;pio sagrado da vida democr&aacute;tica.&nbsp;

N&atilde;o apenas por esta origem macabra e desleal, mas, principalmente porque o Poder Legislativo n&atilde;o dever&aacute; abdicar de suas prerrogativas e submeter-se &agrave; vontade discricion&aacute;ria e prepotente de um poder sem voto, imerso que est&aacute; na viol&ecirc;ncia cometida contra os demais poderes da rep&uacute;blica. &Eacute; hora de dar um basta e interromper a marcha desenfreada rumo &agrave; ditadura, sem meias palavras!

Os partidos pol&iacute;ticos vem construindo um novo destino, afastando-se das amarras que os vinculava ao falido governo petista, deparam-se com uma oportunidade de ouro de dar prosseguimento a sua atual rota pol&iacute;tica e desempenhar o papel que lhe est&aacute; reservado na recomposi&ccedil;&atilde;o da alian&ccedil;a ocidental, fazendo o pais retornar &agrave; plenitude do estado democr&aacute;tico de direito, eliminando de uma vez por toda a censura imposta ao pa&iacute;s, a reconquista da liberdade de express&atilde;o e outras liberdades essenciais para vencer o &oacute;dio disseminado.

Estamos muito pr&oacute;ximos de um colapso econ&ocirc;mico e um isolamento pol&iacute;tico no &acirc;mbito do mundo ocidental, j&aacute; que dele nos afastamos e passamos a comungar valores pertinentes &agrave;s ditaduras e ao terrorismo, pa&iacute;ses e for&ccedil;as com as quais nos alinhamos e, pelo andar da carruagem tudo indica que tamb&eacute;m a Comunidade Europeia caminha para adotar o mesmo tratamento dos Estados Unidos a pa&iacute;ses como o Brasil.

A corros&atilde;o continuada das liberdades individuais e a dissolu&ccedil;&atilde;o dos freios e contrapesos destinados a estancar a impertin&ecirc;ncia do STF, nos faz trazer &agrave; tona a advert&ecirc;ncia de Montesquieu: &ldquo;a liberdade n&atilde;o se perde de uma vez. Ela se destr&oacute;i aos poucos, sob pretextos de seguran&ccedil;a e bem comum&rdquo;, promessas ilus&oacute;rias da nova pot&ecirc;ncia do Oriente.

A anistia, desde os tempos gregos de S&oacute;lon, em meados de 500 antes de Cristo, representa o esquecimento, que evita a guerra civil e apaga o &oacute;dio remanescente no cora&ccedil;&atilde;o dos&nbsp;homens. &Eacute; para isso que ela serve. De nada resultar&aacute; seus efeitos se n&atilde;o atentar inteiramente para este fim superior e nobre, se n&atilde;o passar uma borracha nos acontecimentos que colocaram a sociedade em um conflito dilacerador da paz e do entendimento pol&iacute;tico.

Nosso grande jurista, Rui Barbosa, compreendia essa dimens&atilde;o da anistia e j&aacute; o proclamava desde os idos de 1892, quando suas palavras ecoaram como veredicto definitivo: &ldquo;a anistia n&atilde;o &eacute; sen&atilde;o o olvido absoluto do passado. Nem a hist&oacute;ria, nem o direito, nem a pol&iacute;tica a admitem sen&atilde;o como preparat&oacute;ria a uma nova ordem de cousas&rdquo;.

Se n&atilde;o servir para uma nova ordem de coisas, n&atilde;o serve para nada, sen&atilde;o para agu&ccedil;ar ainda mais a confronto entre os brasileiros.

Para o advogado baiano, a anistia n&atilde;o apenas visava homens e supostos crimes por eles cometidos, mas abrangia a totalidade da vida social e pol&iacute;tico da comunidade nacional, de forma que fosse um instrumento destinado a restaura&ccedil;&atilde;o da ordem constitucional, profundamente afetada pelos desmandos pret&eacute;ritos. E mais, o Senador e te&oacute;rico da primeira rep&uacute;blica considerava que a anistia, uma vez concedida, era irrevog&aacute;vel, irrenunci&aacute;vel, perp&eacute;tua e irreform&aacute;vel.

Os efeitos do perd&atilde;o teriam que ser abrangentes, a fim de conter sob suas asas reformadoras todos que sofreram as penas dos crimes que a eles foram imputados, pois s&oacute; assim poderiam alcan&ccedil;ar os objetivos colimados, pacificar o pa&iacute;s e conduzi-lo ao pleno gozo dos direitos pol&iacute;ticos suspensos.&nbsp;

Se, portanto, assim n&atilde;o fosse de nada adiantaria os esfor&ccedil;os para conceder uma anistia parcial, que n&atilde;o levassem efetivamente &agrave; exculpa&ccedil;&atilde;o pretendida e consequente &agrave; retomada das liberdades e dos direitos pol&iacute;ticos. A anistia, concebida desta maneira, &eacute; obra de estadistas e de representantes da mais elevada sabedoria pol&iacute;tica. N&atilde;o &eacute; tarefa para inescrupulosos e servi&ccedil;ais de fac&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas animadas pela vingan&ccedil;a e pelo &oacute;dio.&nbsp;

Em seu artigo &ldquo;Amnistia Inversa&rdquo;, o j&aacute; citado Rui Barbosa, n&atilde;o hesita em dizer que este instituto provindo dos gregos e dos romanos, quer dizer fazer o contr&aacute;rio do que foi feito, ou seja, inv&eacute;s das penalidades, o perd&atilde;o, inv&eacute;s dos confrontos, o di&aacute;logo futuro e a constru&ccedil;&atilde;o de uma p&aacute;tria comum. Isto n&atilde;o significa o fim das controv&eacute;rsias pol&iacute;ticas, mas o restabelecimento do imp&eacute;rio da lei e da ordem, de modo que o jogo pol&iacute;tico se processe num ambiente de igualdade de armas, sob a reg&ecirc;ncia de uma Constitui&ccedil;&atilde;o.

A anistia &eacute; t&atilde;o restauradora que, somente atrav&eacute;s dela, a na&ccedil;&atilde;o pode expressar o seu projeto de futuro, desenhar os novos caminhos que pretende trilhar, com liberdade de express&atilde;o e efetivo poder decis&oacute;rio, escolhendo as melhores e mais indicadas solu&ccedil;&otilde;es para os graves problemas que enfrenta.&nbsp;

O que vimos, desolados e entristecidos com as recentes declara&ccedil;&otilde;es do Relator do projeto de anistia, designado pelo presidente da C&acirc;mara dos Deputados, foi um ros&aacute;rio de amea&ccedil;as e restri&ccedil;&otilde;es. Presumivelmente, o que teremos &eacute; um novo round de um pugilato intermin&aacute;vel, no qual se enfrentar&atilde;o as liberdades e o terror.

Na linguagem po&eacute;tica de Miguel Torga: &ldquo;liberdade, que estais em mim, santificado seja o vosso nome&rdquo;!

H&aacute; um brocado popular no nosso pa&iacute;s, no qual se pergunta por que os c&atilde;es entram na Igreja. A sabedoria do povo responde em un&iacute;ssono: &eacute; porque encontram sempre aberta a porta do templo. O mesmo acontece nas assembleias em que se discute, como na cl&aacute;ssica Gr&eacute;cia, os destinos de homens e na&ccedil;&otilde;es.&nbsp; 
Se aos c&atilde;es &eacute; deferido a honra de penetrar nas casas de Deus, tamb&eacute;m a cidad&atilde;os simples e a altos magistrados &eacute; franqueado o direito de comparecer ao lado do presidente de uma turma do tribunal supremo, ainda mais quando quem se abanca em t&atilde;o seleta cadeira &eacute; o presidente do tribunal, maior autoridade judicante do pa&iacute;s. 
Observe-se, por oportuno e igualmente significativo, que no recinto da divertida reuni&atilde;o, ainda que como simples assistente e sem assento no picadeiro, tamb&eacute;m estava entre os presentes, o decano do tribunal. Duas figuras, cujas presen&ccedil;a haveria de ter uma raz&atilde;o especial, j&aacute; que em sua longa tradi&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se tem not&iacute;cia que este comportamento &eacute; usual ou necess&aacute;rio. 
O observador, premido pelo inusitado do acontecimento, farejou algo estranho no ar. Teria os &ldquo;penetras&rdquo; ali comparecidos pela doce e inef&aacute;vel amizade que dedicam a &nbsp;seus amigos e colegas, encarregados de proferir as senten&ccedil;as condenat&oacute;rias exemplares aos r&eacute;us, a fim de que aqueles fatos criminosos narrados e repisados n&atilde;o mais se repetissem? Ser&aacute;? 
&Eacute; verdade, contudo, que tanto o presidente da corte suprema, como o decano da mesma corte ali compareceram para emprestar sua simpatia e solidariedade &agrave;s decis&otilde;es que acabaram de ser delineadas. Compartilharam inteiramente com as penalidades ilegais, desproporcionais e aviltantes e juntaram-se ao coro de improp&eacute;rios e cinismos verbais, costurando a mortalha de uma corte moribunda. &nbsp; 
&Eacute; por isto que permanece na consci&ecirc;ncia democr&aacute;tica da na&ccedil;&atilde;o a desconfian&ccedil;a, segundo a qual nada se pode esperar de quem propicia o desastre das liberdades p&uacute;blicas e contribui para o advento de uma &eacute;poca de profundas dificuldades econ&ocirc;micas e sociais, das quais o pa&iacute;s dificilmente conseguir&aacute; superar. 
N&atilde;o &eacute; a toa que Maquiavel &eacute; o pai da ci&ecirc;ncia pol&iacute;tica moderna e suas conclus&otilde;es, longe de propor constata o real. Elas se &nbsp;ajustam inteiramente ao deslinde &nbsp;atual, quando diz: &ldquo;em geral, os &nbsp;homens julgam mais pelos olhos que pela intelig&ecirc;ncia, pois todos podem ver, por&eacute;m poucos compreendem o que veem&rdquo;. 
A livre disputa pelo poder constitui um elemento permanente nas democracias. &Eacute; o que confere a este regime de liberdades a sua ess&ecirc;ncia e legitimidade. Para a obten&ccedil;&atilde;o deste desiderato b&aacute;sico &eacute; necess&aacute;rio a igualdade de armas das correntes pol&iacute;ticas expressivas da sociedade nacional de um determinado pa&iacute;s. A subvers&atilde;o deste princ&iacute;pio basilar em nosso pa&iacute;s arrastou a suprema corte a concentrar o poder pol&iacute;tico e transformar a lei e a Constitui&ccedil;&atilde;o em instrumento de repress&atilde;o e desigualdade. 
Em outras palavras, as decis&otilde;es do STF est&atilde;o nos conduzindo a olhos vistos a uma crise de gravidade incalcul&aacute;vel. &Eacute; preciso compreende-la e n&atilde;o somente v&ecirc;-la. &nbsp;Ela, por seus contornos e trejeitos, revela que o pa&iacute;s mergulha em uma crise de propor&ccedil;&otilde;es gigantescas, perante a qual a sociedade &eacute; chamada a intervir, atrav&eacute;s de seus meios institucionais, sem iludir-se com aqueles que s&atilde;o frutos da usurpa&ccedil;&atilde;o e da vingan&ccedil;a. 
J&aacute; temos material de sobra para dizer o que n&atilde;o queremos, para interromper a marcha da insensatez. Nenhum projeto de futuro poder&aacute; nascer do sil&ecirc;ncio obsequioso &agrave;s autoridades. As pessoas inteligentes se calam em nome de uma obedi&ecirc;ncia cega, obedi&ecirc;ncia representativa de uma ignor&acirc;ncia extrema.

Marcelo Cordeiro

J&aacute; se esperava a condena&ccedil;&atilde;o do ex-presidente Jair Bolsonaro e demais r&eacute;us inclu&iacute;dos no chamado &ldquo;n&uacute;cleo crucial&rdquo; dos crimes, que levaram o STF a instaurar, sob a batuta das ilegalidades e esc&aacute;rnios, o referido processo criminal. 
O que n&atilde;o se previa era que a condena&ccedil;&atilde;o e o an&uacute;ncio das penas se dessem em meio &agrave; galhofa dos &ldquo;ju&iacute;zes&rdquo;, aos sorrisos que bem espelhavam a vingan&ccedil;a prometida e enfim concretizada e os discursos c&iacute;nicos dos julgadores. 
A cena previs&iacute;vel era que os quatro ju&iacute;zes se comportassem como compenetrados magistrados, todos fingindo aquelas dores e sentimentos, referidos no discurso final em que o ministro Fl&aacute;vio Dino derramou suas l&aacute;grimas de crocodilo.&nbsp; 
O que se viu foram magistrados debochados e cru&eacute;is, onde n&atilde;o faltaram uma sequer das cenas mais horripilantes que haveriam de dotar aquele julgamento de lagartos em dias festivos, os quais mesmo mortos e sepultados para a Hist&oacute;ria, teimavam em viver, tal como as lagartixas no decantado poema de Fernando Pessoa, sob o heter&ocirc;nimo de &Aacute;lvaro de Campos, denominado &ldquo;Tabacaria&rdquo;, que diz, com surpreendente humor: &ldquo;talvez tenhas existido apenas, como um lagarto, a quem cortam o rabo. E que &eacute; rabo para aqu&eacute;m do lagarto remexidamente&rdquo;. Simplesmente genial e genialmente adequado aos quatro cavaleiros do apocalipse! 
Eu sou, como todo mundo sabe, torcedor do primeiro campe&atilde;o brasileiro, mas n&atilde;o consigo achar normal que a euforia das cores do nosso time predileto, possa levar um juiz criminal, ap&oacute;s expedir o seu voto condenat&oacute;rio e aduzir as penas correlatas, possa festejar, sem qualquer pudor, o &ecirc;xito do seu time, perante uma plateia de &aacute;rbitros do destino de homens idosos, que s&oacute; sair&atilde;o da cadeia quando completarem cem anos de vida. &nbsp; 
E tudo isso e mais coisas deplor&aacute;veis ocorreram um dia ap&oacute;s o ministro Lu&iacute;s Fux proferir o mais longo e fundamentado voto, no qual pede por reiterada raz&otilde;es legais, a anula&ccedil;&atilde;o do feito penal, absolvendo a maioria dos r&eacute;us dos crimes a eles imputados, eis que da escurid&atilde;o reinante ecoa o voto da &uacute;nica mulher integrante da corte suprema. 
Da&iacute; em diante inicia-se a pirotecnia singular na longeva vida do tribunal. A ministra, que h&aacute; dois mil anos n&atilde;o falava, viu a sua voz militante interrompida pelo ministro Fl&aacute;vio Dino e depois pelo Relator Alexandre de Moraes. Este &uacute;ltimo, fato provavelmente inusitado nos anais do tribunal supremo, resolveu proferir um novo voto, em adendo &agrave; sua anterior perora&ccedil;&atilde;o na qualidade de Relator da a&ccedil;&atilde;o penal. &nbsp;A&iacute; a coisa pegou... 
Por longos dezoito minutos, em tom amea&ccedil;ador e acusat&oacute;rio, o relator, v&iacute;tima e julgador tomou a palavra &ndash; como se fora ele o autor do voto e n&atilde;o mero aparteante e ap&oacute;s saldar os demais ministros &ndash; repetiu os mesmos argumentos falaciosos do seu voto oficial, &agrave; guisa de responder a aula que acabara de ouvir no dia anterior que, respeitosamente, lhe deu o ministro Lu&iacute;s Fux. 
Pobre Carmem, logo ela que concluiria o seu voto, formando maioria para condenar os r&eacute;us. O &uacute;nico voto feminino do tribunal, o que estava dispensado de qualquer alega&ccedil;&atilde;o jur&iacute;dica ou factual, levando em conta o car&aacute;ter feminino da demolidora de tiranetes. Assim ela o fez, seguindo ao p&eacute; da letra o que dizem os mais famosos manuais de Direito aplicado e a pr&oacute;pria legisla&ccedil;&atilde;o sobre a mat&eacute;ria.&nbsp; 
Afinal, esta famosa jurisconsulta brasileira, j&aacute; traz no pr&oacute;prio nome sua origem divina, sua palavra &eacute; sagrada. N&atilde;o &eacute; por outra raz&atilde;o que ela repete &agrave; exaust&atilde;o a palavra confirmado, dando &agrave; narrativa o f&oacute;rum de verdade, ou seja, nada est&aacute; acima de suas convic&ccedil;&otilde;es, ela julga conforme a sua f&eacute;. Ela &eacute;, como diz o nome, o &ldquo;Jardim de Deus&rdquo; e o jardineiro &eacute; o seu infal&iacute;vel e inef&aacute;vel amigo, Alexandre. Que Deus nos perdoe!

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Ag&ecirc;ncia Brasil 
 
O quadro pol&iacute;tico brasileiro deve se alterar profundamente com as repercuss&otilde;es que ter&atilde;o, aqui e no mundo, o voto proferido pelo Ministro Fux. Quem viver, ver&aacute;. Na pior das hip&oacute;teses, dar&aacute; sustenta&ccedil;&atilde;o moral e legal, merc&ecirc; de sua clareza e profundidade, &agrave;s transforma&ccedil;&otilde;es de que o Brasil tanto carece. 
 
&Eacute; cedo, por&eacute;m, para interpretar a evolu&ccedil;&atilde;o desse panorama pol&iacute;tico, antes que ele produza os ingredientes finais, que por&atilde;o por terra a &ldquo;ditadura da toga&rdquo; em seus dias crepusculares. 
 
Conv&eacute;m insistir no futuro, j&aacute; que seria perdul&aacute;rio e inoportuno, n&atilde;o considerar o enredo pol&iacute;tico que se descortina a partir desta nova configura&ccedil;&atilde;o geopol&iacute;tica presente no mundo atual. Para n&oacute;s, a subst&acirc;ncia mais significativa, &eacute; o abandono pelos Estados Unidos da Am&eacute;rica de pol&iacute;ticas que considerava o restante das Am&eacute;ricas subalternas e sem import&acirc;ncia estrat&eacute;gica. 
 
Para alcan&ccedil;ar seus objetivos declarados em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s Am&eacute;ricas, o governo de Donald Trump, deixou claro que &eacute; indispens&aacute;vel remover os obst&aacute;culos que se interp&otilde;em entre os Estados Unidos e as ditaduras aliadas aos inimigos do Ocidente democr&aacute;tico, entre eles a Venezuela, a Nicar&aacute;gua, Cuba e o pr&oacute;prio Brasil, onde viceja um antiamericanismo visceral e incontido. 
 
N&atilde;o &eacute; por outra raz&atilde;o que os americanos tem aplicado tarifas alfandeg&aacute;rias exorbitantes e punido autoridades p&uacute;blicas com suas leis transnacionais, aos funcion&aacute;rios transgressores dos direitos humanos, direitos consagrados, em 1992, no Pacto de San Jos&eacute; da Costa Rica, de que o Brasil &eacute; signat&aacute;rio. 
 
O atual cerco mar&iacute;timo, realizado com uma for&ccedil;a naval de alta capacidade b&eacute;lica, contra a Venezuela, revela claramente que os EUA pretendem n&atilde;o s&oacute; eliminar o tr&aacute;fego de drogas destrutiva do povo americano, mas varrer a ditadura que oprime aquele pa&iacute;s e, para este desiderato, n&atilde;o poupa e nem poupar&aacute; esfor&ccedil;os militares. 
 
A nova estrat&eacute;gia norte-americana para o Caribe e Am&eacute;rica do Sul est&aacute; lastreada num projeto de futuro, sob o imp&eacute;rio das novas tecnologias, especialmente a intelig&ecirc;ncia artificial, cuja supremacia a grande pot&ecirc;ncia americana busca conquistar. 
 
A China, a competidora mais not&aacute;vel dos EUA, controla o principal insumo da intelig&ecirc;ncia artificial, atrav&eacute;s de sua expans&atilde;o econ&ocirc;mica no Oriente: a energia. Essa &nbsp;circunst&acirc;ncia, abre uma janela de oportunidades para os pa&iacute;ses na Am&eacute;rica Latina e Caribe, uma vez &nbsp;que eles se tornem Democracias s&oacute;lidas e economias em processo de expans&atilde;o e desenvolvimento.&nbsp; 
 
Contrariamente ao que planeja o governo Lula da Silva, o Brasil n&atilde;o encontrar&aacute; na China um parceiro ideal, mas uma pot&ecirc;ncia &agrave; moda antiga, interessada em extorquir os recursos energ&eacute;ticos e minerais dispon&iacute;veis no Brasil e se beneficiar da fartura dos nossos excedentes alimentares. Neste caso, voltaremos a ser uma na&ccedil;&atilde;o sob o dom&iacute;nio imperialista t&iacute;pico! 
 
A integra&ccedil;&atilde;o com a economia norte-americana, manejada com sabedoria estrat&eacute;gica, ensejaria um aproveitamento de nossas vantagens comparativas, n&atilde;o apenas por motivos geogr&aacute;ficos, mas tamb&eacute;m pela incorpora&ccedil;&atilde;o &agrave; nossa experi&ecirc;ncia em mat&eacute;ria econ&ocirc;mica. 
 
&Eacute; poss&iacute;vel depreender &agrave; primeira vista, que a rela&ccedil;&atilde;o dos Estados Unidos com o Brasil &eacute; pol&iacute;tica, antes de tudo. Um arranjo favor&aacute;vel a ambos, antes que se deteriorem ainda mais as rela&ccedil;&otilde;es diplom&aacute;ticas, implica na recupera&ccedil;&atilde;o das liberdades democr&aacute;ticas em sua plenitude, fato que s&oacute; ser&aacute; poss&iacute;vel com a vig&ecirc;ncia da Constitui&ccedil;&atilde;o de 88, a recupera&ccedil;&atilde;o do estado de direito e a reforma pol&iacute;tica em larga escala.&nbsp; 
 
Uma quest&atilde;o, todavia, permanece obscura. Ela se revela numa s&oacute; pergunta: as elites brasileiras, propriet&aacute;rias das for&ccedil;as produtivas e as camadas sociais, representativas da for&ccedil;a de trabalho, querem a recomposi&ccedil;&atilde;o, em novos termos, com os Estados Unidos ou caminhar&atilde;o em busca da integra&ccedil;&atilde;o com pot&ecirc;ncias ricas e emergentes, representativas das ditaduras orientais?

Era de se esperar que tratasse hoje das magn&iacute;ficas manifesta&ccedil;&otilde;es, por todo o Brasil, nas quais o povo, na &nbsp;autonomia das &nbsp;ruas, clamava por anistia e &nbsp;Democracia. Mas, as autoridades constitu&iacute;das e as institui&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas fizeram ouvidos de mercador. A dimens&atilde;o das assembleias populares foi t&atilde;o avassaladora, que aos donos do poder, como acontece nas Democracias, cabia acatar a vontade do povo e inaugurar uma nova rep&uacute;blica. N&atilde;o o fizeram e t&atilde;o pouco far&atilde;o! 
As vozes ecoaram, contudo, pelo mundo afora, pincipalmente nos Estados Unidos da Am&eacute;rica. 
Desde mar&ccedil;o desse ano, em discurso proferido no Jardim das Rosas, o Presidente americano, Donald Trump, prenunciava que o seu governo pretendia dar uma guinada significativa na pol&iacute;tica externa, abandonando uma tradi&ccedil;&atilde;o que j&aacute; apresentava sinais de decad&ecirc;ncia, e dando &ecirc;nfase e prioridade nas rela&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas, sociais e econ&ocirc;micas com a Am&eacute;rica Latina e o Caribe. 
Este novo desenho geopol&iacute;tico fez com que a maior pot&ecirc;ncia democr&aacute;tica e b&eacute;lica do mundo, desse in&iacute;cio a mudan&ccedil;as estrat&eacute;gicas que j&aacute; se faz sentir. Entre elas, a redu&ccedil;&atilde;o de seus recursos na seguran&ccedil;a europeia, a qual desde o fim da Segunda Guerra Mundial, estava a cargo dos EUA, sobretudo depois da derrocada da URSS e a sustenta&ccedil;&atilde;o militar da OTAN. 
O governo dos EUA vem dando sucessivas demonstra&ccedil;&otilde;es de que pretende afastar-se dos encargos em mat&eacute;ria geopol&iacute;tica, que vem assumindo ap&oacute;s a Guerra da Coreia e a instabilidade de pa&iacute;ses como o Ir&atilde;, o Afeganist&atilde;o, a S&iacute;ria, o Iraque, L&iacute;bia e muitos outros. No Oriente M&eacute;dio, por raz&otilde;es hist&oacute;ricas bem definidas e em raz&atilde;o de ser a &uacute;nica democracia da regi&atilde;o, os EUA mant&eacute;m intactos seus &nbsp;compromissos com a defesa de Israel. 
Com a China e a R&uacute;ssia o governo Trump tem desenvolvido esfor&ccedil;os para cingir suas conting&ecirc;ncias &agrave; &aacute;rea econ&ocirc;mica, sem se envolver, a n&atilde;o ser como mediador da paz, nos assuntos militares que envolvem aqueles pa&iacute;ses, n&atilde;o s&oacute; em raz&atilde;o dos altos custos, mas tamb&eacute;m das dist&acirc;ncias geogr&aacute;ficas. 
&Eacute; do conhecimento p&uacute;blico o documento elaborado pelo Pent&aacute;gono e chancelado pelo Ministro da Defesa, Pete Hegseth, no qual coloca uma clara diretriz. Acima das diferen&ccedil;as com a China e a R&uacute;ssia, o governo americano deve priorizar as quest&otilde;es internas e regionais, criando parcerias com os pa&iacute;ses latino americanos, concebidas a partir das inova&ccedil;&otilde;es propiciadas pelo novo mundo globalizado e fundado na revolu&ccedil;&atilde;o comunicacional e na intelig&ecirc;ncia artificial. 
&Eacute; not&oacute;rio que tal guinada, implica numa profunda recupera&ccedil;&atilde;o dos la&ccedil;os ocidentais, que ao longo do tempo aproximaram a pot&ecirc;ncia do norte com os integrantes das outras Am&eacute;ricas, sem contudo propiciar uma integra&ccedil;&atilde;o mais efetiva, capaz de transferir para os pa&iacute;ses empobrecidos da Am&eacute;rica do Sul e do Caribe os recursos tecnol&oacute;gicos que, nem a China, muito menos a R&uacute;ssia, ser&atilde;o capazes de oferecer. 
Para compartilhar com os pa&iacute;ses latino americanos e caribenhos os valores democr&aacute;ticos do Ocidente, t&atilde;o caros &agrave; sociedade norte-americana, os Estados Unidos tem em mira enfrentar e eliminar os fatores ideol&oacute;gicos e sanit&aacute;rios, t&atilde;o presentes em pa&iacute;ses como Venezuela, Nicar&aacute;gua e Cuba, incluindo o governo de Lula da Silva, cada vez mais atra&iacute;do pelas promessas do socialismo e do rompimento com a &nbsp;democracia representativa. &nbsp; 
Esse esbo&ccedil;o preliminar coloca o nosso pa&iacute;s em uma encruzilhada, em rela&ccedil;&atilde;o a qual ter&aacute; que decidir com firmeza e com um projeto de futuro. Esta decis&atilde;o exigir&aacute;, em futuro pr&oacute;ximo, romper os la&ccedil;os diplom&aacute;ticos e seu projeto de na&ccedil;&atilde;o vinculado aos valores ocidentais ou contrariamente celebrar com os Estados Unidos da Am&eacute;rica uma tratativa abrangente e inclusiva, a fim de assegurar uma estrat&eacute;gia vi&aacute;vel e moderna de desenvolvimento sustentado, integrado com um sistema em pleno processo de inova&ccedil;&atilde;o e transforma&ccedil;&atilde;o geopol&iacute;tica.

H&aacute; muita gente, inclusive eu, indignada com a louva&ccedil;&atilde;o que os advogados de defesa do famoso processo da tentativa de golpe, tecem sobre os ministros da corte suprema, aos quais compete julgar o nebuloso caso. Alguns at&eacute; beiram o rid&iacute;culo e se superam em exagerados elogios. Houve at&eacute;, &eacute; o c&uacute;mulo da idiotice, que um ministro carioca &eacute; bonito e charmoso, outro n&atilde;o poupou as virtudes de sua sogra e s&oacute; faltou enaltecer a ministra Dona Carmem por suas inef&aacute;veis interven&ccedil;&otilde;es verbais!&nbsp; 
Ouvi dizer que tais louva&ccedil;&otilde;es, na maioria dos casos, visam afagar o ego dos ministros e aquietar os seus esp&iacute;ritos punitivos, tantas vezes manifestado ao longo das etapas judiciais. Alguns advogados, os mais previdentes, ap&oacute;s as exageradas apologias, descascam o verbo e destrincham as ilegalidades, mentiras e absurdos das alega&ccedil;&otilde;es acusat&oacute;rias.&nbsp; 
Essas exalta&ccedil;&otilde;es ministeriais aos poucos, afora seu tom laudat&oacute;rio e suas gaba&ccedil;&otilde;es desmedidas, foram sendo compreendidas como t&aacute;ticas dos advogados para amaciar os plenipotenci&aacute;rios julgadores e passaram a ser admitidas, n&atilde;o obstante o asco que provocavam. 
N&atilde;o foi necess&aacute;rio muito esfor&ccedil;o para perceber nos risos e nos semblantes ministeriais, um gozo que bem revelava o prazer com que suas excel&ecirc;ncias recebiam aquelas palavras, quase nunca encontradi&ccedil;as no seio da popula&ccedil;&atilde;o circundante, a qual j&aacute; tinha demonstrado seu desprezo e desaprova&ccedil;&atilde;o ao olimpo ministerial, rebaixando-o ao m&iacute;sero 12%. 
Afigurou-se naquela cena um punhado de &ldquo;pachecos&rdquo;, personagem muito festejado na famosa obra de E&ccedil;a de &nbsp;Queiroz, intitulada &ldquo;A Correspond&ecirc;ncia de Fradique Mendes&rdquo;. Nela, o renomado escritor portugu&ecirc;s descreve a trajet&oacute;ria de &ldquo;Pacheco&rdquo; e seu imenso talento. A cada elogio apaixonado de um Caus&iacute;dico, &ldquo;Pacheco sorria, baixando os olhos s&eacute;rios..........., e seguia, sempre pra cima, sempre para mais alto, atrav&eacute;s das institui&ccedil;&otilde;es, com seu imenso talento aferrolhado dentro do cr&acirc;nio como no cofre de um avaro. E esta reserva, este sorrir...................., bastavam ao Pa&iacute;s que neles sentia e saboreava a resplandecente evid&ecirc;ncia do talento de Pacheco.&rdquo; &nbsp; 
E n&atilde;o passava disso. &ldquo;Pacheco&rdquo; era superior e singular, unicamente porque tinha um imenso talento! 
Da&iacute; a patacoada prosseguia imp&aacute;vida, rumo ao seu destino final. Imbu&iacute;dos do esp&iacute;rito de &ldquo;Pacheco&rdquo;, os ministros j&aacute; tinha de antem&atilde;o a senten&ccedil;a de condena&ccedil;&atilde;o dos r&eacute;us pronta, expressa em linguagem odiosa e risonha pelo ministro Relator que, como ele, estavam sendo condenados ao hediondo crime de viola&ccedil;&atilde;o dos direitos humanos.&nbsp; 
Encerrada as alega&ccedil;&otilde;es finais, aquele dia 03 de setembro de 2025 ficar&aacute; na Hist&oacute;ria como o dia em que o Brasil se cobriu de vergonha. Neste mesmo dia, a Comiss&atilde;o de Seguran&ccedil;a P&uacute;blica do Senado Federal ouvia de um ex-funcion&aacute;rio do Tribunal Superior Eleitoral, Eduardo Tagliaferro, refugiado na It&aacute;lia, as den&uacute;ncias dos crimes cometidos por Alexandre de Moraes &nbsp;e seu gabinete paralelo, no &acirc;mbito do STF &nbsp;e do TSE, &nbsp;exibindo farta documenta&ccedil;&atilde;o comprovat&oacute;ria dos graves delitos, entre os quais a fraude processual conducente &agrave; criminaliza&ccedil;&atilde;o de empres&aacute;rios, incursos em atentados contra o estado democr&aacute;tico de direito.&nbsp; 
Tais den&uacute;ncias transformam o juiz acusador no processo penal de golpe de estado, em curso no STF, uma vez comprovadas, em sujeito ativo de um dos crimes mais abomin&aacute;veis da judicatura e corrompe, mais uma vez, o processo penal j&aacute; maculado de insan&aacute;veis ilegalidades, conduzido no STF pelo Juiz acusado e imp&otilde;e sua imediata anula&ccedil;&atilde;o. 
&Eacute; desse modo canhestro e torpe que se afigura a advert&ecirc;ncia profligada por Marcel Proust, muito &uacute;til para os incautos que depunham confian&ccedil;a no ministro violador dos direitos humanos. Diz o c&eacute;lebre romancista: &ldquo;Vivemos ao lado de seres que acreditamos conhecer: falta o acontecimento que os far&aacute; aparecer irreconhec&iacute;veis&rdquo;.

A fim de perceber a amplitude hist&oacute;rica das mudan&ccedil;as que sacudiram o mundo nesta &uacute;ltima metade de s&eacute;culo, &eacute; preciso observar o impacto dessas transforma&ccedil;&otilde;es no esp&iacute;rito humano. Mais precisamente nas cren&ccedil;as ideol&oacute;gicas, muros, cortinas e ilus&otilde;es que alimentavam as mentes, as quais &nbsp;ainda vagueiam entorpecidas por suas ilus&otilde;es perdidas. 
 
Uma delas, talvez a mais chocante, &eacute; a que exp&otilde;e o pacto de anormais, em escala mundial, entre bilion&aacute;rios revelados na competi&ccedil;&atilde;o do capitalismo globalista e os herdeiros esquerdistas do socialismo real, lan&ccedil;ados ao deus dar&aacute; e suscept&iacute;veis &agrave;s procelas dos novos tempos.

Desde a queda do Muro de Berlin e a derrocada da Uni&atilde;o Sovi&eacute;tica, os l&iacute;deres do capitalismo passaram a tra&ccedil;ar os planos da nova era da globaliza&ccedil;&atilde;o e do avan&ccedil;o da tecnologia, em sucessivas reuni&otilde;es anuais em Davos. No ambiente paradis&iacute;aco da Sui&ccedil;a, entre esbornias e ambi&ccedil;&otilde;es, foi plasmada a vis&atilde;o globalista do mundo, sustentada na concep&ccedil;&atilde;o de uma governan&ccedil;a mundial, substituta do estado nacional, &nbsp;que fora constru&iacute;do sob as bases de uma sociedade democr&aacute;tica e liberal.

&Agrave; esquerda pol&iacute;tica, sobrevivente do desastre do socialismo real, coube proceder -nas sociedades onde exerciam influ&ecirc;ncia pol&iacute;tica- &nbsp;ao enterro de suas velhas teorias e desprezar por inteiro o fundamento de suas prega&ccedil;&otilde;es ideol&oacute;gicas, a luta de classes, e colocar em seu lugar, uma &ldquo;nova&rdquo; estrat&eacute;gia de divis&atilde;o da sociedade em grupos conflitantes, de ra&ccedil;a, sexo e culturas, a fim de fazer ruir o estado nacional.

Esses dois caminhos, logo encontraram suas vertentes e constitu&iacute;ram uma parceria, azeitada profusamente pela ricas e inestim&aacute;veis contribui&ccedil;&otilde;es financeiras, sediadas nos centros irradiadores desta destrutiva alian&ccedil;a. Tanto o Estado nos pa&iacute;ses c&ecirc;ntricos, como as poderosas funda&ccedil;&otilde;es, tal como j&aacute; denunciadas em muitos pa&iacute;ses, entre os quais o Brasil, despejaram, um volume de &nbsp;recursos incalcul&aacute;veis, com a &nbsp;finalidade de apoiar estudos, interven&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas ilegais e outros crimes ainda mais graves, destinados a corromper nossas institui&ccedil;&otilde;es democr&aacute;ticas e enfraquecer nossa estado de direito, preparando o nosso futuro para, ao cabo &nbsp;e &nbsp;atrav&eacute;s de um governo mundial, destruir o estado nacional &nbsp;e todas as nossas institui&ccedil;&otilde;es respons&aacute;veis pela liberdade de nosso povo e preserva&ccedil;&atilde;o da &nbsp;cultura ocidental e do cristianismo.&nbsp;

A interfer&ecirc;ncia direta de funda&ccedil;&otilde;es americanas, capitaneadas por George Soros, capitalista detentor de uma &nbsp;fortuna estimada em mais 07 bilh&otilde;es de d&oacute;lares, dezenas de &nbsp;funda&ccedil;&otilde;es norte americanas &nbsp;e outras, a exemplo da Arabella Advisors, com doa&ccedil;&otilde;es superiores a 1,5 bilh&atilde;o de d&oacute;lares para partidos de esquerda nos EUA, que redistribuia para outras organiza&ccedil;&otilde;es de &nbsp;esquerda pelo mundo, dinheiro considerado obscuro e sem qualquer fiscaliza&ccedil;&atilde;o por entidades governamentais.

Muitos, os mais educados, perguntar&atilde;o, qual a finalidade dos super-capitalistas, empenhados, assim como o atual governo do apedeuta Lu&iacute;s In&aacute;cio, em reduzir os estados nacionais &agrave; soberania de um &uacute;nico governo mundial? &Eacute; n&atilde;o s&oacute; abolir o regime democr&aacute;tico e o estado nacional, mas submeter os povos a regras e culturas n&atilde;o alinhadas &agrave; vontade popular, mas &agrave; uma ditadura que nos transformar&aacute; em uma simples &nbsp;burocracia, cujas pol&iacute;ticas p&uacute;blicas ser&atilde;o aquelas ditadas nas 30 regras da ONU. Somos obrigados, assim, a concordar com Friedrich Nietzsche quando denuncia que &ldquo;as pessoas &nbsp;n&atilde;o querem escutar a verdade porque n&atilde;o querem ver suas ilus&otilde;es destru&iacute;das&rdquo;.

A estrat&eacute;gia descrita em poucas palavras, confia que uma &nbsp;governan&ccedil;a mundial incorporar&aacute;, sem dificuldades tang&iacute;veis, o modelo de &nbsp;capitalismo de estado, baseado em concess&atilde;o estatal, regime econ&ocirc;mico bem sucedido em seus resultados na China, &nbsp;o qual se antep&otilde;e com as regras existentes na maior democracia do mundo e que n&atilde;o pretendem alterar o que os norte-americanos chamam apropriadamente de &ldquo;way of life&rdquo;, orgulho de uma &nbsp;sociedade em processo de recupera&ccedil;&atilde;o de muitos seus valores morais e pol&iacute;ticos amea&ccedil;ados.

O desafio dos tempos modernos, face as transforma&ccedil;&otilde;es que muitos ainda relutam em admitir, consiste em olhar pr&aacute; frente, ver longe e expulsar o velhote inimigo que est&aacute; morando dentro de n&oacute;s e &ldquo;descobrir novos oceanos &ndash; como chamou a aten&ccedil;&atilde;o o poeta Andr&eacute; Gide &ndash; se tiver a coragem de perder a terra de vista&rdquo;.

Seria a Am&eacute;rica Latina o continente da paz perp&eacute;tua, como imaginou Immanuel Kant? Parece que n&atilde;o. Desde o &uacute;ltimo grande conflito &ndash; a guerra do Paraguai &ndash; h&aacute; mais de um s&eacute;culo, quando D. Pedro II era Imperador do Brasil, eclodiu um conflito armado e sangrento em pa&iacute;ses do continente. 
 
Aforo os golpes militares e alguns conflitos regionais reinou no continente desentendimentos e arranjos pacificadores.&nbsp;

N&atilde;o &eacute; o que se v&ecirc; agora. A Am&eacute;rica Latina transformou-se num paiol de p&oacute;lvora. As labaredas da disc&oacute;rdia se espalham pelo continente e t&ecirc;m um potencial, cujo desfecho se encaminha para enfrentamentos capazes de alterar o atual contencioso estabelecido.

Os Estados Unidos da Am&eacute;rica, maior pot&ecirc;ncia econ&ocirc;mica, pol&iacute;tica e militar do mundo, insurge-se contra o &nbsp;agravamento dos rumos que norteiam pa&iacute;ses latino americanos, cada vez mais distantes de valores democr&aacute;ticos vigentes nos pa&iacute;ses ocidentais e firmam alian&ccedil;as com pa&iacute;ses considerados inimigos hist&oacute;ricos dos EUA, ostentando ditaduras e aproxima&ccedil;&otilde;es com os &nbsp;grupos terroristas mais perigosos e violentos.&nbsp;

Na Am&eacute;rica Latina ditaduras institu&iacute;das em Cuba, Nicar&aacute;gua e Venezuela, al&eacute;m de uma autocracia sob o comando do Poder Judici&aacute;rio no Brasil, oprimem suas popula&ccedil;&otilde;es e mergulham na corrup&ccedil;&atilde;o seus governos. Principalmente a Venezuela, sob um regime bolivariano, supressor das liberdades democr&aacute;ticas, estruturado num Estado associado ao narcotr&aacute;fico, exportador de toneladas de coca&iacute;na e outras drogas igualmente nocivas para o mercado norte americano. Os lucros deste com&eacute;rcio ilegal pretendem e propiciam tamb&eacute;m o ingresso de doen&ccedil;as e a desestrutura&ccedil;&atilde;o moral da sociedade.

Acordos com pa&iacute;ses, a exemplo do M&eacute;xico, asseguram aos Estados Unidos conter este pernicioso com&eacute;rcio, a fim de proteger os seus cidad&atilde;os do contato com o mundo das drogas. Com vistas a levar &agrave;s &uacute;ltimas consequ&ecirc;ncias o combate ao narcotr&aacute;fico, os americanos tem considerado as organiza&ccedil;&otilde;es criminosas espalhadas e atuantes no continente, como grupos terroristas, que solapam a vida social e cultural das na&ccedil;&otilde;es onde cometem seus crimes.

O car&aacute;ter ditatorial e narcotraficante do Estado venezuelano, levou os norte-americanos a adotarem uma estrat&eacute;gia militar, deslocando para o mar do Caribe uma frota de navios, porta-avi&otilde;es e um submarino nuclear, com a finalidade de encorajar a oposi&ccedil;&atilde;o democr&aacute;tica da Venezuela, suas for&ccedil;as militares descontentes com as condi&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias com que os venezuelanos s&atilde;o submetidos a fome, a brutal repress&atilde;o pol&iacute;tica e ao desejo de restaurar a democracia perdida.

N&atilde;o se sabe se o governo norte-americano ordenar&aacute; algum tipo de a&ccedil;&atilde;o militar, com vistas a eliminar as estruturas que sustentam o narcotr&aacute;fego e mantem em p&eacute; o regime opressor.&nbsp;

Ou, alternativamente, aguarda o advento de uma rebeli&atilde;o no interior do regime e a fal&ecirc;ncia das for&ccedil;as que protegem o ditador e seus principais auxiliares.

O fato indiscut&iacute;vel &eacute; que a conduta dos norte-americanos implica num real e desej&aacute;vel restabelecimento da democracia, ainda que esta conquista s&oacute; ser&aacute; poss&iacute;vel atrav&eacute;s do uso da for&ccedil;a e o fim de uma ditadura sangrenta e imoral.&nbsp;

&Eacute; de uma evid&ecirc;ncia palmar que nada se pode esperar da ONU, organismo que, h&aacute; muito tempo, deixou de representar a preval&ecirc;ncia das liberdades e dos direitos &nbsp;humanos nas rela&ccedil;&otilde;es que os pa&iacute;ses travam entre s&iacute;.

A expectativa, portanto, de uma queda do ditador e sua fuga para um pa&iacute;s amigo do regime venezuelano, &eacute; plaus&iacute;vel, como foi a famosa batalha de Itarar&eacute; que n&atilde;o aconteceu, j&aacute; que a queda do Presidente Washington Lu&iacute;s, ocorreu antes que a prometida batalha na cidade de Itarar&eacute; come&ccedil;asse.&nbsp;

Seja qual for a estrat&eacute;gia norte-americana, ela implica na elimina&ccedil;&atilde;o da complexa e poderosa rede do narcotr&aacute;fico e das narcoditaduras que representam uma crescente transforma&ccedil;&atilde;o no mapa geopol&iacute;tico mundial, em favor de uma ordem mundial, baseada em sistemas econ&ocirc;micos e pol&iacute;ticos rejeitados pela Hist&oacute;ria.

Marcelo Cordeiro

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