No picadeiro o palha&ccedil;o comia ovos. A plateia gargalhava. A cena grotesca completava-se com a profus&atilde;o de claras e gemas de ovos de galinha, ovos de pata, de ema e at&eacute; de jabuti, que escorriam, como baba, pelos cantos da boca escarnecida do velho ator.

Transmitido para todo o pa&iacute;s, esse espet&aacute;culo circense, pegou de surpresa uma popula&ccedil;&atilde;o incr&eacute;dula. Dif&iacute;cil acreditar que o Presidente da Rep&uacute;blica, travestido de palha&ccedil;o, se prestasse a esse papel: comer todos os ovos que achasse pela frente na granja presidencial, inclusive aqueles protegidos pelo IBAMA.

Mas comeu e se fartou. Escolhendo entre os ovos os mais substanciosos, a fim de conduzir o glut&atilde;o ao auge de sua comilan&ccedil;a. N&atilde;o s&oacute; os ovos de pata t&ecirc;m essa qualidade proteica, &nbsp;como afirmou em sua pantomina.

Tamb&eacute;m os t&ecirc;m os ovos de serpente. S&atilde;o tamb&eacute;m ovos palacianos, colhidos &nbsp;no capim vi&ccedil;oso dos &nbsp;jardins do Alvorada e na Granja do Torto.

Quanto mais venenosas as serpentes, melhor. N&atilde;o &eacute; dif&iacute;cil encontrar uma Jararaca distra&iacute;da bebendo &aacute;gua na cachoeira artificial &nbsp;do majestoso pal&aacute;cio, a famosa Cascavel costuma balan&ccedil;ar o rabo e chocalhar &nbsp;para distrair os incautos convivas, nas tarde quentes de Bras&iacute;lia, &nbsp;a Surucucu n&atilde;o &eacute; bem vinda ao pal&aacute;cio presidencial, j&aacute; que n&atilde;o p&otilde;e ovos, &eacute; &nbsp;viv&iacute;para a danada, boa mesmo &eacute; a Coral-verdadeira, a mais venenosa do Brasil, al&eacute;m de ser &nbsp;a mais bela, &eacute; a mais ov&iacute;para.&nbsp;

O Pal&aacute;cio da Alvorada, onde o presidente e sua mulher se entret&eacute;m com os bichinhos palacianos, os ovos de serpente s&atilde;o servidos em uma bandeja de prata a celebridades importantes da hierarquia petista e se fala a boca pequena (n&atilde;o posso garantir que &eacute; verdade) que o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, &eacute; uma grande admirador da iguaria gastron&ocirc;mica.&nbsp;

No primeiro caf&eacute; da manh&atilde;, os ovos de serpente foram servidos ao presidente com um saboroso cuscuz de milho. O efeito imediato foi o desabrochar da gastan&ccedil;a incontida, consect&aacute;rio de um agrad&aacute;vel envenenamento, caracterizado por crise fiscal e vexame incur&aacute;vel das finan&ccedil;as p&uacute;blicas.

E n&atilde;o parou por a&iacute;. Um dia o presidente acordou com uma &nbsp;vontade ind&ocirc;mita de &nbsp;controlar a opini&atilde;o p&uacute;blica, implantar a censura nas redes sociais e mandar nas plataformas. Comeu uma dose cavalar de ovos de serpente, convidou os ministros do tribunal supremo para deglutir a iguaria e todos sa&iacute;ram do caf&eacute; da manh&atilde; como trogloditas das liberdades p&uacute;blicas.

Outro dia foi a Primeira Dama que desejou provar dos ovos de serpente e saiu desarvorada xingando o pobre do Elon Musk, que n&atilde;o tinha nada a ver com ovos ou cobras!

Um dia o presidente deu na telha que precisava de mais dinheiro p&uacute;blico para gastar. O chefe da Receita Federal resolveu agradar o presidente. Mal sabia ele que naquele dia o presidente tinha comido um prato suculento de ovo de serpente! Teve a ideia transloucada de editar uma Normativa sobre o PIX. At&eacute; hoje n&atilde;o entendi porque o homem da receita n&atilde;o pediu as contas e foi embora!

Infla&ccedil;&atilde;o, carestia, d&oacute;lar dispararam. Esse ovo de serpente t&aacute; fazendo muito mal ao Brasil! Como disse Hanna Arendt: &ldquo;o mal n&atilde;o precisa de monstros, s&oacute; de pessoas que deixam de pensar&rdquo; e comem ovo de serpente!

Ao publicar meu &uacute;ltimo artigo, versando sobre a anistia a todos envolvidos nos acontecimento de oito de janeiro, defrontei-me com a dura realidade da tortura, que em nossos dias est&aacute; travestida de outras modalidades, sem perder, contudo os seus fundamentos mais perversos e odiosos.&nbsp;

A luta pela anistia convoca-nos a refletir sobre a profundidade dessa l&iacute;dima vit&oacute;ria do povo brasileiro. Cabe repetir esta verdade, &agrave;s vezes desapercebida ou escamoteada, para que se grave a quente na consci&ecirc;ncia nacional o seu significado, a que n&atilde;o se confundam as mentes, tomando por d&aacute;diva o que &eacute; conquista, e n&atilde;o se acolha com titubeios essa vit&oacute;ria.

A anistia, antes de mais nada, &eacute; a elimina&ccedil;&atilde;o da tortura, renascida dos escombros da Ditadura Militar, que ainda teima em nos assombrar. Nunca passou despercebido por todos que a ess&ecirc;ncia da tortura era uma torpe viola&ccedil;&atilde;o da dignidade humana, seja qual fosse a modalidade com que os torturadores agredissem a integridade f&iacute;sica ou moral do torturado.

O instituto jur&iacute;dico pelo qual se almeja a reconquista da liberdade busca renegar a ilegalidade das condena&ccedil;&otilde;es, a viol&ecirc;ncia infringida aos cidad&atilde;os e seus familiares e finalmente a restaura&ccedil;&atilde;o das normas constitutivas do estado democr&aacute;tico de direito. &nbsp;Mas, &eacute; sobretudo a plenitude da dignidade do ser humano o que se busca resgatar por inteiro, dignidade que, al&eacute;m dos aspectos jur&iacute;dicos, atingiu a ess&ecirc;ncia dos direitos humanos.

N&atilde;o se mede a tortura, por mais est&uacute;pida, desumana e hedionda que tenha sido cometida pelo teor desse cometimento, por&eacute;m &eacute; equivalente quando praticada pelos meios morais e psicol&oacute;gicos, destinada a amea&ccedil;ar a vida de pessoas inocentes, feridas na sua dignidade fundamental.

Ou n&atilde;o ser&aacute; tortura bloquear por&nbsp;via &nbsp;judicial sal&aacute;rios de mulheres e filhas que sustentavam numerosas fam&iacute;lias cujos maridos encontravam-se no c&aacute;rcere, deixar vir a &oacute;bito no c&aacute;rcere preso cuja sa&uacute;de cardiol&oacute;gica carecia de &nbsp;cuidados m&eacute;dicos especializados, cujos pedido para assegurar esses cuidados &nbsp;fora solicitado ao tribunal pela PGR e sumariamente negado, obrigar centenas de &nbsp;homens a se despirem e depois rastejar de &ldquo;quatro&rdquo; para serem observados por agentes policiais?

Uma verdade b&iacute;blica &eacute; admir&aacute;vel e lema do cristianismo: &ldquo;n&atilde;o atar&aacute;s a boca do boi que debulha... se eu planto a vinha n&atilde;o tenho direito do seu fruto&iquest; digno &eacute; o lavrador do seu sal&aacute;rio&rdquo;. A m&atilde;e privada do &nbsp;seu &nbsp;sal&aacute;rio &eacute; &nbsp;tortura sim, t&atilde;o grave quanto a qualquer uma outra, e n&atilde;o pode obter a leni&ecirc;ncia de um homem justo!

Vou mais longe. Ningu&eacute;m que observa os processos totalit&aacute;rios da atualidade, deixa de perceber as transforma&ccedil;&otilde;es ocorridas em &nbsp;sociedades corrompidas, onde os sistemas repressivos s&atilde;o exercidos por &oacute;rg&atilde;os integrantes do Estado que, sob o pretexto de preservar o estado democr&aacute;tico de direito, implantam a ca&ccedil;a &agrave;s bruxas, com as razias policiais ilegais, processos contra parlamentares detentores constitucionalmente da mais absoluta liberdade de express&atilde;o atrav&eacute;s de opini&otilde;es, &nbsp;palavras e votos, pris&otilde;es arbitr&aacute;rias de jornalistas, censura desenfreadas nas redes sociais, ex&iacute;lio de &nbsp;cidad&atilde;os brasileiros, persegui&ccedil;&atilde;o a &oacute;rg&atilde;os independente de imprensa e esdruxulas &nbsp;investiga&ccedil;&otilde;es de tentativa irrealizada de &nbsp;golpe de Estado sem provas ou evid&ecirc;ncias cab&iacute;veis. Visando espalhar o terror da&iacute; decorrente, as pris&otilde;es se enchem de centenas de presos pol&iacute;ticos, os quais s&atilde;o submetidos a humilha&ccedil;&otilde;es e tortura moral de v&aacute;rias esp&eacute;cies.

Ao largo de toda essa inf&acirc;mia, vive hoje o pa&iacute;s o atropelo de uma crise econ&ocirc;mico-financeira de grandes dimens&otilde;es. A infla&ccedil;&atilde;o ascendente amea&ccedil;a gravemente a estabilidade do pa&iacute;s, afetando o custo de vida. A crise fiscal galopante est&aacute; inteiramente fora de controle e as politicas &nbsp;governamentais para conter o descalabro fiscal, s&oacute; faz agu&ccedil;ar o panorama econ&ocirc;mico.&nbsp;

O encaminhamento de solu&ccedil;&otilde;es mais profundas para a crise envolve uma dimens&atilde;o pol&iacute;tica, que implica em colocar ao n&iacute;vel da &nbsp;sociedade a discuss&atilde;o global da economia. Mas isso imp&otilde;e, como pr&eacute;-requisito , o fim do atual regime de arb&iacute;trio e a implanta&ccedil;&atilde;o de uma Democracia, pois s&oacute; atrav&eacute;s &nbsp;dela construiremos os mecanismos adequados ao livre debate, &agrave; express&atilde;o aberta &nbsp;dos interesses e dos conflitos, para alcan&ccedil;ar o consenso necess&aacute;rio.

H&aacute; ainda um problema a ser vencido, segundo F. Nietzsche: &ldquo;as pessoas n&atilde;o querem escutar a verdade porque n&atilde;o querem ver suas ilus&otilde;es destru&iacute;das&rdquo;!

J&aacute; se passou muito tempo, desde os idos de 1979. Relembro as batalhas que travei como estudante, depois no Parlamento por tr&ecirc;s mandatos sucessivos, que a restaura&ccedil;&atilde;o democr&aacute;tica dependia da anistia para todos os presos, condenados e exilados pol&iacute;ticos e, finalmente, &nbsp;a instala&ccedil;&atilde;o da Assembleia Nacional Constituinte.&nbsp;

Essas condi&ccedil;&otilde;es eram indispens&aacute;veis para a pacifica&ccedil;&atilde;o dos brasileiros que, por tantos anos, e unidos numa s&oacute;lida alian&ccedil;a de for&ccedil;as, mobilizaram a Na&ccedil;&atilde;o num espet&aacute;culo un&acirc;nime de compromisso e solidariedade com os valores universais da liberdade e dos direitos humanos.

O continente democr&aacute;tico, ao qual Ulysses Guimar&atilde;es, l&iacute;der inconteste das Oposi&ccedil;&otilde;es ao regime ditatorial, sob o lema de &nbsp;&ldquo;navegar &eacute; preciso&rdquo; lograva alcan&ccedil;ar, quando todos os brasileiros recobrasse &nbsp; seus direitos pol&iacute;ticos fundamentais e a liberdade &nbsp;de express&atilde;o &nbsp;se encontrasse entre eles.

Ainda que estas magnas conquistas da sociedade nacional fossem alcan&ccedil;adas gra&ccedil;as &agrave; mobiliza&ccedil;&atilde;o popular, onde &nbsp;figuras excepcionais, como Teot&ocirc;nio Vilela e representantes da oposi&ccedil;&atilde;o parlamentar, as institui&ccedil;&otilde;es representativas das Igrejas crist&atilde;s, os movimentos de &nbsp;classe, dos advogados aos demais estamentos da &nbsp;sociedade, todos irmanados no ideal democr&aacute;tico, n&atilde;o se excluiu ningu&eacute;m do benef&iacute;cio da anistia.

Sob a lideran&ccedil;a de Terezinha Zerbini e outros ind&ocirc;mitos brasileiros, o movimento pela anistia real&ccedil;ou o car&aacute;ter amplo, geral e irrestrito. Este instituto milenar da civiliza&ccedil;&atilde;o foi saudado e recebido pelos brasileiros de todas as classes sociais e diferentes orienta&ccedil;&otilde;es pol&iacute;tica e cultural.

Um movimento dessa envergadura, contudo, sofreu restri&ccedil;&otilde;es e terminou, a fim de que o processo democr&aacute;tico n&atilde;o sofresse interrup&ccedil;&otilde;es ou abalos, estendendo o &ldquo;perd&atilde;o&rdquo; aos criminosos do regime de terror e viol&ecirc;ncias que a Na&ccedil;&atilde;o acabara de soterrar. O Brasil assimilou a trag&eacute;dia da Hist&oacute;ria e a todo custo e por todos os meios ainda estamos &nbsp;aprendendo a li&ccedil;&atilde;o, a de jamais repetir os horrores do passado e de n&atilde;o permitir o que, na &nbsp;atualidade, exprime a brutalidade totalit&aacute;ria &nbsp;que se expande entre n&oacute;s.

Ainda h&aacute; pouco vi um v&iacute;deo protagonizado por Eliana Paiva, filha de Rubens e Eunice Paiva, cuja hist&oacute;ria de toda fam&iacute;lia est&aacute; sendo conhecida pelo povo brasileiro, atrav&eacute;s do filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e com a participa&ccedil;&atilde;o da premiada atriz Fernanda Torres. O filme, como todos sabem, retrata, em comoventes imagens, o drama vivido pela fam&iacute;lia com o desaparecimento e o assassinato de Rubens Paiva, executado por militares integrantes da repress&atilde;o do regime.

Nada mais expressivo do que Hanna Arendt denominou como a &ldquo;banalidade do mal&rdquo;, tantas vezes praticado pela sanha assassina de um regime que abandonou a lei e o respeito &agrave; &nbsp;vida humana, para &nbsp;sacrificar os &nbsp;valores mais caros da nossa civiliza&ccedil;&atilde;o. Covarde e cruel, o regime imp&ocirc;s a uma fam&iacute;lia um sofrimento permanente, que o &ecirc;xito do filme est&aacute; longe de resgatar, ainda que advirta a todos sobre os males impag&aacute;veis do crime e do terrorismo de Estado.&nbsp;

Eliana Paiva descreveu a humilha&ccedil;&atilde;o e o sofrimento a que foi submetida no c&aacute;rcere, com palavras t&atilde;o verdadeiras e chocantes, que pronunciadas agora, &eacute; se cada um de n&oacute;s fossemos as v&iacute;timas dessa brutalidade, desses crimes e dessa &eacute;poca tenebrosa.&nbsp;

Confesso, humildemente, que n&atilde;o foram outros os meus sentimentos quando presenciei ao vivo o depoimento de uma mulher, m&atilde;e de seis filhos menores, esposa de um dos presos condenados pelo STF por supostos crimes cometidos em oito de janeiro, que o &uacute;nico recurso financeiro de que dispunha &eacute; o seu sal&aacute;rio de servidora p&uacute;blica, com o qual pretendia assegurar o sustento da sua &nbsp;fam&iacute;lia. Por ordem do Ministro Alexandre de Moraes seu sal&aacute;rio foi bloqueado e ela foi impedida de receber a sua parca remunera&ccedil;&atilde;o, violando o princ&iacute;pio elementar do direito penal, segundo o qual uma penalidade, ainda que acess&oacute;ria, n&atilde;o pode ultrapassar o r&eacute;u da a&ccedil;&atilde;o &nbsp;penal. Vive essa fam&iacute;lia da ajuda e colabora&ccedil;&atilde;o de terceiros, a fim de evitar que seus filhos pequenos morram de fome.&nbsp;

A tortura mascara os seus m&eacute;todos, diferentes, mas dolorosos e cru&eacute;is. A anistia ampla, geral e irrestrita &eacute; o caminho para a recuperar a justi&ccedil;a e a liberdade do povo brasileiro.

A chegada ao Brasil da Comiss&atilde;o dos Direitos Humanos da Organiza&ccedil;&atilde;o dos Estados Americanos &ndash; OEA foi o suficiente para elevar, mais do que j&aacute; est&aacute;, a discuss&atilde;o ao n&iacute;vel internacional, conquanto que os delegados representativos da douta Comiss&atilde;o elaborem um relat&oacute;rio consent&acirc;neo com os tenebrosos acontecimentos dos &uacute;ltimos seis anos em nosso pa&iacute;s.

A lei n&atilde;o &eacute; &nbsp;apenas a soma de todos os &nbsp;estatutos, decretos, regulamenta&ccedil;&otilde;es e prescri&ccedil;&otilde;es constitucionais de um pa&iacute;s, mas &nbsp;que &nbsp;estes princ&iacute;pios a&iacute; estabelecidos &nbsp;constituam um todo org&acirc;nico e aceito &nbsp;por &nbsp;todos, a &nbsp;fim de &nbsp;que possamos contemplar regras e n&atilde;o a &nbsp;anarquia. Enfim, o poder das leis e n&atilde;o dos homens escolhidos arbitrariamente.

Um governo de leis &eacute; aquele em que o soberano n&atilde;o desfruta do direito de &nbsp;amea&ccedil;ar os s&uacute;ditos e a institui&ccedil;&atilde;o suprema 
a que aplica a lei pode lan&ccedil;ar &agrave; masmorra o governante que n&atilde;o cumpriu com suas obriga&ccedil;&otilde;es &nbsp;constitucionais ou lesou, de &nbsp;alguma &nbsp;forma conden&aacute;vel, o patrim&ocirc;nio p&uacute;blico.

A lei sempre existir&aacute; em qualquer sociedade humana, tanto as livres, como as totalit&aacute;rias. A lei, por&eacute;m, que emana da vontade do cidad&atilde;o livre, n&atilde;o coexiste com o totalitarismo cujas leis nascem sob o designo dos governantes apenas ou daqueles que tem o comando do Estado.

Basta passar os olhos sob o regime nazista, na Alemanha, que n&atilde;o havia nenhuma lei limitando os poderes de Hitler, igualmente na Uni&atilde;o Sovi&eacute;tica jamais surgiu uma lei ou uma regra que impedisse o todo poderoso praticar as suas barbaridades.

Sob o poder amea&ccedil;ador e absoluto do nosso tribunal supremo vemos rebrilhar aos olhos dos incautos a profecia &nbsp;de Bertrand &nbsp;de Juvenal: &ldquo;A lei perdeu sua alma e se tornou selva&rdquo;. O que ele quis nos transmitir &eacute; que a lei &nbsp;estava sendo desmoralizada , inconfi&aacute;vel, at&eacute; prostitu&iacute;da. A lei, tornada totalit&aacute;ria, servia a &nbsp;quaisquer interesses subalternos, mudava a toda hora para que o sangue dos inocentes regasse a maldade dos ju&iacute;zes.

O Estado de Direito submeteu-se &agrave; vis&atilde;o particularista de ministros togados, os quais abandonam a lei escrita para impor suas sabedoria e pretensas virtudes &agrave;s decis&otilde;es que proferem, ainda que estas fa&ccedil;am proliferar as injusti&ccedil;as e castigar os inocentes.&nbsp;

Suas interpreta&ccedil;&otilde;es personal&iacute;ssimas da lei maior partem de uma vis&atilde;o ideol&oacute;gica, submissa ao princ&iacute;pio de igualdade do tipo que levou o mundo socialista ao fracasso, mais ou menos como reverberou Anatole France: &ldquo;a lei, em sua igualdade majestosa, pro&iacute;be os ricos e os pobres de &nbsp;dormirem sob as pontes, de &nbsp;mendigar pelas ruas ou roubar p&atilde;o&rdquo;, certo de &nbsp;que as diferen&ccedil;as &nbsp;sociais pouca ou nenhuma import&acirc;ncia t&ecirc;m.

Distorcendo ou flexibilizando a lei para satisfazer as suas &nbsp;ambi&ccedil;&otilde;es igualitaristas e totalit&aacute;rias v&atilde;o, erraticamente, disseminando ideologicamente a lei, de &nbsp;que n&atilde;o escapa o ativismo judicial, sendo associado a uma concep&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica progressista, em detrimento da vis&atilde;o liberal do mundo.

O esquerdismo voraz, que se nutre de suas concep&ccedil;&otilde;es particulares para dar sentido &agrave; legisla&ccedil;&atilde;o ou ele mesmo a produz em flagrante usurpa&ccedil;&atilde;o dos outros poderes, doura a p&iacute;lula, cinicamente, proclamando, do alto do seu poder recivilizador, que est&atilde;o colhendo &ldquo;crit&eacute;rios em evolu&ccedil;&atilde;o&rdquo; ou a bra&ccedil;os com uma &ldquo;constitui&ccedil;&atilde;o viva&rdquo;.

Que agonia e morre a cada vez que &eacute;, assim, dilacerada.

Tem uma luz no fim do t&uacute;nel. Acesa ou apagada provocou uma gritaria na turma do sofoman&iacute;aco. A polvorosa tomou conta do ambiente e j&aacute; n&atilde;o se sabe em quem confiar. O s&aacute;bio de plant&atilde;o n&atilde;o diz coisa com coisa. A desarruma&ccedil;&atilde;o est&aacute; instalada.&nbsp;

E agora? 
O que fazer para restabelecer a fantasia na casa de Noca?

O supremo juiz insiste em dizer que os revoltosos do oito de janeiro queriam era promover o fim violento do &ldquo;estado democr&aacute;tico de direito&rdquo;. Em contrapartida, o atual presidente do poder emanado do voto popular afirma que aquele evento foi uma agress&atilde;o &agrave;s institui&ccedil;&otilde;es, mas n&atilde;o representou uma tentativa de eliminar o &ldquo;estado democr&aacute;tico de direito&rdquo;.

Partidos da base governista, tais como o PP e outros tantos, que elegeram, juntamente com a Oposi&ccedil;&atilde;o, o Presidente da C&acirc;mara dos Deputados, fizeram um sil&ecirc;ncio obsequioso, que parece concordar com a afirma&ccedil;&atilde;o &nbsp;do L&iacute;der da Casa que &nbsp;representam.

Esse roteiro em muito se assemelha &agrave;quele &nbsp;que ocorreu para &nbsp;desparafusar as &nbsp;engrenagens que mantinham de p&eacute; o regime militar de 64. Severo Gomes, ministro do governo &agrave; &eacute;poca, manifestou o descontentamento dos paulistas, levando a Ditadura ao inevit&aacute;vel desgaste e ao encorajamento das correntes pol&iacute;ticas aliadas ao regime a tomarem o mesmo caminho. A isso se incorporou uma &nbsp;sociedade que h&aacute; muitos anos constitu&iacute;a uma &nbsp;solida, unit&aacute;ria e poderosa consci&ecirc;ncia democr&aacute;tica.&nbsp;

O panorama mundial que se desenrola obedece a uma consistente recupera&ccedil;&atilde;o dos valores democr&aacute;ticos urdidos no mundo Ocidental, onde a liberdade de opini&atilde;o, o imp&eacute;rio da lei e a livre express&atilde;o do pensamento ganham relevo e &nbsp;vitoriosamente se confrontam com ideologias contr&aacute;rias &agrave;s nossas tradi&ccedil;&otilde;es crist&atilde;s e &nbsp;seculares. Todavia, sem que isto represente uma &ldquo;bala de prata&rdquo;, &eacute; bom lembrar das palavras de &nbsp;J. M. Coetzee, na &nbsp;sua luta &nbsp;contra o &ldquo;apartheid&rdquo;: &ldquo;o poder s&oacute; respeita outro poder&rdquo;.

O decl&iacute;nio do totalitarismo, ao qual estamos submetidos, &eacute; &nbsp;vis&iacute;vel e inescap&aacute;vel, ainda que &nbsp;a &nbsp;sua derrota final pode &nbsp;estar apenas &nbsp;come&ccedil;ando. Afinal os &nbsp;regimes autorit&aacute;rios, a exemplo das ditaduras t&iacute;picas dos &nbsp;pa&iacute;ses subdesenvolvidos, s&atilde;o defenestrados numa a&ccedil;&atilde;o &nbsp;direta e &nbsp;simples, mas os &rdquo;totalitarismos&rdquo; penetram fundamentem no &nbsp;sistema pol&iacute;tico e &nbsp;social, apoderando-se das leis, manipulando-as e dando &nbsp;&agrave;s Constitui&ccedil;&otilde;es - que &nbsp;subsistem &ndash; &nbsp; interpreta&ccedil;&otilde;es &nbsp;criativas, capazes de &nbsp;converter suas normas democr&aacute;ticas em instrumentos perversos, com vistas &agrave; &nbsp;sua pr&oacute;pria legitima&ccedil;&atilde;o.&nbsp;

Nos regimes totalit&aacute;rios as institui&ccedil;&otilde;es e a cidadania desaparecem para ceder lugar, como bem salientou Hannah Arendt, a um ser humano deformado, submetido &agrave; propaganda massiva e ao Estado criador da verdade absoluta.

Em face das condi&ccedil;&otilde;es brasileiras, fundadas em farsas sucessivas, aflora a verdade aos poucos, seja &nbsp;em esc&acirc;ndalos &nbsp;como o protagonizado pela USAID nos &nbsp;EUA, seja pelo descolamento das &nbsp;for&ccedil;as partid&aacute;rias da base governista, convencidas do &nbsp;desastre moral e &nbsp;econ&ocirc;mico a que o pa&iacute;s est&aacute; sendo conduzido pelo sofoman&iacute;aco que o &nbsp;governa, cuja &nbsp;ret&oacute;rica est&aacute; inteiramente desmoralizada.

N&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel precisar quando a desordem prenuncia o decl&iacute;nio de uma era, tantos &nbsp;foram os &nbsp;anos que o lulopetismo submeteu o pa&iacute;s aos seus desastrosos descaminhos. Cicero, desde o long&iacute;nquo Imp&eacute;rio Romano, chamava a aten&ccedil;&atilde;o para o fato de que &ldquo;quanto mais pr&oacute;ximo o colapso de um imp&eacute;rio, mais malucas s&atilde;o suas leis&rdquo; . O fil&oacute;sofo romano tinha &nbsp;em mente os desatinos &nbsp;cometidos no Brasil nos &uacute;ltimos tempos: o conselho para n&atilde;o comprar os &nbsp;alimentos, a revoga&ccedil;&atilde;o do malfadado imbr&oacute;glio do Pix e a lei que proibia a edi&ccedil;&atilde;o de uma lei sobre o Pix.

Hil&aacute;rio!

Alguma coisa se movimenta nos c&eacute;us da pol&iacute;tica brasileira, e n&atilde;o s&atilde;o os avi&otilde;es da Panair. Estes n&atilde;o existem mais. Mas, as piruetas descrevem inusitados sinais de mudan&ccedil;a, que permitem antever as t&atilde;o cobi&ccedil;adas transforma&ccedil;&otilde;es em dire&ccedil;&atilde;o &agrave; Democracia plena, ainda que tardia e sem data prevista.

Neste cen&aacute;rio, destaca-se a pondera&ccedil;&atilde;o de Guimar&atilde;es Rosa, na &nbsp;sua &nbsp;forma sutil de prev&ecirc; tempestades: &ldquo;tudo, ali&aacute;s, &eacute; a ponta de um mist&eacute;rio. Inclusive, os fatos. Ou a aus&ecirc;ncia deles. D&uacute;vida?&nbsp;Quando nada acontece, h&aacute; um milagre que n&atilde;o estamos vendo&rdquo;. &nbsp;

O mist&eacute;rio, todavia, persiste nas palavras dos dois mais proeminentes l&iacute;deres do &ldquo;Centr&atilde;o&rdquo;, o ex-presidente da C&acirc;mara, Artur Lira, que previu que ningu&eacute;m quer naufragar junto &nbsp;com o &nbsp;atual Governo e o principal e sempre &nbsp;silente l&iacute;der do PSD, Gilberto Kassab, que &nbsp;soltou o verbo para proclamar que o Governo est&aacute; sem rumo e o seu Ministro da &nbsp;Fazenda, como todos &nbsp;sabem, &eacute; de uma incompet&ecirc;ncia lastim&aacute;vel.

Ou seja, trinca a principal for&ccedil;a politica de sustenta&ccedil;&atilde;o do Governo Lula no Congresso Nacional, o que costuma &nbsp;acontecer nos arranjos pol&iacute;ticos fr&aacute;geis e corrompidos, v&eacute;spera &nbsp;da demoli&ccedil;&atilde;o &nbsp;total, quando os &nbsp;ratos abandonam o navio prestes a ser tragado pelas ondas do mar.&nbsp;

A Oposi&ccedil;&atilde;o liberal e conservadora ganha for&ccedil;a com os acordos costurados para eleger os presidentes das duas &nbsp;casas do Congresso Nacional, n&atilde;o s&oacute; na representatividade adquirida nos organismos &nbsp;congressuais, como na agenda pol&iacute;tica que expressar&aacute; o debate p&uacute;blico na &nbsp;atual Legislatura, &nbsp;a &nbsp;exemplo da &nbsp;anistia e do retorno ao &nbsp;estado democr&aacute;tico de &nbsp;direito.

N&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel deixar de considerar o confronto evidente entre a pol&iacute;tica externa do Presidente Lula da Silva e os novos rumos anunciados pelo novo presidente dos Estados Unidos da Am&eacute;rica, Donald Trump. Enquanto o presidente brasileiro percorreu um caminho sem volta, celebrando &nbsp;alian&ccedil;as com o eixo &nbsp;das Ditaduras, representado pela China, R&uacute;ssia e Ir&atilde; e aprofundando la&ccedil;os com grupos e pa&iacute;ses terroristas do Oriente M&eacute;dio e Am&eacute;rica &nbsp;Latina, configurando, dessa &nbsp;forma e das mais variadas maneiras, seus p&eacute;rfidos &nbsp;compromissos na destrui&ccedil;&atilde;o do Ocidente democr&aacute;tico, seus valores e tradi&ccedil;&otilde;es.

Num &nbsp;horizonte muito mais pr&oacute;ximo &nbsp;do &nbsp;que podemos &nbsp;supor, nosso pa&iacute;s defrontar-se-&aacute; com esses &nbsp;valores, todos defluentes de nossa hist&oacute;rica ades&atilde;o ao Cristianismo e &agrave; Democracia liberal, onde &nbsp;vicejam as &nbsp;formas &nbsp;constitucionais &nbsp;de governo, a liberdade de express&atilde;o, o &nbsp;Estado nacional &nbsp;e os &nbsp;direitos &nbsp;humanos, os &nbsp;quais est&atilde;o sendo &nbsp;dilacerados pela ditadura judici&aacute;ria a que estamos &nbsp;submetidos. A rea&ccedil;&atilde;o ocidental e a reconquistada dos valores soterrados &nbsp; exprimem-se pela &nbsp;crescente onda, que se &nbsp;avoluma, para libertar as &nbsp;sociedades humanas das tribos identit&aacute;rias e &nbsp;restabelecer a &nbsp;cultura pr&oacute;pria &nbsp;das &nbsp;na&ccedil;&otilde;es.&nbsp;

Mais cedo ou mais tarde seremos chamados a nos posicionar. Sem d&uacute;vida, com ou sem press&atilde;o pol&iacute;tica no &acirc;mbito &nbsp;externo, seremos uma &nbsp;na&ccedil;&atilde;o comprometida com a Constitui&ccedil;&atilde;o e &nbsp;as leis ou debandaremos para o lado dos malfeitores do passado recente, incorporamos a plena liberdade de &nbsp;express&atilde;o como valor universal ou insistiremos na censura disseminada nas &nbsp;redes sociais, eliminaremos as arbitrariedades &nbsp;cometidas em nome &nbsp;da Democracia ou restituiremos os princ&iacute;pios elementares do &nbsp;Direito -como o ju&iacute;zo natural, o &nbsp;devido processo legal, o pleno direito de defesa, etc - &nbsp;.

Do panorama pol&iacute;tico brasileiro a conclus&atilde;o &eacute; inevit&aacute;vel: chegamos &nbsp;ao &nbsp;fundo do povo. O Governo chegou fim. Prefiro, no final, a clareza de Graciliano Ramos: &ldquo;extraio dos acontecimentos algumas parcelas. O resto &eacute; baga&ccedil;o&rdquo;, inclusive a entrevista de Lula para a amorfa plateia de jornalistas!

No &acirc;mbito da grande crise de seguran&ccedil;a que o nosso pa&iacute;s vive, sem perspectivas de melhoria, est&aacute; a difus&atilde;o de crimes praticados por imigrantes, principalmente pelos milhares de venezuelanos, distribu&iacute;dos no territ&oacute;rio outrora pac&iacute;fico, de Roraima. Cemit&eacute;rios clandestinos s&atilde;o descobertos, os &nbsp;assaltos proliferam e toda &nbsp;sorte de crimes infestaram o norte do pa&iacute;s, depois que o Brasil acolheu &nbsp;em seu territ&oacute;rio os venezuelanos que &nbsp;abandonavam seu pa&iacute;s, envolto em grave crise de &nbsp;fome decorrente dos &nbsp;seus &nbsp;experimentos blivarianos.

Os Estados Unidos da Am&eacute;rica, desde o governo Obama, desenvolve uma pol&iacute;tica massiva de deporta&ccedil;&otilde;es e o governo Biden j&aacute; enviou ao Brasil, algemados e acorrentados, como &nbsp;manda a &nbsp;lei &nbsp;norte-americana, 32 avi&otilde;es, desembarcando 3.360 brasileiros, que &nbsp;estavam condenados naquele pa&iacute;s e &nbsp;em &nbsp;situa&ccedil;&atilde;o irregular.

Talvez, o governo petista devesse fazer o mesmo, &nbsp;devolvendo &nbsp;para a ditadura sanguin&aacute;ria de Maduro os imigrantes &nbsp;ilegais, os &nbsp;quais muitos &nbsp;deles, trouxeram grupos&nbsp;criminosos para Roraima, gerando grande &nbsp;desassossego para os brasileiros locais.&nbsp;

Todavia, vozes emporcalhadas da m&iacute;dia brasileira e o pr&oacute;prio Governo se levantaram para considerar a pol&iacute;tica de deporta&ccedil;&otilde;es de criminosos brasileiros como viola&ccedil;&otilde;es dos direitos humanos, somente agora percebidos pelos nossos mandat&aacute;rios, quando esta pol&iacute;tica se desenrola nos EUA h&aacute; tempo, praticada por governantes de esquerda. &Eacute; o cinismo contumaz da elite no poder!

Passo a outro tema assaz comentado, a partir dos an&uacute;ncios da nova administra&ccedil;&atilde;o norte-americana. Como sempre, os &nbsp;corifeus defensores dos interesses &nbsp;globalistas, classificam como mero protecionismo as afirma&ccedil;&otilde;es de &nbsp;Donald Tramp, que &nbsp;visam, atrav&eacute;s &nbsp;de pol&iacute;ticas tarif&aacute;rias, atrair de &nbsp;volta para os EUA as &nbsp;empresas que migraram para China, &agrave; &eacute;poca de Mao Tze Tung e de Nixon quando de &nbsp;sua &nbsp;visita &agrave; Rep&uacute;blica &nbsp;Popular da China, acompanhado do mentor da &ldquo;ideia Genial&rdquo;, o estrategista Henry Kissinger, segundo a qual a transfer&ecirc;ncia em massa de empresas industriais para aquele pa&iacute;s, dominado pelo Estado socialista e totalit&aacute;rio, traria prosperidade e afastaria a China da ideia fixa do socialismo.

Ledo engano. Testemunhei e vi de perto o advento da riqueza chinesa promovida por Deng Xiaoping, quando da minha visita &agrave; Republica Popular e &nbsp;acompanhei o nascimento do lema do grande l&iacute;der: &ldquo;n&atilde;o importa a cor do gato, conquanto que coma os ratos&rdquo;.

Em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; China, o que busca o presidente Trump &eacute; trazer de volta para os EUA as empresas tr&acirc;nsfugas, que se &nbsp;homiziaram naquele pa&iacute;s oriental e &nbsp;comunista para se beneficiarem dos custos baixos da m&atilde;o de obra e da aus&ecirc;ncia de tecnologia e inova&ccedil;&atilde;o.

Isso n&atilde;o &eacute; protecionismo, mas recupera&ccedil;&atilde;o da pol&iacute;tica industrial dos Estados Unidos da Am&eacute;rica, ainda &nbsp;que &nbsp;possa chamar de uma &nbsp;esp&eacute;cie &nbsp;de &ldquo;protecionismo tardio&rdquo;, a ado&ccedil;&atilde;o de tarifas compensat&oacute;rias perante as disson&acirc;ncias tarifarias nas rela&ccedil;&otilde;es comerciais da maior pot&ecirc;ncia econ&ocirc;mica do mundo com muitos de seus parceiros, principalmente os que pretendem romper com os benef&iacute;cios oferecidos pelos norte-americanos, atra&iacute;dos pelas ofertas geopol&iacute;ticas e comerciais dos chineses e outros &nbsp;concorrentes.

Ou os norte-americanos devem assistir passivamente os pa&iacute;ses integrantes do BRICS torpedearem o d&oacute;lar?&nbsp;N&atilde;o ser&aacute; mais prudente defender o papel desempenhado pela moeda nacional dos EUA, desde que &agrave; &eacute;poca de Nixon, o ouro desapareceu como reserva?&nbsp; Desde quando defender os interesses nacionais, de qualquer pa&iacute;s, passou a ser uma politica agressiva ou contr&aacute;ria a estabilidade internacional?

Enfim, quem tem telhado de vidro n&atilde;o joga pedra no dos outros!

Esse maravilhoso poema de amor, escrito em 1888 pelo poeta parnasiano Olavo Bilac, foi o sentimento que brotou em todos os cora&ccedil;&otilde;es e mentes, dos que ouviram, entre beijos e risos, o discurso pronunciado por Donald Trump, na &nbsp;solenidade de sua posse, ontem, no Capit&oacute;lio, como Presidente dos Estados Unidos da Am&eacute;rica.

Realmente, as suas palavras brilharam como estrelas e penetraram na consci&ecirc;ncia &nbsp;da Humanidade, convocando a todos os serem humanos para a recupera&ccedil;&atilde;o dos valores morais, que moldaram, ao longo de toda a Hist&oacute;ria, o pensamento &nbsp;crist&atilde;o, base fundacional do Ocidente.

O discurso de Donald Trump n&atilde;o foi dirigido apenas para os &nbsp;americanos, mas pra todo o mundo. Foi, impulsionado pela for&ccedil;a pol&iacute;tica que configura a maior Democracia do planeta e a economia mais pungente do mundo, uma vigorosa advert&ecirc;ncia sobre os rumos destrutivos que amea&ccedil;am a &nbsp;civiliza&ccedil;&atilde;o ocidental.

Identificamos no governo democrata de J.Biden o &nbsp;florescimento dessa vis&atilde;o de mundo, logo disseminada por universidades e as institui&ccedil;&otilde;es do &nbsp;governo norte americano. Essa politica n&atilde;o s&oacute; contestou sustent&aacute;culos morais da &nbsp;sociedade americana, mas influenciou as &nbsp;na&ccedil;&otilde;es &nbsp;do mundo, penetrando vigorosamente em sociedades europeias e no Brasil desdobou-se em pol&iacute;ticas p&uacute;blicas, colaborando com a ditadura judicial na qual o pa&iacute;s padece.&nbsp;

O Presidente dos EUA interpretou o &ldquo;destino manifesto&rdquo; da grande na&ccedil;&atilde;o, que pretende reerguer no cen&aacute;rio mundial, assumindo a sua reponsabilidade em face da liberdade, o principal valor permanente da cultura politica americana e a igualdade constitucional das ra&ccedil;as, dos sexos, das cren&ccedil;as, enfim das escolhas dos cidad&atilde;os e das cidad&atilde;s americanas.&nbsp;

A degrada&ccedil;&atilde;o desses valores fundamentais estavam levando os EUA ao decl&iacute;nio moral e econ&ocirc;mico, expresso no crescimento exponencial do crime e na degrada&ccedil;&atilde;o ideol&oacute;gica de uma esquerda fracassada, desde que ru&iacute;ram as &nbsp;sociedades socialistas e &nbsp;as &nbsp;esquerdas substitu&iacute;ram suas vis&otilde;es de mundo por um tribalismo identit&aacute;rio.&nbsp;

Ressurgem nos EUA o antissemitismo, a censura e os g&ecirc;neros se multiplicam em tipos legalizados pelo Estado, ensejando pol&iacute;ticas p&uacute;blicas equivocadas e desiguais, dissolvendo a sociedade humana tradicional e reduzindo &nbsp;tudo a &nbsp;construtos &nbsp;sociais, em vez &nbsp;de &nbsp;trata-las no &acirc;mbito das prefer&ecirc;ncias individuais, consequentemente no &acirc;mbito das liberdades constitucionais.

O discurso do novo presidente dos EUA trata, naturalmente de muitas quest&otilde;es relacionadas com problemas geopol&iacute;ticos e de assuntos internos americanos, todavia, o que nos chama aten&ccedil;&atilde;o, neste artigo, &eacute; o rompimento com as pol&iacute;ticas praticadas pelo governo democrata anterior, visando submeter o pa&iacute;s &agrave; transforma&ccedil;&atilde;o de sua pr&oacute;pria cultura, da hist&oacute;ria americana e de seus valores tradicionais.

Donald Trump certamente, apesar da vit&oacute;ria eleitoral esmagadora, n&atilde;o ter&aacute; o tempo necess&aacute;rio para empreender com &ecirc;xito e na totalidade, os objetivos que tra&ccedil;ou e que s&atilde;o de grande magnitude. Todavia, Trump gerou um novo rumo, altamente transformadores, capazes de assegurar a futuros &nbsp;governantes o prosseguimento das metas, que &nbsp;colocar&atilde;o o pa&iacute;s livre do projeto esquerdista, que levou os EUA &agrave; &nbsp;divis&atilde;o social e a um certo retardo na sua vibrante economia.&nbsp;

A pol&iacute;tica externa do futuro governo americano suscita uma &nbsp;an&aacute;lise pormenorizada, em face &nbsp;da din&acirc;mica dos &nbsp;acontecimentos no &nbsp;&acirc;mbito internacional e os problemas decorrentes de pol&iacute;tica interna tamb&eacute;m merecer&atilde;o uma &nbsp;abordagem espec&iacute;fica, em artigos &nbsp;posteriores.

Nunca estivemos t&atilde;o pr&oacute;ximos do precip&iacute;cio. H&aacute; um passo da desordem, onde desaparece o bom senso e falecem todos os mecanismos que alimentam o di&aacute;logo e a compreens&atilde;o entre os cidad&atilde;os. Nosso pa&iacute;s foi convertido em um pacto de anormais, homens decididos a conduzi-lo a toda sorte de conflitos, encastelados nos cargos mais importantes da &nbsp;Na&ccedil;&atilde;o.

A ponto de perturbar o colunista na escolha de um tema. Estamos embara&ccedil;ados numa teia que nos impede de salientar um fato, que melhor configure o desespero de nosso contexto atual.

H&aacute; pouco vimos o Governo da Republica no ch&atilde;o, obrigado a se desfazer de medida fiscal, rejeitada pela quase totalidade da opini&atilde;o p&uacute;blica nacional. N&atilde;o se tratava de um componente fiscal ou financeiro, a medida, ainda que publicada pela Receita Federal do Brasil, incorporava um teor pol&iacute;tico fatal. A crise que se instalou expressava a descren&ccedil;a da popula&ccedil;&atilde;o nas a&ccedil;&otilde;es do governo, a falta de cr&eacute;dito e confian&ccedil;a da opini&atilde;o p&uacute;blica no poder governamental.

Somos uma Na&ccedil;&atilde;o pac&iacute;fica e conciliadora. Desde a guerra do Paraguai nossos soldados n&atilde;o comparecem aos campos de batalha e n&atilde;o conhecem o gosto amargo da guerra. Nos dias de hoje n&atilde;o desfrutamos uma paz integral, mas estamos acossados por conflitos, que se apresentam inevit&aacute;veis, tal a amea&ccedil;a da Venezuela de invadir nosso territ&oacute;rio e nossas enigm&aacute;ticas rela&ccedil;&otilde;es com a ditadura sanguin&aacute;ria daquele pa&iacute;s.

Figuramos nos dias que correm como participantes do chamado &ldquo;eixo das ditaduras&rdquo;, atrav&eacute;s das nefastas alian&ccedil;as que o Governo brasileiro celebrou com a R&uacute;ssia, a China, o Iram e os grupos terroristas sediados no Oriente M&eacute;dio, atraindo e dando guarida a perigosos terroristas que transitam livremente pelo nosso territ&oacute;rio.

Nesta mesma semana, tivemos as mais est&uacute;pidas rea&ccedil;&otilde;es do Governo brasileiro &agrave;s medidas anunciadas pelo grupo Meta, visando restaurar a liberdade de express&atilde;o nas suas redes sociais, medida recebida com imensa receptividade por todos que encaram as redes sociais como um dos instrumentos mais poderosos e abrangentes das democracias liberais.

A devolu&ccedil;&atilde;o provis&oacute;ria, por parte do STF, do passaporte do ex-presidente da rep&uacute;blica, Jair Bolsonaro, a fim de atender ao convite formulado por Donaldo Trump para comparecer &agrave; sua posse, como 47&ordm; Presidente dos Estados Unidos da Am&eacute;rica, foi negada pela suprema corte. A repercuss&atilde;o internacional desse fato provoca no mundo inteiro um sentimento de repulsa e, certamente, acarretar&aacute; consequ&ecirc;ncias, ainda imprevis&iacute;veis, para o relacionamento do Brasil com a maior Democracia existente, representativa da lideran&ccedil;a econ&ocirc;mica do mundo.

Sabemos, atrav&eacute;s das informa&ccedil;&otilde;es conhecidas na imprensa internacional, que o nosso pa&iacute;s, nos Estados &nbsp;Unidos e no mundo, carece do respeito e da inser&ccedil;&atilde;o nos valores que &nbsp;constituem o mundo Ocidental, condi&ccedil;&atilde;o essencial para ocupar um lugar de destaque nas contendas que o mundo atravessa, cujo deslinde poder&aacute; nos levar &agrave; prosperidade, &agrave; conserva&ccedil;&atilde;o da nossa soberania e da nossa cultura.

Nesta fat&iacute;dica semana, o STF divulgou o atestado de sua inutilidade e da bo&ccedil;alidade de suas narrativas, ao reconhecer a inoc&ecirc;ncia e absolver cinco brasileiros , encarcerados desde janeiro de 2023, por se tratarem &nbsp;de mendigos, homens pobres ou miser&aacute;veis que perambulavam pelas ruas da capital federal, atr&aacute;s de um peda&ccedil;o de p&atilde;o para mitigar a fome e que foram arrastados &agrave; cadeia sob a acusa&ccedil;&atilde;o que estavam participando de um golpe de estado, destinado a derrubar o estado democr&aacute;tico de direito.

Esta ser&aacute; a semana mais longa da hist&oacute;ria, na qual o &ldquo;diabo citar&aacute; as escrituras quando isso lhe conv&eacute;m&rdquo;, como dizia o poeta William Shakespeare.

Em 1644, John Milton, em plena guerra civil inglesa, antecedente da Revolu&ccedil;&atilde;o Gloriosa de 1688-9, pronunciou no Parlamento, o famoso discurso em favor da liberdade de express&atilde;o e pela revoga&ccedil;&atilde;o da Ordinance &nbsp;de 14 de julho de &nbsp;1643, tamb&eacute;m denominada de Ordem de Licenciamento, que &nbsp;estabelecia a censura pr&eacute;via, na Inglaterra.

A Ordem de Licenciamento, de triste mem&oacute;ria, obrigava os &nbsp;autores de livros e outras publica&ccedil;&otilde;es a obterem consentimento pr&eacute;vio do &oacute;rg&atilde;o estatal, registro de todos os materiais de impress&atilde;o com o nome &nbsp;do autor, impressor e editor, busca, apreens&atilde;o e destrui&ccedil;&atilde;o de &nbsp;quaisquer livros ofensivos &nbsp;ao &nbsp;Governo e, finalmente, pris&atilde;o e encarceramento de &nbsp;quaisquer escritores, impressores e editores ofensivos.

Com Areopag&iacute;tica, John Milton, autor tamb&eacute;m do maravilhoso livro o &ldquo;Para&iacute;so Perdido&rdquo;, pugnava pela liberdade de express&atilde;o, visando alcan&ccedil;ar, atrav&eacute;s do livre debate e do confronto das ideias, o avan&ccedil;o do conhecimento e da verdade. Numa Assembleia de maioria presbiteriana, John Milton classificava a censura como nascida na &nbsp;Inquisi&ccedil;&atilde;o cat&oacute;lica, herdeira &nbsp;da tirania da modernidade nascente e &nbsp;do Conc&iacute;lio de &nbsp;Trento.

John Milton afirmava que o bem e o mal est&atilde;o imbricados, s&atilde;o filhos do tempo e que proibir apenas um deles, dilacera o outro. Para este precursor das liberdades civis, tanto o &nbsp;conhecimento, quanto a verdade brotam dos livros livremente publicados e que &nbsp;cabe &nbsp;ao &nbsp;leitor distinguir o bem do mal, antevendo, assim, o que &nbsp;viria anunciado no Bill Of Rights ingl&ecirc;s de 1688.

O Areopag&iacute;tica, reminisc&ecirc;ncia dos debates travados &agrave; &eacute;poca da Gr&eacute;cia democr&aacute;tica, no &acirc;mbito de seu famoso Are&oacute;pago, o brilhante John Milton, condena veementemente a censura pr&eacute;via de qualquer livro, conclamando pela preval&ecirc;ncia &nbsp;da raz&atilde;o e da liberdade, lembrando que os livros que &nbsp;exaltam &nbsp;maus princ&iacute;pios e valores ser&atilde;o combativos todas as vezes que n&atilde;o permane&ccedil;am ignorados.&nbsp;

A coer&ccedil;&atilde;o externa n&atilde;o torna os indiv&iacute;duos virtuosos, pois os valores morais dependem da livre escolha de cada um e a censura termina por elidir as faculdades inerentes ao ju&iacute;zo racional e &agrave; capacidade de escolha.

Foi nessa &eacute;poca que John Milton deslocou-se at&eacute; a It&aacute;lia e visitou Galileu. Encontrou-o velho e alquebrado pelos &nbsp;sofrimentos imposto pela crueldade da Inquisi&ccedil;&atilde;o, pela simples raz&atilde;o que sustentou as verdades de uma nova Astronomia, em franca diverg&ecirc;ncia com seus inquisidores cat&oacute;licos. Nesta visita, certamente, John Milton comprovou que &ldquo;onde &eacute; grande o desejo de apreender, &eacute; tamb&eacute;m grande a necessidade de discutir, de escrever, de ter opini&atilde;o. Porque a opini&atilde;o, entre homens de valor, &eacute; conhecimento em forma&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

J&aacute; nesta &eacute;poca, na &nbsp;qual o mundo ocidental se &nbsp;debatia para descobrir os &nbsp;fundamentos de uma &nbsp;vida plena, fundada nos direitos &nbsp;humanos -principalmente nas liberdades - John Milton antevia as grandes &nbsp;conquistas que o s&eacute;culo XVII e o vindouro estavam prestes a proclamar, e &nbsp;afirmou com m&aacute;xima &nbsp;sabedoria: &ldquo;se o que se deseja saber &eacute; a causa &nbsp;imediata de toda a liberdade de escrever e de falar, nenhuma outra me parece mais verdadeira &nbsp;do que a vossa maneira moderada, livre e humana de governar&rdquo;. A esse dever renunciaram nossos governantes atuais e os poderes entre n&oacute;s constitu&iacute;dos abandonaram este princ&iacute;pio basilar, tornando a a&ccedil;&atilde;o do Estado a mais insuport&aacute;vel tirania.

Parece que John Milton discursou para n&oacute;s, os &nbsp;coevos, tal a medida de &nbsp;suas s&aacute;bias palavras, que &nbsp;atravessaram o tempo, em meio a guerras &nbsp;e toda &nbsp;sorte de infort&uacute;nios, &nbsp;para nos &nbsp;dizer que um novo Areopag&iacute;tica, renascer&aacute; em plena Hist&oacute;ria, para nos advertir &nbsp;que &rdquo;qualquer magistrado pode ser v&iacute;tima de &nbsp;falsas informa&ccedil;&otilde;es, principalmente se a liberdade estiver limitada &nbsp;ao poder de &nbsp;algu&eacute;m&rdquo;.

Marcelo Cordeiro

Todos os textos de Marcelo Cordeiro

O ovo da serpente

As ilusões destruídas

Ampla, geral e irrestrita

A miséria da toga

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O resto é bagaço

Telhado de vidro

Ora (direis) ouvir estrelas

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