A Polícia Federal bateu à porta de Luciano Cavalcante, funcionário do gabinete do líder do PP na Câmara. Verdade. Ele já foi assessor de Arthur Lira, presidente da Câmara Federal. Fato. A Polícia Federal, no entanto, recuou e disse que os mais de dois milhões encontrados em um cofre não estavam com Cavalcante, nem em Brasília e sim em Alagoas. Ah! Pasmei e pasmem vocês: Flávio Dino, ministro da Justiça, procurou Arthur Lira (PP-AL) para se explicar. O fato é que desde o ano passado, a Polícia Federal está investigando fraude em licitação na compra de kits de robótica, com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. O detalhe é que os kits foram vendidos por empresa de amigos de Lira. Ao que tudo indica o prejuízo ao Erário foi de mais de oito milhões de reais.
A questão, no entanto, não é onde o dinheiro foi achado, em mãos de quem, mas que foi achado e não havia razão alguma para o ministro da Justiça ir dar explicação a um deputado, uma vez que a Polícia Federal, órgão de Estado, fez a apreensão, como resultado de uma investigação. Ora, ora...pouco eu ouvi se falar a respeito desta, digamos, inusitada visita para explicar ação policial que de tão legítima que foi, apreendeu uma fortuna em dinheiro vivo.
Ao meu entender, permissa vênia, o que mais uma vez se expõe é que o sistema político está não apenas corrompido, em sua generalidade, mas em uma dinâmica estranha e incompreensível, onde o errado é o certo, e o certo precisa ser explicado porque é certo. Parece que as autoridades políticas brasileiras introjetaram a tese nada cidadã de que a depender de quem cometa irregularidades, contravenções e ou crimes tudo se explica e se esquece. A isso sobrevém uma onda de ceticismo com relação ao Direito, em reforço de que efetivamente o tal “você sabe quem eu sou?”, derivado do “você sabe com quem está falando?” é triste realidade factual e incontestável, em nosso País. Esses senhores agem como donos do lugar e como se tudo devesse obedecer aos seus desejos pessoais, inclusive seus delitos. É acintoso! Mas se normaliza. Vira notícia por umas vinte e quatro horas, mas logo cede lugar a outro escândalo ou fato de notória impunidade.
Por fim, disse o todo poderoso presidente da Câmara dos deputados: “Espero explicações do governo se a polícia bater um dia à minha porta”. É só agir dentro da lei que a polícia não vai, apesar de que a essa altura...sei não.