Por mares bravios e incalculáveis desafios, Ulysses navegou. Enfrentou o mar, os ventos e os monstros com astúcia, inteligência e indomável espírito. Para reencontrar a sua mulher amada, Penélope, abraçar seu filho Telêmaco e reconquistar o continente democrático, Ulysses navegou por dez longos anos, até alcançar Ítaca, o cais dos seus sonhos!
Em terra encontrou a cidade destruída e a liberdade perdida. A travessia chegou ao fim carregada de simbolismos, cujo âmago era o amor à sua mulher, afinal reconquistada e devolvida ao leito amoroso e delicado da Democracia.
Um novo Ulysses é preciso. A liberdade tem o nome de Penélope, e se insurge contra a vil censura decretada pela mais alta corte do nosso país, na mais vergonhosa das suas decisões ao longo da história.
Mesmo no túmulo, enterrada viva, a Democracia emite sinais vitais, provenientes de uma Ágora insubmissa. Os carrascos das nossas liberdades, a despeito com que sufocam nossos direitos fundamentais, respiram por aparelhos e veem aproximar-se o dia do juízo final, no qual a Nação inteira recobrará os crimes contra ela cometidas.
É patético assistir as lágrimas de crocodilo derramadas pelo mais eloquente dos censores e editores do povo e a emissão provocadora de palavras inexistentes em nossa língua, por uma ministra que perdeu até a compostura vocabular.
Ulysses Guimarães está vivo. Mais vivo do que imaginam. Está vivo nos artigos constitucionais que preservam e protegem a liberdade de expressão, que garantem aos duzentos e treze milhões de “tiranos” brasileiros uma boa dose de assombração diária! Lembre-se, cara ministra, da lei da compensação, enunciada pelo poeta estadunidense Ralph Emerson, segundo a qual ela dá a cada um segundo o que lhe é devido... e acrescenta que “as pessoas parecem não perceber que sua opinião sobre o mundo também é uma confissão de caráter”.
A sociedade da censura que está sendo restaurada à época em que todos ganharam o poder de falar e dizer o que pensam sobre qualquer coisa é baseada no ódio, na não aceitação do outro e quanto mais ela se descola da verdade mais odeia a verdade e os que a dizem. Não foi por outra razão que Goethe advertiu: “os homens que vão pela vida dizendo a verdade, não chegarão a cem metros”!
Ulysses renasce a cada golpe sofrido pela Constituição Cidadã. Pouco resta do estado democrático de direito por ele restaurado. A voracidade dos ditadores não poupou sequer as cláusulas pétreas, com as quais os Constituintes blindaram a sua obra magistral. Os que a criticam não tem olhos para ver o quanto a nossa Constituição de 1988 deu ao mundo, elevando à categoria de lei fundamental os direitos humanos, a salvaguarda da natureza, a mestiçagem cultural de índios, negros e portugueses, as garantias do cidadão, a liberdade de expressão, a separação dos poderes do Estado, entre tantos outros elementos que constituem o estado democrático de direito.
O espírito de Ulysses Guimarães é o espírito da nação, a herança que recebemos e temos o dever de preservar. É o lema que nos orienta e a bandeira que nos guia: “traidor da Constituição é traidor da pátria”.
Ao lado deste grande brasileiro, vivi a restauração das liberdades públicas como “o vigia espera o amanhecer”, um amanhecer que não tardará!