Em tempos da guerra fria, Mao Tsé-Tung disse que os Estados Unidos da América não passavam de um tigre de papel.
Nos tempos atuais, os tempos da nova guerra fria, os tigres de papel são outros, principalmente depois do desmoronamento do Muro de Berlim e seu consectário e o modo pelo qual as tentativas democráticas na América Latina desaparecem, sem deixar vestígios.
Na época da União Soviética, os esforços das nações europeias, integrantes do Pacto de Varsósia, como a Hungria e suas aspirações democráticas ou a Tchecoslováquia nos tempos da Primavera de Praga, pretendiam uma face mais humana para o socialismo. Foram, contudo, rechaçadas pelos tanques russos invasores e as ordens autocráticas da URSS. Assim eram os golpes militares.
Nas Américas não eram diferentes. Não se passava um ano sem que os levantes militares eclodissem em alguma parte e com eles as Ditaduras se sucediam, com seu séquito de horrores, tão conhecidos quanto desprezíveis. O Brasil provou desse fruto amargo ao longo de sua história republicana.
Não se fazem mais golpes como antigamente. O mundo, ainda que tardiamente, percebeu a transfiguração golpista. Os golpes são tão graves e profundos quanto os que foram executados pelos militares com suas armas de guerra. Os militares são os “tigres de papel” do mundo moderno.
A comentarista de América Latina e Canadá do The Wall Street Journal – WST, dos Estados Unidos, Maria Anastácia O´Grady, foi incisiva e clara, ao reconhecer a existência de “um golpe de estado da Suprema Corte no Brasil”. Realmente, o mundo abriu os olhos para esta modalidade de golpe de estado, através do qual “a liberdade nas Américas enfrenta um grau de perigo nunca visto desde a Guerra Fria”.
O golpe é costurado num meticuloso e contínuo processo de controle ideológico dos cidadãos, capturando suas opiniões emitidas nas redes sociais, quando não conducentes a imediato processos penais sob diferentes acusações, ao fichamento dos cidadãos conforme suas ideias políticas.
A Constituição é afrontada e interpretada ao bel prazer dos ministros do STF. Reescrita e modificada pelo mesmo STF, em inaceitável invasão de competência do Poder Legislativo. Multiplicam-se as razias policiais, realizadas por uma Gestapo, comandada pelo tribunal supremo.
O centro difusor e executor é, invariavelmente, a suprema corte dos países, que se arvora a representar a vontade popular e o estado democrático de direito e, desse modo, reproduzir os mesmos mantras ideológicos e falsos. Iguaizinhos como no passado eram dados os golpes miliares. Em vez das fardas e galardões, a toga e o peso das decisões judiciais!
Processos penais são criados para perseguir, prender, torturar, humilhar e distribuir penas exorbitantes para quem não cometeu os crimes elencados
O “tigre de Papel” em que se converteram as Forças Armadas brasileiras não deriva de sua acertada atitude de não intervenção na vida política do país, mas de sua submissão ao arbítrio togado, da leniência com que assimila os atos ditatoriais do poder judiciário, quando eles atingem funções, direitos e prerrogativas das próprias Forças Armadas nacionais.
As Forças Armadas existem para assegurar a paz, a soberania nacional reconhecidamente agredida e a preservação do território pátrio. Daí que a sua necessidade não deve ser contestada, tão pouco os benefícios inerentes ao seu poder dissuasório. As mudanças indiscutíveis ocorridas recentemente no quadro geopolítico da América do Sul recomendam especial atenção à modernização das nossas Forças Armadas, de modo a ampliar a sua capacidade militar e a confiança que nela deposita o povo brasileiro.
O que se tem visto –e não apenas em razão da míngua orçamentária das diferentes forças – é um crescente sucateamento dos recursos bélicos do país, a tentativa governamental de alteração das alianças tradicionais no âmbito ocidental e a desconfiança do povo brasileiro face a perda inevitável da importância das Forças Armadas no projeto democrático de Nação.
A democracia tem um lugar para cada uma das instituições de que depende o futuro da Nação, cada uma com o papel que lhe está destinado, uma vez exercendo-o na plenitude de seus valores constitutivos. Para que isto seja possível só há um itinerário, o da Constituição. Que ninguém a afronte ou descumpra. A Constituição é o poder original do povo e dos cidadãos. No dizer de Abraham Lincoln: “nós, os cidadãos somos os legítimos senhores do Congresso e dos tribunais, não para derrubar a Constituição, mas para derrubar os homens que pervertem a Constituição”.
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