Na tradição Iorubá, o nome de uma criança dar-se-á pela circunstância do seu nascimento. Nada é feito de forma aleatória, seja por achar o nome bonito ou por sugestão de alguém. O tipo de gestação; o local do nascimento; o Orixá que rege a família, até as condições climáticas interferem no nome a ser dado a um recém-nascido. Todo nome traz consigo sua simbologia, a partir da qual nos permite compreender as informações, não só a respeito da criança, mas da sua família – tanto no aspecto social como espiritual, fazendo com que aquela história que começa não seja esquecida. Seguem alguns nomes que trazem situações bem peculiares no nascimento. Disponibilizei no original em Ioruba com a respectiva tradução, com vistas à melhor compreensão do nosso leitor.
Okê: nasceu envolto à bolsa amniótica;
Òjó: nasceu com o cordão umbilical envolto do pescoço (menino);
Àìná: nasceu com o cordão umbilical envolto do pescoço (menina);
Dáda: nasceu com um tufo de cabelo em forma de coroa;
Ìgè: nasceu pelos pés;
Abionã: nasceu no caminho;
Adêowô: nasceu com dinheiro;
Adêolá: nasceu com honra;
Bijidê: nasceu durante a chuva;
Bisilê: nasceu em casa
Quando somos iniciados no Candomblé, renascemos para o Orixá, Inkise ou Vodun. Na nação Keto, o recém-iniciado recebe o orúkọ (nome), que é dado de acordo com o Orixá regente do Ori - Cabeça. Assim é na nação Angola e na nação Jejê. Em Angola, nome significa d’jina e no Jejê huím. Aqui no Opô Afonjá, meu orúkọ é Abiodun, que significa: aquele nascido em dia ou período festivo. Mãe Stella se chama Odé Kayodê – o Caçador que traz alegrias.
No culto aos Eguns, aquele Ojé que teve o privilégio de se tornar um Babá Egun também traz consigo um nome em sua nova vida após a morte. Eguns muito antigos como Babá Ayó, que significa o Pai da Alegria; Babá Nilêowô: Pai da fartura, aquele que traz dinheiro pra casa; Babá Inxé Orun: o Pai que traz coisas boas dos Céus; Babá Axó Inã: o Pai da roupa de fogo; Babá Ojunilê: o Pai que olha a casa, os olhos da casa, entre outros, carregam na força de seus nomes - orúkọ, o Axé que trazem para seus filhos; parentes e amigos.
Existem outros casos especiais na tradição Iorubá: os gêmeos e os abikus. No caso dos gêmeos, as crianças têm nomes específicos, levando em consideração a ordem do nascimento. Existe um itan que conta que o primeiro dos gêmeos veio com a missão de olhar o mundo para que, assim, o segundo pudesse vir. O primeiro se chama Táíwô, que significa: aquele que veio olhar o mundo. O segundo é Kéhindê, que significa: aquele que veio depois. Ìdòwú é o terceiro – no caso de trigêmeos, ou o primeiro filho após o nascimento dos gêmeos. Àlàbá é a segunda após o nascimento dos gêmeos (menina) e Ìdogbê, o segundo após o nascimento dos gêmeos. Vale à pena ressaltar que, diferentemente do Brasil, toda criança nascida gêmea pertence ao Orixá Ibeji, como também para Eles são iniciados.
Outro caso especial porém não muito auspicioso, são os Abikus. Sua tradução literal é: aquele que nasce para morrer. Na tradição Iorubá, a mulher que dá a luz a crianças nati-mortas ou mortas em tenra idade é chamada de awomowu, cujo significado é: aquela que traz os filhos ao mundo para morte, onde sem pretensões e, inconscientemente, carrega consigo este infortúnio. Acredita-se que em cada família, essas aparições no mundo, por um curto período seja da mesma criança e, por este motivo, elas têm nomes especiais com a tentativa de estabilizar a permanência no mundo dos vivos, sobretudo, com o objetivo de findar este ciclo tão doloroso pra estas famílias.
A tradição também diz que essas crianças fazem um pacto com o “Guardião do Portal” antes de virem ao mundo. Entre elas decidem quanto tempo pretendem ficar e qual família irão encontrar. É através do Merindinlogun – jogo de búzios que, se descobre quando a criança é Abiku. Esse é um tema que os Iorubas não costumam falar, pois traz muita dor, assim como a tradução dos nomes dessas crianças:
Aiyélaagbe: não parta; não se vá.
Akúji: o que está morto desperta.
Mákú: não morra.
Omotúndé: a criança voltou.
Apàrà: não fique indo e voltando.
Òbísèsan: nascido pra vingar.
Dúrósimi: fica pra me enterrar.
Espero que o acesso a este conhecimento promova cada vez mais a consciência com o uso dos nossos saberes tradicionais do Candomblé, sem macular o legado Ancestral e sem transgredir a tradição, respeitando sempre o que os mais velhos nos ensinaram.