Pessoas com deficiência não serão crianças para sempre  

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Pessoas com deficiência não serão crianças para sempre  

É fato que a sociedade ainda não sabe lidar da melhor forma e ainda precisa ser bastante desconstruída com a questão da autonomia, da independência e do crescimento dos PCD’s para a fase adulta, visto que, ainda é recorrente um tratamento mais infantilizado com estas pessoas mesmo que não sejam mais crianças, isso é consequência da falta de conhecimento na maioria dos casos causada pela construção social que decorre de décadas e é imposta aos deficientes, construção esta que molda uma imagem extremamente equivocada de pessoas com deficiência, onde imaginar algum deles morando sozinho é algo fora de cogitação na cabeça de muitos, ou seja, pessoas como eu que busca ter um conhecimento maior e vive ao lado de alguém com deficiência, ou não, precisa também assumir um papel juntamente com outros aliados a causa e principalmente juntamente aos deficientes que falam por si só, de mostrar ao resto do mundo a capacidade deles em ser pessoas completamente autônomas.

Se formos parar pra listar algumas das principais situações além da questão do tratamento já mencionado anteriormente, um caso bastante recorrente é a situação na qual as pessoas falam com os pais ao invés de falar diretamente com o deficiente por imaginarem que eles não seriam capazes de responder de forma apropriada ou conveniente como se faria com pais de um bebê ou uma criança muito pequena, ou por exemplo, sempre tornarem estas pessoas “cafés com leite” em várias realidades cotidianas, ou a questão do tabu que é a pauta das relações afetivas de PCD’s (já escrevi uma coluna sobre isso, está aqui no portal) já que as pessoas imaginam que deficientes não podem namorar por não terem maturidade para tal ou exatamente por as enxergarem como crianças ou além disso, o fato dessas pessoas morarem sozinhas ser algo de outro mundo como eu já havia falado também, estas são apenas algumas das inúmeras problemáticas que podemos citar e isso nada mais é do que um preconceito velado perante as pessoas com deficiência que não se sentem bem em passar por isso, algumas têm a devida noção dos adultos que são e as que não têm é consequência inclusive dessa construção que as mantêm presas numa bolha na infância ou no máximo, pré-adolescência.

Fui perguntar a Cacai como ela se sentia quando a tratavam como criança e ela me respondeu da seguinte forma “eu não gosto quando ficam falando com voz de criança comigo, eu já sou uma adulta né, faço coisas de adulta também, eu sempre corrijo a pessoa”. Perguntei também se ela pretendia morar sozinha um dia e ela me disse “é claro, eu quero morar sozinha logo que for possível, cozinhar, fazer as tarefas de casa e pagar as contas com o meu próprio dinheiro”. Minha irmã, por sua vez, sempre foi bastante entendida nessa questão, nossos pais sempre mostraram a ela que ela não iria continuar sendo criança para sempre, é muito importante que os pais façam esse papel também e instruam seus filhos referente a isto, para que eles saibam falar por si só e ter o máximo de autonomia possível, já que os pais não são eternos e nem todos tem sequer irmãos para lhe fazerem companhia no futuro.

Todavia, estamos falando de tratamento igualitário e imagem construída para com as pessoas com deficiência mas não que eles deixarão de tomar atitudes mais infantis ou imaturas vez ou outra, que é observado até no caso de pessoas típicas, sem nenhuma deficiência. Crescer e amadurecer é uma condição imposta a toda a raça humana, todos tem que passar por esses processos, de um jeito ou de outro.

Neste sábado (7), toda nossa família foi prestigiar a palestra do querido Alex Duarte, diretor de cinema e psicopedagogo que vale-se da indústria audiovisual para lutar em prol a causa da pessoa com deficiência. Escreveu e dirigiu o filme “Cromossomo 21”, história de amor entre uma menina com síndrome de Down e um menino que não possui a síndrome, Alex também realiza a Expedição 21 que é um projeto que visa a autonomia dessas pessoas, um programa em formato de reality show onde cerca de 18 deficientes com Down passam 4 dias em uma casa sozinhos, exercendo funções cotidianas, buscando exercitar a mente em várias situações que serão necessárias e posteriormente aplicadas no dia a dia deles, ele foi premiado em Hollywood inclusive pela Expedição. Eu, como colunista do Farol Da Bahia aproveitei para fazer duas perguntas a Alex, tais como:

1. Como você se sente, mesmo não estando no lugar de fala, sabendo que inspira e conscientiza tantas pessoas (deficientes ou não) na causa da pessoa com deficiência? R: Quando eu percebi que eu era aliado das pessoas com deficiência e eu parei de ser obstáculo, eu vi que isso era inspiração, antes eu não era inspiração e sim uma vergonha se formos parar pra pensar, porque antes eu enxergava as pessoas com síndrome de Down infantis já que a sociedade me ensinou desta forma e se a gente for parar pra pensar, todo ser humano nasce, cresce, amadurece e morre, por que as pessoas com Down estacionavam na infância? por conta de uma série de posições que a sociedade colocou, então, hoje a gente vê que é completamente possível e que essa autonomia vem justamente da questão da tomada de decisão, que é quando quaisquer deficiente pode tomar suas próprias decisões pra ser feliz que é o que todo mundo quer, então por que eu, por que você e outras pessoas comuns acabam rotulando e segregando estas pessoas? enquanto eu não revisar e saber meus limites para ajudar a empoderar uma pessoa com deficiência, eu não posso fazer inclusão social.

2. Assisti o documentário da Expedição 21 e me emocionei demais, queria saber se você pretende continuar fazendo a expedição ou trazer outros projetos como este? R: A Expedição 21 se transforma em um programa então em maio do ano que vem vai acontecer a segunda turma já, contamos com mais de 500 inscritos, agora para todos os jovens com deficiência intelectual, não só pessoas com síndrome de down, já que essas pessoas estão muitas vezes à mercê da sociedade, do que os pais pensam, do que a sociedade acaba impondo por isso que é um trabalho pra eles, para que se sintam lá dentro independentes e autônomos.

Finalizando este artigo, eu deixo aqui uma reflexão “Qual sua imagem para com a independência e autonomia de uma pessoa com deficiência?” se a sua resposta não for positiva, sugiro que comece de agora a desconstruir esse pensamento tão enraizado para que se tornem outras pessoas mentoras da verdadeira imagem que deve ser passada, que todos são capazes de tudo, de tomar suas próprias decisões, de seguirem seus sonhos e que nos tornemos ainda mais aliados das pessoas com deficiência.

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