Sem cenas

Ás

Sem cenas

Dessa forma o segurança advertiu João Alberto, em momento que o asfixiava. Naturalmente, que o crime... - espero que isto ninguém ponha em dúvida – gerou grandes discussões no Brasil e fora. O esperado negacionismo surge, inclusive com afirmações de que no Brasil não há racismo. Estranho estabelecer essa assertiva, inclusive, porque há uma legislação nessa direção, e mais: é um crime inafiançável. Faz-se necessário entender que o racismo brasileiro é muito perigoso, porque não se trata de não vê-lo acontecendo, mas de se criar uma narrativa de que  ele nem existe. É de uma falácia, de uma hipocrisia desmedida asseverar que não existem raças, mas apenas uma, a humana. Sim, esse seria o ideal de busca, mas sabemos que não é verdade. 

Sejamos honestos, como pretensos brancos e muitos negros também: Quem não viu com preocupação em uma rua escura a aproximação de um negro? Qual o negro que não se viu vigiado dentro de uma loja? Nem precisamos buscar mais questionamentos. Isso que é o racismo estrutural. Não coloco que a preocupação de um branco em ser assaltado em uma rua escura por um negro implica em ser aquele branco um miserável racista, não. Não é isso. É a naturalidade com que já se estabeleceu que um negro pode nos roubar. Sempre recordo de minha mãe, uma das pessoas mais generosas que conheci, que se dirigia a sua melhor amiga, D. Cecília, mulher negra, como sendo “a negra de alma mais branca que ela conhecia”. Minha mãe não era racista, mas tinha esses conceitos automatizados. No dia que a esclareci sobre o conteúdo de sua fala, ela desabou, foi procurar D. Cecília para pedir perdão, pois falava sem se dar conta. Naturalmente, que isso já faz cerca de três décadas, e hoje já há um policiamento sobre algumas posições verbais, mas a brasa ainda está dentro de muitos, que buscam banalizar, desconstruir, desqualificar esta realidade que se torna matemática, bastante confrontar os percentuais de negros e brancos no Brasil e verificarmos como estão ocupados os espaços de poder, no setor público e também no privado.  

Assim, o racismo brasileiro se torna, sob muito aspecto, muito mais danoso do que o explícito, uma vez que não reconhecido, não se combate, consequentemente continua em uma espécie de fogo do monturo, alastrando-se escondido, mas continuamente.  


 

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