É sabido que todos guardamos um lado sombra e luz em nossas mentes, em nosso ser, ainda que tenhamos sempre grandes adjetivos para conceituarmos a nós mesmos, pois geralmente nos enxergamos mais inteligentes, mais generosos, como “bom caráter” do que de fato somos. Guardamos, então, segundo a Psicologia Analítica, possibilidades inferiores, das quais não somos conscientes. Essas sombras se revelam em nosso contato com o meio, com as pessoas e a tendência é ignorar essas características, empurrando-as para o inconsciente, porque elas envergonham o ego e conturbam o funcionamento da persona. Ela nos mostra que não somos o que pensamos ser, nosso ego nos ilude, criando a imagem de sermos bem polidos, iluminados e respeitáveis. A sombra nos assusta, pois nos revela quem de fato nós somos.
Infelizmente, nesse momento em que estamos percebemos tanto essas sombras projetadas nos outros e até em nós mesmos, fugindo, negligenciado, por consequência, da compaixão, que se torna tão necessária nesse no processo de pandemia. A palavra “compaixão” gera muita confusão em português, sendo frequentemente confundida com “piedade” ou “dó”, equivocadamente. A psicologia moderna define a compaixão como “o sentimento que surge quando se testemunha o mal-estar (sofrimento, estresse) do outro (ou o próprio), e que gera a motivação ou desejo de ajudar (ou de se cuidar)”. A compaixão então é vista como uma “motivação” (não uma emoção) que orienta o comportamento humano. Esta definição é muito semelhante aos conceitos descritos na filosofia budista.
Nesses dias poderemos entender melhor a importância da compaixão, analisando os seus três componentes, segundo a pesquisadora Kristin Neff:
1.- Mindfulness (Atenção plena). Consiste em se tornar consciente e reconhecer o próprio sofrimento e dos outros, sem julgamento ou crítica. Não se nega o sofrimento ou se foge dele, como a maioria das pessoas faz; 2.- Humanidade compartilhada. É a ideia de que o sofrimento ou estresse que experimentamos está sendo experimentado por milhares de pessoas neste momento. E que milhares de pessoas experimentaram isso no passado, ou irão experimentá-lo no futuro, porque o sofrimento é inerente à natureza humana. 3.- Autogentileza. Implica autocuidado e compreensão para consigo mesmo (e com o outro) quando se experimenta o sofrimento. É o contrário de criticar, ou da voz autocrítica (culpando-se excessivamente ou negando a própria dor).
Assim, tenhamos mais compaixão e sejamos menos sombra diante da dor dos que padecem.