UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO

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UMA ANDORINHA SÓ NÃO FAZ VERÃO

Quando o telefone soou na Venezuela, do outro lado da linha estava o Secretário do Prêmio Nobel, em Oslo, na Noruega, o Senhor Cristian Berg Harpiviken a fim de comunicar a Maria Corina Machado, que ela fora agraciada com o Prêmio Nobel da Paz, em 2025. 
A líder da oposição democrática naquele país sul-americano, tomada de grande emoção, pronunciou suas primeiras palavras com a voz embargada: “meu Deus... não tenho palavras”, revelando-se surpreendida com a notícia inesperada.
E continuou, refeita do choque previsível, para afirmar que aquele distinção era “uma conquista de toda uma  sociedade. Eu sou só uma pessoa. Certamente, não mereço isso.” Com essas palavras expressou a profundidade de seus sentimentos e a dimensão que tal prêmio alcança na opinião pública mundial.
Maria Corina compreendeu naquele instante que a luta pela democracia e pelos direitos humanos era um mérito inestimável do povo venezuelano, mas também correspondia a uma meta comum a todos os seres humanos, unidos pelos valores da liberdade e da justiça.
A luta do povo venezuelano para recuperar a democracia e erguer uma sociedade próspera, depende dos esforços e sacrifícios que tem sido exigidos pela brutalidade totalitária do regime dominante, mas não dispensa a solidariedade e a contribuição de outras nações democráticas do mundo, na medida exata de que no mundo em que que vivemos os  conflitos expõem alinhamentos geopolíticos.
A Venezuela não escapa dessa “nova” guerra fria, que tem dividido o planeta em áreas de influência. E não apenas econômicas, tão visível em escala global, mas implantando uma guerra cultural destinada a abolir o Estado Nacional, colocando em seu lugar uma governança mundial, cujo consectário é a eliminação das democracias.
A concessão desta magna premiação a Maria Corina representa corroborar o ingresso da Venezuela no panorama mundial, legitimar seu caráter global e apoiar a intervenção norte-americana, visando reintroduzir os valores ocidentais, contestados pela ditadura venezuelana e seus crimes.    
Premiada Maria Corina, ela própria teve a sua reputação muitas vezes multiplicada, de tal maneira que através dela, de sua grandeza humana e espírito combativo, reverbera perante as ditaduras do mundo inteiro, sobretudo a brasileira –cada vez mais funesta, arbitrária e cínica -. Maria Corina passa a ser, por conquista e mérito, uma espécie de denúncia viva e ambulante dos modelos totalitários exportados pela ditadura venezuelana.
Não foi à toa que os noruegueses distinguiram, com justiça e sabedoria, a Maria Corina. Eles viram nela, ainda que os menos avisados não tivessem percebido, uma emissária competente e confiável, cuja premiação, por si só, já é uma explícita e insofismável negação de todo antiocidentalismo que grassa no mundo.
Sem dúvida, que tal premiação, há tempo não tem tanto significado e vai atuar com imensa prontidão e senso de  oportunidade, lançando às ditaduras espalhadas pelo mundo a autoridade moral de  que é investida.
Essa andorinha faz verão, sim. E primavera também. Como disse o filosofo grego Aristóteles, em seu livro Ética e Nicômaco: “uma andorinha só faz primavera”.

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