Valores que se perdem

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Valores que se perdem

Faço o entendimento de que o processo de avanço social é absolutamente livre, fazendo com que os caminhos sejam traçados pelos componentes da sociedade em movimento. Entendo, também, por outro lado, que a sociedade deve ser soberana para traçar a aceitação dessas dinâmicas transformadoras, legais e, em termos de gente, respeitar até o que não se entende, como, por exemplo as escolhas de gêneros de seus cidadãos, na condução de suas vidas. Porém, o que quero refletir aqui não é a questão individual de cada membro da sociedade, mas o respeito às tradições culturais de um povo, de uma região. Sei que cultura se diferencia de tradição, enquanto aquela (a cultura) é dinâmica, vai se adaptando e se acumulando, mudando sempre, inclusive com a introjeção de novos conceitos, a tradição representa entregar, passar adiante. É a continuidade com permanência de uma visão de mundo, de costumes e valores que se estabeleceram em segmentos, moldando uma forma de ser, gerando identificação e liames com a ancestralidade. Dessa forma, não consigo entender como as grandes atrações juninas das cidades de nosso estado, inclusive Salvador, cederam ao apelo de sucesso e descaracterizou o bom e velho São João com atrações sem maiores vínculos com a festa, e a peso de outro.  Wesley Safadão, por exemplo, que se destaca com o maior cachê pago para animar festas juninas baianas. Com valor de R$ 700 mil por show, ele fez cinco apresentações no estado, somando R$ 3,5 milhões, também em Salvador. Nada contra a sua arte e o quanto ele cobra para apresentá-la. A questão não é essa, mas sim o que fez esta festa chegar até a contração de Wesley Safadão. 

Naturalmente,  os gestores vão dizer que o povo gosta, que lotou, que todos foram e acharam ótimo. O ponto, no entanto, permita-me, não é de ser sucesso ou não, mas de obrigação de preservação de história, da tradição, como identidade do que somos e chegamos até aqui. Sei também que muitos sanfoneiros, cantadores do forró pé de serra, genuínos foram contratados, mas sem o destaque de quem herdou o tradicional. Não se trata, em absoluto, e fique claro, de qualquer preconceito bairrista, mas de preservação de valores de tradições culturais, enfatizo, inclusive como instrumento de atração turística. 

Entendo que é dever dos gestores, em todos os níveis, respeitar hábitos e costumes de cada região e evitar a formação monolítica de uma cultura que não se diferencia em seus aspectos mais rico: a formação da identidade, que dá orgulho de se ser o que é.

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