2 de Julho, celebrado neste domingo, representa a verdadeira Independência do Brasil; conheça a história
Foi nesta data, em 1823, que as tropas baianas emancipacionistas expulsaram de vez o exército português do país
Foto: Elói Corrêa/GOVBA
Há exatos 200 anos, a Bahia expulsava as tropas portuguesas do estado, após uma guerra sangrenta que durou 1 ano e 5 meses e deixou mais de 2 mil mortos. A Independência do Brasil na Bahia celebra neste domingo (2) o seu bicentenário.
Programação
Na data festiva, neste domingo (2), acontece o desfile cívico, com a participação especial do Museu Vivo da Cidade, caboclos de Itaparica, encourados de Pedrão, fanfarras municipais, estaduais e da região, além de grupos populares.
Também é realizada a cerimônia cívica da chegada dos carros dos caboclos e acendimento da pira do Fogo Simbólico, no Campo Grande. À noite, acontece o tradicional Encontro de Filarmônicas com o maestro Fred Dantas.
Para este ano, a programação especial do Bicentenário inclui a realização de um concurso de fachadas ao longo do percurso do desfile e o concurso de fanfarras e balizas, na Avenida Sete de Setembro.
Também foi preparado um show especial, na Praça Municipal, aberto ao público. A atração principal é a banda BaianaSystem, que terá entre os convidados Lazzo Matumbi, Raquel Reis, Vandal, Caboclos de Itaparica, Afrosinfônica, Liz Reis, Cláudia Manzo e Elivan Conceição.
E a programação não para no domingo, já que na segunda (3) será a vez do cantor Gerônimo se apresentar no palco do Campo Grande, onde também acontecerá o Baile da Independência com a orquestra do maestro Fred Dantas.
O enfermeiro Bruno Medeiros vai todos os anos à celebração do desfile cívico, desde que era pequeno. Ele está ansioso para ver a programação especial do Bicentenário.
“Eu amo ver as comemorações. É a minha festa de rua preferida, porque eu morava perto do desfile cívico e minha mãe sempre me levava para assistir, então é um costume já muito antigo e que eu não abro mão. E estou animado para ver como será agora, com o marco dos 200 anos. Acho que vai ser o maior 2 de Julho que já presenciei”, disse ele.
Quando era mais nova e estudante do Ensino Médio, a cozinheira Fernanda Passos era presença garantida no desfile cívico. Na família dela, desfilar uniformizado no 2 de Julho foi tradição passada de mãe para filha.
“Começou com minha avó, que passou para minha mãe e passou para mim. Hoje, já estou trabalhando para que minha filha, que tem três anos, também participe quando ficar mais velha (risos). Vou levá-la para o desfile todos os anos para que ela se familiarize e crie esse laço que nós temos com a celebração. Tradição tem que ser passada adiante, não é?”, disse ela.
Já o estudante Felipe Anderson nunca teve o costume de comparecer ao Dois de Julho, mas a programação especial deste ano atraiu a atenção dele.
“Acho que só fui uma vez assistir o desfile cívico, mas sou fã de BaianaSystem e não vou perder o show na Praça Municipal. Estou torcendo para que vire um costume e todos os anos a banda se apresenta no feriado”, contou ele.
História
Uma série de acontecimentos culminou na expulsão definitiva das tropas, ocorrida no dia 2 de julho. Nem todos foram de vitória para a população local, mas cada um teve sua importância para que a guerra maior fosse vencida e a independência fosse conquistada, como explicou ao Farol da Bahia o historiador Ricardo Carvalho.
“Foi na madrugada do 2 de julho que as últimas tropas portuguesas saíram de Salvador e que as tropas locais e vitoriosas chegaram à capital baiana, pela Estrada das Boiadas. Mas todo esse processo foi progressivo, começando com a Batalha de Pirajá, se alongando nas derrotas pelo recôncavo baiano e passando ainda pelas batalhas navais na região da Ilha de Itaparica e da Baía de Todos-os-Santos. Fala-se de quase 8 mil portugueses que fugiram da cidade para não morrer, já que estavam completamente fragilizados após o fim do conflito”, detalhou ele.
O ano em que o 2 de julho ocorreu, 1823, pode parecer estranho para os que comparam à Independência do Brasil, datada em 1822. A explicação, no entanto, não é difícil de ser encontrada: mesmo após D. Pedro proclamar a República em 7 de setembro daquele ano, as tropas portuguesas permaneceram no país e só foram deixar por completo o território brasileiro mais de um ano depois, no fim de 1823.
“Mesmo com a proclamação da República, Portugal não tinha desistido do Brasil e tinha o projeto de pelo menos manter sob seu controle o Norte do país. D. Pedro tinha declarado a Independência, mas ele estava no Rio de Janeiro e esse sentido de unidade nacional não era tão forte. E muitos dos líderes militares portugueses aderiram à causa de manter essas regiões do Norte e Nordeste vinculadas a Portugal. Por isso precisou de muita união do povo, de diferentes classes sociais, que lutaram para que a emancipação fosse feita por completo”, disse ele.
Antes disso, os baianos travaram a batalha definitiva com o exército português e a Bahia pôs em prática A partir daí, os movimentos emancipacionistas ganharam força e o Brasil expulsou as tropas imperialistas, de fato, do país.
Grandes personagens
Cerca de 15 mil soldados participaram de cada lado da luta. Pelos emancipacionistas baianos, alguns nomes ganharam destaque e ficaram marcados na história, sendo lembrados e exaltados até hoje pelo papel definitivo na vitória do dia 2 de julho.
Joana Angélica
A freira Joana Angélica, pertence à Ordem das Reformadas de Nossa Senhora da Conceição, se tornou um símbolo da luta pela independência ao se colocar à frente do Convento da Lapa, em Salvador, e atrasar a invasão do local pelas tropas portuguesas. Com o ato, ela foi assassinada, ao conceder tempo para que as pessoas que ali estavam fugissem.
Maria Quitéria
Desobedecendo a proibição de que mulheres atuassem na vida militar, Maria Quitéria lutou bravamente em Salvador, na Ilha de Maré e na região do recôncavo com as tropas emancipacionistas no campo de batalha. Ela se alistou como soldado e lutou na Guerra da Independência, da qual foi uma sobrevivente.
Maria Felipa
Figura emblemática que representa a participação do povo negro na luta dos baianos pela liberdade, principalmente das mulheres da Ilha de Itaparica. As informações sobre a vida de Maria Felipa não são precisas, mas é convencionado que ela se alistou à Campanha da Independência e liderou a resistência em Itaparica.
João das Botas
Português que aderiu à causa da Independência e ficou contra as tropas portuguesas. Ele comandou uma pequena frota de embarcações e protegeu a parte interna da Baía de Todos-os-Santos e a Ilha de Itaparica.
General Labatut
O general francês Pierre Labatut foi o grande responsável por liderar as tropas baianas na luta contra Portugal e pela Independência. Recrutou escravos para o seu front, o que contrariou a nobreza, fechou a passagem da Baía de Todos-os-Santos e esteve presente em todos os passos da grande vitória sobre o exército português.
Caretas do Mingau
Grupo de mulheres que usavam roupas para parecer assombrações e levar mingau para os combatentes baianos, ao mesmo tempo que assustava os portugueses durante seu caminho.
“Apesar de alguns personagens que tiveram maior destaque, é importante falar que essa foi uma luta do povo e que o grande personagem é o povo baiano, em união, na luta gloriosa de expulsão dos portugueses. A festa de comemoração no dia 2 de julho pela Estrada das Boiadas contava com pessoas de todas as etnias, cores e classes sociais”, pontuou Ricardo Carvalho.