'80% dos estupros são contra meninas que nem sabem o que é gravidez', diz ginecologista sobre aborto legal
Pelo menos, 14 mil gestantes abaixo de 14 anos e só 4% dessas meninas têm acesso ao aborto por estupro
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Em entrevista ao GLOBO, o ginecologista Olímpio Moraes, diretor médico da Universidade de Pernambuco, explica que, cerca de 80% dos estupros são contra crianças e adolescentes que muitas vezes nem sabem o que é gravidez. Além disso, aponta que os políticos mexem com a saúde e nunca atenderam uma mulher vítima de violência.
"Quando se faz lei sobre transporte, educação, agronegócio, chama-se alguém que entende do assunto. Mas quando se fala de direitos reprodutivos das mulheres, não querem ouvir as pessoas da área. Trabalham com seus dogmas, sem evidências científicas ou respeito às recomendações da Organização Mundial de Saúde. Foge do que deveria ser uma democracia laica", diz o ginecologista.
Olímpio aponta que o Brasil é um país continental em que apenas 3,6% dos municípios têm serviço de abortamento legal, e, além disso, 100 serviços cadastrados, metade funciona. No Nordeste só existem dois serviços que interrompem a gestação após 22 semanas.
Pelo menos, 14 mil gestantes abaixo de 14 anos e só 4% dessas meninas têm acesso ao aborto por estupro. "Uma portaria de 2012 orienta que o serviço ocorra em até 22 semanas, mas não é um impeditivo, é uma recomendação. É uma orientação técnica, a lei brasileira não bota limite, tanto para menina de 10 anos, que foi estuprada, quanto para a mulher de 26 anos com risco de morrer não existe prazo", explicou Olímpio.