A caneta do presidente

Foto: Sérgio Lima
A sutileza, às vezes, atrapalha e desacelera uma dinâmica que requer precisão nas pontuações. Sutileza ao interlocutor predisposto à vagarosidade, então, para não dizer mal intencionado, é praticamente entregar as rédeas do jogo. Ser sutil não é o forte do presidente Jair Bolsonaro – ainda bem! Na conjuntura atual dos três poderes que regem o país, falar ou agir de maneira doce, delicada, seria entregar o jogo a um Congresso cujas máscaras ainda estão para cair.
O recado está dado. É Bolsonaro quem chefia o Executivo e não à toa que este cargo é chamado de mandatário do Brasil. “Com a caneta, eu tenho muito mais poder do que vocês (...). Tenho o poder de fazer decretos. Evidente que decretos com fundamentos”, desferiu o presidente na noite da última terça-feira (28), diretamente ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Para poder tocar planos que defenda uma maior desregulamentação da economia brasileira, o poder de mando deve prevalecer sob o poder do embuste.
Um presidente com a intenção de dar canetadas para revogar decretos, portarias e instruções normativas que atrapalhem quem quer produzir e investir, por certo, é uma pertinente falta de sutileza. É preciso desarticular morosidades do parlamento e passar a mensagem, em alto e bom som, a um Maia que, desde o início do novo mandato à frente da Câmara, parece se preocupar mais em obstruir do que legislar, quanto querer ter poder de executar, o que cabe ao presidente.
Deste episódio relatado por Bolsonaro e que acontecera durante o Paco entre os três poderes, exatamente com o intuito de avançar pautas no Brasil, respeitando a jurisprudência de cada um, o mais crível, daqui em diante, é que estes abaixo do presidente pensem na canetada do Executivo como uma repreendida para se colocar as atribuições políticas nos eixos.