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A construção da modernidade

Por Erick Tedesco
Ás

A construção da modernidade

Foto: Divulgação

Crônica

O conceito de modernidade, mais do que uma referência temporal histórica, é também um estado de espírito que despertou em nações de todo o mundo o que significava pertencer ao século 20 enquanto Estado.

Enquanto algumas nações gozavam de hegemonia e riquezas, outras eram subjugadas e foram vítimas do colonialismo contemporâneo efetivado por aquelas então consideradas “potências”, como Inglaterra e França. Era o capitalismo engajado na Europa que transformou o modo de vida de diferentes classes sociais, evidentemente em níveis desiguais, dependendo de quem e como o manipulavam.

Tida como um grande Império e detentora de eficaz economia industrial, a Inglaterra era uma nação moderna. Havia o sentimento de uma cultura burguesa bem sucedida experimentada freneticamente por indivíduos que se beneficiavam em seu status, enquanto que ao mesmo tempo, existiam os trabalhadores evidentemente explorados, quando não os desempregados e mendigos, todos classificados como miseráveis, no sentido de viverem em condições difíceis.

A sutileza de um sistema administrativo da Inglaterra, expansionista e industrializada, movimentava-se em um paradoxo. Os “miseráveis” estavam lá, desnutridos, carentes, desgraçados e mal vestidos, implorando por emprego, conscientes que seriam mal pagos pelo serviço, mas suplicando por trabalho. Do outro lado estava a classe burguesa, pomposa, exuberante, um “exemplo de vida” para todos, despreocupada com a miséria alheia e pagando o mínimo possível pelo trabalho que realizavam para movimentar seus negócios.

O jornalista estadunidense Jack London, nos primeiros anos do século XX experimentou como era o cotidiano de um proletariado residente em East End, descrito pelo próprio como o lugar mais sofrível e miserável do lado leste de Londres. Trajado como aqueles indivíduos que viviam a margem das ruas e literalmente rastejando para se alimentar e dormir da forma mais precária possível, o jornalista realizou um trabalho de campo que atestou a exploração da força de trabalho, a descrença de uma vida qualitativa além daquela e os males culturais e sociais da escassez. Enfim, era a miséria inesgotável.

Uma contrapartida vinha do autor John Keegan – que coloca em pauta o Eurocentrismo e a relação do continente com o mundo – a Inglaterra ostenta-se na cultura burguesa e nas fissuras da classe marginalizada pela classe social dominante. Ou seja, a economia era lucrativa para poucos, enquanto que muitos eram a escória que em nada foram beneficiados pelo desenvolvimento de nível cultural e intelectual ao longo dos séculos. A precariedade total os assolavam.

Há de se levar em conta também a exploração além das fronteiras britânicas, como retratadas por Keegan, colônias africanas e asiáticas cuja posição social foi redefinida pela Inglaterra naquela época, que apoiada em um Estado nacionalista retalhou e dividiu terras, causando estragos significantes àquela população, que pouco se importava com a tecnologia que seria implantada “em nome da modernidade”, o que na verdade era encarado como corrupção de tradições.

O cenário traçado, por certo, era mesmo o prenúncio da guerra. Não apenas porque assim como na Inglaterra, mas também em outras nações europeias como França, Itália e Bélgica, grande porção da população (sobre)vivia miseravelmente ante uma burguesia enriquecida, o Imperialismo e ineficazes leis internacionais de comércio atingiram o limite da capacidade de reger o velho continente, e ordem alguma impediu o choque entre nações no episódio conhecido como Primeira Grande Guerra Mundial. 

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