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A frase "Você sabe com quem esta falando" não cabe mais no Brasil

Superintendente da Vigilância Sanitária no Rio cobra consciência da população sobre seu papel na pandemia

Por Da Redação
Ás

A frase "Você sabe com quem esta falando" não cabe mais no Brasil

Foto: Reprodução

Em entrevista para o jornal O Globo, o superintendente de Educação e Projetos da Vigilância Sanitária, Flávio Augusto Soares Graça, diz que as agressões têm se intensificado nos últimos dias nas ações de fiscalização para o cumprimento das regras de flexibilização da reabertura no Rio de Janeiro. 

Ele menciona que falta uma "maior conscientização da população quanto ao seu papel", durante a pandemia. Mas, segundo ele, a população já entendeu que "não cabe mais no Brasil o 'você sabe com quem está falando?'" destaca, ao se referir ao engenheiro e sua mulher que, no último sábado (4), cobraram explicações e o agrediram verbalmente, em frente a um bar. 

Como foi naquele dia?

Ao chegar no local, nós encontramos uma grande aglomeração no estabelecimento. Eu sempre registro a ação com um celular, para dar legitimidade. Quando passei a gravar, as pessoas começaram a se levantar. Não só aquela moça, mas outro rapaz. Eles vieram e disseram que eu não tinha direito de gravá-los e pediram direito à imagem. Logo em seguida, falaram que iriam anotar o meu nome.

Alguém do estabelecimento que falou alguma coisa?

Um rapaz apareceu e afirmou que era um dos advogados (do espaço), tentando nos intimidar, e disse que era para parar a inspeção. Eu disse que não iríamos parar de fiscalizar. Então, ele foi aos PMs que nos ajudavam e pediu para me levarem para a delegacia. Naquele instante, ele se apresentou como delegado. Os militares disseram que a Vigilância Sanitária não estava fazendo nada de errado e só estava cumprindo a legislação.

Como avaliou a fala do casal?

Não cabe mais no Brasil o “você sabe com quem está falando?”. Isso está ficando cada vez mais banido. Todo cidadão contribui com seus impostos para justamente nós o protegermos. Esse foi o princípio da cidadania que eles não exerceram. Ela achou que cidadão é ofensa e não é. Quando eles falam aquilo, não nos atingem. Todos são formados e com curso superior. Ficou feio para ela, para a imagem do carioca. Fica ruim para o estabelecimento, porque ele não representa a maioria dos lugares que sofreu tanto pela pandemia. Uma classe que foi arrasada, e agora muitos tentam retornar. Aquilo mancha a categoria.

No momento da agressão, seja física ou verbal, o que passa pela sua cabeça? Existe uma irritação?

Não. Esse tipo de agressão não consegue me desestabilizar. Antes da agressão que foi veiculada na TV aconteceram outras antes. Dois rapazes, antes daquilo, foram mais agressivos. Pensamos que iríamos ser agredidos. Eles foram muito mais violentos. A Guarda (Municipal) teve que se portar de uma maneira mais incisiva para coibir a ação. Eu até falei: 'vocês se preparem porque eu acho que as coisas vão chegar as vias de fato e vão agredir a gente'. Ficamos com medo. As pessoas fazem isso para desvirtuar o foco. Se a situação for incontrolável, a gente se retira e pede apoio maior da força policial.

O que você faz para manter a tranquilidade nessas horas?

Sou professor e há mais de 20 anos convivo com jovens. A gente sabe que há algumas situações que temos que mostrar autoridade. Eu falo com todos os agentes para sempre manter a calma e não se igualar a outra pessoa. Ontem, eu até chamei a pessoa de cidadão e ela se ofendeu. Queremos que todos sejam cidadãos com a noção de seus direitos e deveres. Cidadão não pode ser pejorativo e não é uma ofensa. Cidadão é um elogio. A Vigilância sempre será um obstáculo para o mau fornecedor de produtos e alimentos.

Haverá alguma mudança na fiscalização?

Não. Elas vão continuar. Os comboios vão continuar com o apoio da Guarda (Municipal) e da PM rodando todos os bairros da cidade. Seja na Zona Norte, Oeste ou Sul. As ações não serão apenas em pontos de maior poder aquisitivo.

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