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A LUTA DO RIO

Artigo de Marcelo Cordeiro, Presidente do Conselho Consultivo da Oscip RIOLIMPO

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A LUTA DO RIO

Foto: Divulgação

“(É nelas, mas de costas para o rio,
que "as grandes famílias espirituais" da cidade
chocam os ovos gordos
de sua prosa. Na paz redonda das cozinhas, ei-las a revolver viciosamente
seus caldeirões de preguiça viscosa).”
 

Os versos de João Cabral de Melo Neto, em O Cão sem Plumas, são de uma atualidade chocante. A Oscip Rio Limpo nunca duvidou que seu maior obstáculo consistia em trazer os políticos, detentores de Poder, para a causa da recuperação do Rio Joanes e da bacia hidrográfica em que se inclui.

Construir uma opinião com base na inteligência de quantos estudaram a complexidade dos males que afetam o rio e mobilizar a massa reivindicativa do povo eram tarefas gigantescas, mas os esforços para alcança-las animaram a instituição ao longo de sua vida e tais esforços converteram-se em inestimáveis conquistas.

Dobrar a “viscosa preguiça” do Poder Público foi, contudo, a dificuldade mais persistente e difícil de todas, entre as encontradas pelos habitantes de Lauro de Freitas e pelas instituições que se dedicam à luta pela limpeza de seus rios.

Há cinco meses atrás, coroando um processo de lutas sociais e acumulo de conhecimentos tangíveis, a Rio Limpo realizou um Seminário, no qual se reuniram estudiosos, lideranças populares, representantes do Poder Público e outros com a finalidade de estabelecer compromissos e definir ações conducentes à efetiva solução dos graves problemas enfrentados pela bacia hidrográfica do Joanes.

O referido Seminário representou um acontecimento culminante das ações desenvolvidas pela Oscip Rio Limpo, na sua trajetória de retirar da inércia e desatenção este que é, em verdade, o mais significativo problema da comunidade, uma vez que ele condena a população à doença, à degradação da sua paisagem circundante e destrói recursos econômicos indispensáveis à sobrevivência de pescadores e marisqueiras. Além disso, o Joanes contribui com o fornecimento de água potável para boa parte da nossa população.

Possuidor de uma dimensão social quase extravagante, o rio adquire sua dimensão moral e política, consistente na responsabilidade do
 
Poder Público em assegurar o papel por ele exercido, não só para preservar seus aspectos físicos e geográficos, mas principalmente para cumprir com as esperanças e anseios da comunidade reivindicante.

A Prefeita Moema Gramacho e o Presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, Senador Jacques Wagner, em uníssono, reconheceram a urgência das medidas saneadoras e comprometeram-se em adotá-las, na esfera de suas responsabilidades públicas, e nada fizeram. Demitiram-se, por fim, de suas responsabilidades perante a população que representam.

A Oscip Rio Limpo não hesita em desempenhar o seu papel político, que consiste em advertir e colaborar com o Poder Público na solução das demandas legítimas da comunidade, todavia não se deve entender que tal procedimento signifique alinhamento político ou ideológico, o que realmente não passa de mero exercício das franquias democráticas, constitucionalmente pertinentes à autonomia das ruas.

O debate público não esmorece frente os entraves erguidos por representantes eventuais do poder político, tão pouco se acomoda na linguagem reverencial do politicamente correto, retoma, todavia, suas energias no poder transformador dos processos democráticos que, em última análise, derivam do próprio corpo eleitoral.

Marcelo Cordeiro
Presidente do Conselho Consultivo da Oscip RIOLIMPO.
 

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