Política

Abdias Nascimento enxergava atuação na política caminho para combate ao racismo

Parlamentar defendeu que sem a participação do negro na política, não existe democracia

Por Da Redação
Ás

Abdias Nascimento enxergava atuação na política caminho para combate ao racismo

Foto: Célio Azevedo/Senado Federal

Abdias Nascimento se denominava "boi de piranha" porque se mostrava disposto em ver as suas propostas antirracistas serem engolidas no Congresso, para assim abrir caminhos para para as demandas da população negra. "Ele sabia muito bem que as atitudes que ele tomava não seriam bem aceitas por uma sociedade brasileira que vinha décadas negando a sua própria natureza racista", afirma Elisa Larkin Nascimento, viúva do intelectual morto em 2011. Filho de um sapateiro e de uma doceira, ele nasceu em Franca, no interior de São Paulo, em 1914. Na juventude, formou-se em contabilidade e foi soldado do Exército, atuando nas Revoluções de 1930 e 1932. 

A primeira vez que o intelectual se candidatou foi na eleição de 1946 pelo PRD (Partido Republicano Democrático), sigla então recém-fundada na esteira do trabalhismo. A base da sua campanha saiu de u documento lançado pelo movimento negro, em 1945, durante a Convenção Nacional do Negro Brasileiro. Intitulado "Manifesto à Nação", o documento reconhecia que o Brasil foi formado por três grupos étnicos: negros, brancos e indígenas. Também demandava tornar crime o preconceito de cor, como era chamado na época, além de apresentar pontos parar a solução dos problemas sociais que atingiam os negros e a população brasileira como um todo. Durante a ditadura militar Abdias, decidiu ir aos EUA participar de uma conferência, e então decidiu ficar no país. Seu autoexílio, como ele dizia, durou 13 anos. Durante o autoexílio, segundo Elisa, Abdias colocou a luta de combate ao racismo como prioridade nacional da nova sigla. "Mais do que isso, ele dizia que não bastava colocar no estatuto do partido, era necessário que os prórpios negros se organizassem e definissem os posicionamentos partidários sobre o assunto."

Abdias também defendeu as políticas de cotas. No mercado de trabalho, ele propôs a reserva de 20% das vagas para mulheres e 20% para homens negros na seleção de candidatos no serviço público e no setor privado. Além disso, ele pautou a necessidade de pensar a memória da população negra. "No mesmo ano que Abdias se torna deputado, ele participa de uma marcha no Rio de Janeiro com Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, entre outras pessoas, demandando que Zumbi fosse considerado símbolo da luta negra", afirma a socióloga Edilza Sotero. Para Elisa, é difícil dizer com exatidão o que fez com que Abdias não desistisse diante de tantos projetos que não foram aprovados. "Eu acho que ele tinha um compromisso e uma experiência desde criança, muito enraizada, que o levava à convicção da absoluta necessidade dessa luta e da justeza dessa causa. Acho que quando se acredita no ser humano sempre se terá a esperança que a justiça prevaleça", afirma. "Acho que no fundo era uma fé, uma confiança, um acreditar mesmo no ser humano, que o levava à frente", conclui. 

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