Política

'Abin paralela': Otto Alencar afirma que foi monitorado e teve o celular grampeado

Senador ainda acusa general Heleno de envolvimento em suposta espionagem ilegal

Por Ane Catarine Lima, Laiz Menezes
Ás

'Abin paralela': Otto Alencar afirma que foi monitorado e teve o celular grampeado

Foto: Farol da Bahia

O senador Otto Alencar (PSD-BA) afirmou ter certeza que foi monitorado e teve o celular grampeado durante a ação ilegal de espionagem que teria sido realizada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A declaração foi dada nesta quinta-feira (1º), durante participação do político na sessão de retomada dos trabalhos na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). 

"Isso [o esquema de espionagem] é desde a época da Covid, todos nós que enfrentamos o Bolsonaro, foi um enfrentamento muito duro, fomos monitorados. Meu telefone foi grampeado, eu tive que mudar o número, foi clonado duas vezes o telefone, eu fui hostilizado em aeroporto, eu fui hostilizado em Brasília, não dava para ir no restaurante", declarou o senador. 

O esquema ilegal de espionagem foi revelado em investigação da Polícia Federal. A operação Vigilância Aproximada, que cumpriu mandados contra possíveis envolvidos na ação, investiga uma "organização criminosa que se instalou na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial". A atuação ilegal  que teria ocorrido dentro da Agência Brasileira de Inteligência tem sido chamada de "Abin Paralela". 

Segundo o senador Otto Alencar, políticos bolsonaristas utilizavam o esquema para monitorar os parlamentares que faziam parte da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) da Covid-19. "Nós tínhamos reuniões secretas na casa do senador Omar Aziz (PSD-AM), à noite [...]. A gente jantava lá, e falava as coisas internamente, eu e mais três ou cinco, seis no máximo. Nenhum de nós soltava pra imprensa e no outro dia estava tudo na imprensa de manhã cedo, porque eles grampeavam, eles monitoravam. Meu telefone foi clonado, eu tinha dificuldade de conversar com os colegas", declarou.

Otto Alencar ainda acusou o general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante todo o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de ter tido envolvimento com a espionagem ilegal da Abin. Heleno foi convocado, na terça-feira (30) para depor no inquérito.

"Abin é o órgão do GSI. O GSI era comandado pelo General Heleno. Na minha opinião, ele está totalmente envolvido nisso. Ele tem que ser chamado agora pela Polícia Federal para se explicar", pontuou Alencar.

O senador baiano também citou o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), que é acusado pela Polícia Federal de ter comandado a Abin Paralela, quando era diretor da agência. Por fim, disse que ele e o senador Rogério Carvalho (PT-SE) foram espionados pela Receita Federal. 

"O Ramagem, que era o delegado federal, era da família do Bolsonaro, andava com o Bolsonaro, com os filhos de Bolsonaro, hoje é deputado federal. Então, ninguém tinha dúvida que estava sendo monitorado, investigado, com o telefone grampeado. No meu caso, por exemplo, e do Rogério Carvalho, senador de Sergipe, a Receita Federal vasculhou a nossa vida toda. Tanto que lá em Sergipe, uma pessoa da Receita avisou o Rogério. Nós não tínhamos nada a pagar com a justiça, ele não tem, eu também não tenho. Não sei o que é um promotor me denunciar, não sei o que é responder a um processo há 36 anos de política, então pode botar pelo avesso que não tem problema", afirmou.

Em conversa com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Otto Alencar declarou ter solicitado que o Supremo Tribunal Federal (STF) seja acionado para responsabilizar os envolvidos no esquema da Abin: "eu falei com o Rodrigo, presidente do Senado, ontem [quarta-feira], e ele vai pedir ao Supremo Tribunal Federal, se por acaso tiver elementos, para processar os autores dessa investigação criminosa, que se faz para intimidar a político, no meu caso não, mas intimidar um ou outro, e eu espero que se resulte na punição dos culpados", finalizou. 

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