Abril Laranja: Atletas amputados ressaltam a importância do esporte para reabilitação
De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), cerca de 85 brasileiros por dia tiveram pés ou pernas amputados
Foto: Divulgação ABDA
Luciano Reis teve a perna amputada aos 11 anos, mas nunca abandonou o sonho de se tornar um jogador de sucesso. Logo, em 2017, Luciano e Alex Fabiano se juntaram e a Associação Baiana de Desportos Adaptados (ABDA) foi criada com o intuito de suprir a necessidade da Bahia de ter um time de futebol de indivíduos que passaram pela amputação. A inspiração veio da Associação Niteroiense de Deficientes Físicos (Andef), o primeiro time de futebol de amputados do Brasil, criado em 1986.
“Eu e ele, a gente se juntou para dar prosseguimento a um projeto que já vinha desde 2012. A partir de 2017, a gente começou a correr atrás de atletas para formar então a ABDA. Começamos com um time, o Tigres, depois surgiu o apoio do Bahia e também do Vitória. Hoje nós temos o time do Bahia, do Vitória, continuamos com o time dos Tigres, entre outros times que estão surgindo a nível estadual”, conta Alex.
De acordo com Alex, ainda há um longo caminho na conscientização da sociedade acerca da amputação e muitos estigmas a serem superados. Para ele, o esporte é uma das formas de transformar a mentalidade não só dos amputados, como também dos indivíduos que enxergam a situação de fora.
“Muitas vezes a pessoa olha o amputado como coitadinho e tal, mas não conhece na verdade, a realidade. Eu acredito que, como em qualquer área, o esporte é vida, em ele te leva a um nível onde as outras pessoas que não praticam não conseguem chegar. Então, na questão das pessoas com amputação também é a mesma coisa. A pessoa que é amputada, que começa a fazer alguma atividade física, vai ver que aquela amputação ali muitas vezes não mudou a capacidade dele em nada”, afirmou.
Para Patrícia Garcez, 36, atacante do time do Bahia da ABDA, o esporte tem um papel muito importante em relação à autoestima do indivíduo amputado.
Atualmente, Patrícia é jogadora do Bahia pela ABDA, remadora, modelo, pratica boxe e surf.
“Acho se não fosse o esporte na minha vida eu estaria em cima de uma cama, depressiva, como não tivesse mais valor nenhum pra nada. O esporte traz a vida de novo para a gente, me deu forças pra continuar, é onde posso mostrar meu potencial. Com fé em Deus vão ainda ouvir falar muito de mim”, afirma a jogadora.
Foto: Arquivo pessoal
O Brasil possui cerca de 500 mil pessoas amputadas, apontam dados da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação de 2023. Essas amputações têm diversas causas, sendo a mais recorrente sequela de diabetes, seguida por acidentes de trânsito e trabalhista, segundo o IBGE.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), cerca de 85 brasileiros por dia tiveram pés ou pernas amputados na rede pública de saúde entre janeiro de 2012 e maio de 2023.
Com o objetivo de tornar o tema mais acessível e informar a população brasileira, durante todo o mês de abril, a Associação Brasileira de Ortopedia Técnica (ABOTEC) promove a campanha Abril Laranja desde 2020 para a conscientização e prevenção das causas recorrentes de amputações.
Conscientização
Segundo Vinicius Oliveira, fisioterapeuta e integrante da comissão de atenção à pessoa com deficiência do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO), mesmo com avanços, ainda há falta de informação na sociedade acerca dos processos da amputação.
“Nós não notamos no dia a dia um fomento quanto à informação da sociedade. Em conversas com nossos pacientes, eles pouco sabem dos seus direitos perante o processo, por exemplo, de reabilitação do amputado, aquisição de prótese, aquisição de cadeira de rodas, aquisição de cadeira de banho. Então, muitas vezes a informação não consegue ser atingida em alguns públicos. Em outros momentos, essa informação não é gerada pelo pelos órgãos competentes”, apontou.
Vinicius ainda reforça a importância de valorizar a fisioterapia e seus profissionais nesse processo, visto que esta é essencial na recuperação e pode contribuir significativamente para prevenção e diagnóstico.
“A fisioterapia se faz muito importante no quesito amputação, desde a fase pré-amputação daqueles pacientes que tem a amputação seletiva, com a preparação do corpo para aquele tipo de procedimento, quanto também no pós-operatório, tanto imediato quanto tardio”, afirmou.
Saiba mais
Pessoas com qualquer tipo de deficiência encontram apoio material e de adaptação pelo SUS, o Sistema Único de Saúde.
Os interessados em órteses, próteses ou meios auxiliares de locomoção, por exemplo, precisam em primeiro lugar procurar atendimento em uma unidade básica de saúde. Em seguida, esse paciente vai ser encaminhado para um centro especializado em reabilitação.