Amazônia registra 62 atentados contra jornalistas desde a morte de Dom Phillips e Bruno Pereira
Dados foram divulgados nesta segunda-feira (5) pela organização Repórteres Sem Fronteiras
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Desde os assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, ocorrido em junho de 2022, o Observatório de Violações da Liberdade de Imprensa na Amazônia identificou 62 casos de violência contra jornalistas, equipes de reportagem ou meios de comunicação na região. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (5).
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), responsável pelo observatório, mais de metade dos agressores são agentes privados, nomeadamente manifestantes de extrema-direita, membros do crime organizado, trabalhadores de empresas de mineração, de garimpos e setores agroindustriais e turísticos.
Segundo o levantamento, 40 homens, 18 mulheres e quatro equipes foram alvo de violência na região. Em ao menos 13 casos, houve agressão física. Os ataques incluem cinco ameaças de morte, três atentados a sedes de veículos e quatro processos judiciais com decisões arbitrárias contra os profissionais da imprensa.
Morte de Dom e Bruno
O jornalista e o indigenista foram mortos enquanto viajavam para entrevistar líderes indígenas e ribeirinhos em comunidades próximas ao Vale do Javari. Dom preparava um livro sobre a Amazônia, enquanto Bruno – licenciado da Funai desde 2020 – trabalhava como consultor técnico da Univaja.
Suspeito de ser o mandante do crime, o empresário Rubens Villar Pereira obteve habeas corpus da Justiça e está em liberdade provisória desde outubro do ano passado, após pagar uma fiança de R$ 15 mil.
Três pessoas acusadas de participação nas mortes estão presas, à espera de julgamento. Há três semanas, o ex-presidente da Funai, Marcelo Xavier, e o ex-vice presidente Alcir Amaral Teixeira foram indiciados por omissão no caso.
A pesquisa da RSF aponta que o processo judicial é marcado por atrasos. “O jornalismo desempenha um papel essencial na defesa do meio ambiente. Na Amazônia brasileira, os jornalistas locais trabalham em condições de extrema insegurança. Justiça plena deve ser feita no caso de Dom Phillips e Bruno Pereira. A rápida resolução do caso passaria a mensagem clara de que não haverá impunidade para aqueles que continuam explorando ilegalmente os recursos da região, e que os jornalistas podem contar com o apoio da Justiça para informar a sociedade brasileira e o mundo sobre os crimes ambientais cometidos na Amazônia", destaca o diretor do escritório da RSF para a América Latina, Artur Romeu.
A RSF e outras organizações da imprensa divulgaram uma nota conjunta, nesta segunda (5), para falar da insegurança na região. No documento, são feitas várias recomendações consideradas urgentes dirigidas ao Estado brasileiro. Confira:
- Aprovar rapidamente a criação de um mecanismo de monitoramento conjunto entre o Estado, a sociedade civil e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos na Amazônia;
- Garantir de imediato uma proteção efetiva aos jornalistas e defensores dos direitos dos povos indígenas do Vale do Javari;
- Identificar todos os envolvidos no homicídio de Bruno Pereira e Dom Phillips e chamá-los a prestar contas na Justiça;
- Levar em conta o exercício do jornalismo como hipótese prioritária da causa de sua morte – o que, até hoje, não consta nas investigações da Polícia Federal sobre o tema.