• Home/
  • Notícias/
  • Política/
  • Anotações apreendidas com Heleno indicam uso da AGU para barrar investigações da PF
Política

Anotações apreendidas com Heleno indicam uso da AGU para barrar investigações da PF

Objetivo seria impedir que a corporação pudesse "exercer seus deveres constitucionais, no cumprimento de determinações judiciais contra seu grupo político e apoiadores"

Por FolhaPress
Ás

Anotações apreendidas com Heleno indicam uso da AGU para barrar investigações da PF

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Manuscritos do ex-ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, apreendidos pela Polícia Federal indicam que o governo Jair Bolsonaro (PL) avaliou usar a AGU (Advocacia-Geral da União) para impedir operações policiais consideradas pela própria administração como ilegais.

O objetivo, segundo a PF, seria impedir que a corporação pudesse "exercer seus deveres constitucionais, no cumprimento de determinações judiciais contra seu grupo político e apoiadores".

As anotações estavam em um caderno da Caixa encontrado na casa do general durante buscas da PF. O texto dizia que o Ministério da Justiça deveria acionar a AGU antes de cumprir decisões judiciais para conferir a legalidade da ação.

"Se o MJ acionar a AGU caráter de urgência sobre ordem judicial manifestamente ilegal o AGU faz um texto fundamentado na Const Federal afirmando sobre ordem ilegal. Existe um princípio de direito que ordem manifestamente ilegal não se cumpre", diz o texto.

Os manuscritos de Augusto Heleno dizem que o presidente da República teria papel para aprovar as manifestações da AGU. "Quem executar a ordem ilegal comete crime de responsabilidade", escreveu o ex-ministro, destacando em seguida a "prisão em flagrante do delegado que se dispuser a cumprir".

Há diversos trechos no texto que não são muito claros sobre sua relação com o tema. Heleno, por exemplo, escreveu um tópico de que a "autoridade vai se dirigir às FA", provavelmente em referência às Forças Armadas.

As buscas realizadas pela PF ainda encontraram documentos produzidos pelo ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem.

Em possível relação com os manuscritos de Heleno, um documento produzido por Ramagem diz que a corregedoria da PF poderia pedir parecer da AGU em eventuais suspeitas de cumprimento de decisões ilegais.

"Em todos os casos, um parecer técnico-jurídico [da AGU] darão (sic) suporte para apontar violações constitucionais e legais. Os pareceres respaldarão o não atendimento de medidas judiciais por estarem manifestamente contrárias à lei", escreve Ramagem.

De acordo com a Polícia Federal, as anotações de Heleno descrevem uma "comunhão de esforços" no governo Bolsonaro para dar poderes à AGU para definir quais decisões judiciais seriam legais.

"Os elementos de prova não deixam dúvidas de que a organização criminosa estava elaborando estudos para de alguma forma tentar coagir integrantes dos sistema de persecução penal para que as investigações contra seus integrantes fossem cessadas", diz a PF.

Em outra página, o ex-ministro destaca pontos relacionados à segurança institucional. Entre os oito pontos listados, Heleno dá destaque a "limiar do rompimento" e "jogar nas quatro linhas".
Augusto Heleno também escreve no caderno outras diretrizes estratégicas que seriam repassadas a Bolsonaro sobre como se comportar em meio aos ataques às urnas eletrônicas.

Ele diz para se fazer um "levantamento das áreas onde o Pres possui aliados confiáveis". Orienta a "não fazer qualquer referência a homossexuais, negros, maricas, etc" e "evitar comentários desairosos e generalistas sobre o povo brasileiro".

"Estabelecer um discurso sobre urnas eletrônicas e votações. É válido continuar a criticar a urna eletrônica."

Augusto Heleno e Ramagem foram indicados pela Polícia Federal pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, cujas penas somam de 12 a 28 anos de prisão, desconsiderando os agravantes.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:[email protected]

Faça seu comentário