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Apenas 6% dos professores acusados de assédio sexual foram demitidos nos últimos 10 anos, diz levantamento

Estudantes registraram mais de 250 denúncias no período contra professores de instituições federais

Por Da Redação
Ás

Apenas 6% dos professores acusados de assédio sexual foram demitidos nos últimos 10 anos, diz levantamento

Foto: Studio Formatura/Galois

Um levantamento inédito sobre o quadro de denúncias de assédio sexual contra professores nas universidades federais brasileiras foi realizado pela CNN, com dados obtidos  por meio da Lei de Acesso à Informação, indicam que apenas 6% dos processos resultaram em demissões dos docentes acusados desse tipo de conduta. 

O número de denúncias provavelmente é subdimensionado, segundo especialistas ouvidos pela CNN, já que muitos estudantes, sobretudo mulheres, evitam apresentar as denúncias formalmente.

Em um documento, o qual a reportagem teve acesso, uma estudante da Universidade Federal de Roraima (UFRR) relatou um episódio em que aceitou a carona de um docente e que ele pegou um caminho diferente do usual. “O professor parou o carro em um local meio escuro e tentou beijá-la. A depoente [a estudante] não permitiu o beijo e disse que não queria beijá-lo. O professor insistiu, alegando que eram solteiros e não tinha problema nenhum. Depois de alguma insistência, a depoente disse que se o professor não parasse de insistir, desceria do carro. O professor disse que não precisava que a depoente descesse e a levou para a residência universitária. Ao chegar na residência universitária, o professor novamente tentou beijar a depoente e ela tornou a rejeitar”, mostra o depoimento de Maria* à universidade.

Diversas outras alunas também relataram práticas incômodas do professor. Uma delas afirmou que  o docente “dizia que conquistaria a mulher que quisesse, que tinha bom papo e as mulheres que se envolviam com ele queriam se casar”. Ao fim do processo, o docente foi demitido.

A punição do professor, no entanto, é uma raridade no âmbito das universidades federais brasileiras. Na Universidade Federal de Cariri (UFCA), em Juazeiro do Norte (CE), o caso da estudante Amanda* confirmou a regra. A aluna relatou ter sido assediada sexualmente quando um professor teria lhe dado um tapa nos glúteos, em 2017.

Amanda* ainda disse que ouviu do professor que teria que “tomar cuidado com as roupas para não parecer somente uma bunda”. Outra aluna, Elis* disse que teve contato com o docente por volta de 2013. Posteriormente, relatou que o professor “perguntou porque ela teria tantos pelos no corpo e que ele gostaria de saber se ela era homem ou mulher, externando que gostaria que ela tirasse a roupa para o acusado [o professor] constatar”.

As acusações apresentadas por diversas alunas se somaram a depoimentos de outras testemunhas que, em contrapartida, disseram que o professor era um exemplo de profissional, uma pessoa “alegre”, que “gosta de brincar” e que ele dava “tratamento igual a todos os alunos”.

O acusado negou no processo que tenha passado a mão no corpo de alunas e chegou a alegar que uma das denunciantes tinha “algum tipo de desequilíbrio emocional, pois depois que ela o acusou dessa conduta, pediu ao depoente [professor] um abraço em público no pátio da universidade”, ato que a própria aluna confirma ter existido.

Ao fim do processo, diante da ausência de outras provas além do testemunho das vítimas, a Universidade Federal de Cariri decidiu arquivar o processo, em maio de 2019.

No levantamento, foram registradas 279 denúncias de assédio sexual de professores contra estudantes nos últimos 10 anos. Cerca de 20% delas resultaram em punições aos docentes, mas apenas 6% em demissões dos acusados. Mais de 100 casos foram arquivados pelas universidades nesse período.


 

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