Após 39 anos, aviação do Exército ganha primeira piloto de combate mulher
Tenente Emily Braz, 24, recebeu brevê nesta sexta (11) e quer pilotar na selva; Força busca expandir participação feminina

Foto: Reprodução/TV Globo
Quando completar 25 anos, neste domingo (13), Emily de Souza Braz, uma jovem pequena de olhos enormes nascida na fronteira com o Uruguai, terá um motivo extra para comemorar. Ela acaba de se tornar a primeira mulher piloto de helicóptero do Exército brasileiro. A primeira e, por ora, a única em 39 anos de Aviação do Exército na atual configuração.
A tenente Emily não pensava em se tornar piloto ao ingressar na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), pela qual se formou em 2021, na primeira turma de oficiais combatentes a incluir mulheres.
Filha de um sargento, criada em Sant'Ana do Livramento (RS), ela se encantou com a tecnologia da Aviação e teve o interesse aguçado em uma missão de suprimentos em 2020, quando um piloto, brincando, deixou com ela um distintivo e pediu que entregasse de volta quando estivesse em Taubaté (SP), onde fica o Centro de Instrução de Aviação do Exército.
"Antes de eu entrar na Aman eu nem sabia que existia aviação no Exército", diz.
Tampouco o pioneirismo solitário estava nos planos. A tenente Andrielly Mostavenco, sua amiga da mesma turma e gerente de material bélico, estaria com ela, mas morreu em um acidente rodoviário no ano passado. Aos nomes das duas o Exército pretende que se juntem em breve outras mais.
"A gente já mudou o segmento feminino de 8% para 12% do nosso efetivo", declarou o general Tomás Paiva, comandante do Exército, que participou da solenidade de formatura nesta sexta (11) em Taubaté (SP). Com Emily se formaram outros 13 pilotos de combate.
"Daqui a pouco teremos uma tripulação só do segmento feminino", afirmou, lembrando que já há mecânicas na Aviação e que no próximo ano o Exército passará a ter voluntárias no serviço militar, o que considera um marco histórico, juntamente com a brevetação da piloto. "Já vi outras [militares mulheres] rondando em volta dela, seguramente ela não vai ser a única."
Emily diz que a formação é a mesma para homens e mulheres, e que a turma a recebeu muito bem. "Fomos muito unidos." O treinamento, que dura 63 semanas, prevê 1.400 horas de voo nos aparelhos do Exército, além de mais de 400 em simuladores. As aeronaves que a tenente pilotará custam em média 50 milhões de euros, segundo a Força.
Mas o que ela quer mesmo é ir para a selva pilotar. "Eu pretendo cumprir missões diferentes, para ganhar experiência, me especializar cada vez mais, pretendo ir para a selva, servir lá também como piloto", diz. O marido, também piloto do Exército, vai junto (engana-se quem pensa que eles se conheceram na Aman —foram apresentados pela sogra e a madrinha dela, que eram amigas).
Questionada se aspira ao generalato, ela hesita. "Quero que isso seja consequência do meu trabalho, não uma prioridade."
A entrada de Emily nas forças de combate se dá em um momento em que o Exército brasileiro busca expandir a participação feminina.
A visão de que mulheres possam participar de combates, no entanto, não é consumada. Para as voluntárias alistadas para 2026 —são 1.000 vagas— a expectativa é que sigam sobretudo em postos na Saúde e nos colégios militares.
Nos Estados Unidos, visto como modelo de Forças Armadas, a participação de mulheres tem sido coibida sob a presidência de Donald Trump. O republicano demitiu boa parte das oficiais mulheres em cargos de comando, e seu secretário da Defesa, Pete Hegseth, já declarou ser contra mulheres em posições de combate.
Emily, por sua vez, não vê obstáculo nesse sentido. "Recomendo [às colegas que estão vindo] que não desistam, que se dediquem. Nós somos competentes e temos capacidade."