Artistas e ativistas defendem que o hip hop se torne patrimônio imaterial
Artistas e mobilizadores da ONG "Jovens de Expressão" compõem o 1° Seminário Internacional Construção Nacional Hip-Hop, em Brasília
Foto: Reprodução/WisonDias/AgênciaBrasil
O 1° Seminário Internacional Construção Nacional Hip-Hop está sendo sediado em Brasília até este sábado (30), onde ativistas e artistas se reuniram e iniciaram uma campanha para que o hip hop se torne um patrimônio imaterial do Brasil. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, esteve presente no evento e defendeu a avaliação da iniciativa pelo Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional (Iphan).
O evento está contando com a presença de artistas e mobilizadores da ONG "Jovens de Expressão" como Nenzin MC (nome artístico do rapper Jonathan Williano); Claudia Maciel, que integra o comitê gestor de juventude negra e facilitadora da construção nacional do hip hop; Antônio de Pádua Oliveira, diretor da Jovens de Expressão e o produtor audiovisual Ricardo Soares.
Nenzin, hoje com 29 anos, começou a criar aos 15 anos de idade e ouviu, mesmo dentro de casa, o receio da arte não garantir os caminhos profissionais. O cantor explica sua trajetória nos versos da música 'O tempo'. Atualmente, além de compor, ele faz "batalhas de rap" que garante pelo menos 50 empregos diretos e 150 indiretos na Ceilância, a maior cidade do Distrito Federal.
Ele virou músico após ingressar em uma ONG chamada Jovem de Expressão, que oferece vagas para pessoas da periferia em cursos para empoderamento da juventude periférica.
Claudia Maciel, a diretora da ONG na Ceilândia, explicou que há um inventário com mais de duas mil páginas para que o movimento cultural se torne patrimônio. “A nossa cultura é vilipendiada. A gente busca o direito de exercer a nossa cultura nas ruas”. Ela também lamentou que os artistas ainda são vítimas do racismo.
“Esse seminário é fruto de um pacote robusto de entregas do Ministério da Cultura para nós”, afirmou. Claudia Maciel acrescentou que uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a ser divulgada neste sábado, deve mostrar que a maioria dos artistas do hip hop no Brasil são homens negros.
Antônio de Pádua Oliveira, de 45 anos, avaliou que o hip hop é um dos movimentos que têm mais entrada nas periferias. “A cultura se transforma em um vetor de transformação social. A gente entende que pode gerar renda para o jovem de periferia, o que inclui não só música, mas também moda, literatura, dança, produção audiovisual…”.
Ricardo Azevedo, de 31 anos, conhecido também pelo apelido de Palito pela comunidade, chegou a ONG para dar aulas de basquete. “Logo em seguida eu entrei na oficina de audiovisual. É uma área muito cara e muito inacessível para mim na época. O curso foi de graça”. Depois que aprendeu a filmar, passou a registrar a comunidade e entrar no mercado de trabalho.
Um filme do produtor, com o título Faz seu Corre, de 23 minutos, foi selecionado para a Mostra do Festival de Cinema de Brasília. “Conta justamente a realidade dos jovens de periferia que passam por dificuldades. Jovens que, às vezes, não têm muita oportunidade e acabam encontrando na arte uma oportunidade de ganhar a vida”.